A reciclagem de materiais no Brasil é uma realidade há muitos anos, mesmo em meio aos desafios inerentes aos processos envolvidos, necessidade de investimentos e as dimensões continentais do País. Em agosto de 2010 foi publicada a Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS, que reuniu diversos setores e produtos que já possuíam alguma obrigatoriedade de logística reversa pós-consumo e foram colocados sobre as mesmas diretrizes em âmbito nacional. 
A PNRS é considerada por especialistas como uma das mais avançadas legislações no mundo sobre o tema, trazendo entre as novidades, a responsabilidade compartilhada entre fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes e consumidores para a implantação e participação nos sistemas, visando aproveitar o máximo possível dos produtos após o término da vida útil, evitar ou reduzir a destinação de materiais para aterros sanitários, além de acabar com os indesejados lixões, um grande problema ambiental, social e de saúde pública. 
Entre os produtos alvo da logística reversa obrigatória, a PNRS cita pneus, embalagens, pilhas e baterias, óleo lubrificante, entre outros, mas não inclui os filtros do óleo lubrificante automotivo.
Curiosamente, a logística para o setor foi estabelecida meses antes da PNRS, quando a Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo publicou a Resolução SMA 024/2010 em março de 2010, que incluiu os filtros do óleo lubrificante automotivo entre os produtos alvo de reciclagem.
Para atender a legislação e representada pelo presidente João Moura, a Abrafiltros – Associação Brasileira das Empresas Filtros Automotivos, Industriais e para Estações de Tratamento de Água, Efluentes e Reúso - depois de muitas reuniões, consultas, pesquisas e contatos com a própria Secretaria do Meio Ambiente, CETESB e entidades como a FIESP – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo - pois o tema era uma novidade na área e não havia iniciativa similar no País - criou há 13 anos o programa Descarte Consciente Abrafiltros, que se constitui numa importante realização e case de sucesso na história da entidade. 

50 milhões de filtros reciclados
Referência de ação ambiental no Brasil e no exterior, o programa chegará a mais de 50 milhões de filtros do óleo lubrificante automotivo reciclados com o resultado as coletas realizadas em agosto nos quatro estados onde está implantado, uma vez que até as coletas de julho, o número estava em 49,9 milhões. O valor exato será conhecido na primeira quinzena de setembro, quando será divulgado oficialmente no hotsite do programa: www.abrafiltros.org.br/descarteconsciente. 

Ultrapassar os 50 milhões de filtros reciclados é um marco expressivo para o programa, reconhecido por órgãos públicos e no setor pela eficiência e relevância, por reunir fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de filtros automotivos em um mesmo projeto que apresenta a melhor relação custo-benefício frente a ações individuais, uma iniciativa de grupo na qual a Abrafiltros atua como entidade gestora e cuida de todo o processo desde as negociações governamentais, questões administrativas, estudos de metas por estado, controle das coletas mensais, emissão de relatórios físicos e nas plataformas digitais estaduais como o SIGOR em São Paulo, gestão dos Termos de Compromisso estaduais, contratos com as empresas coletoras e associados, entre outros aspectos operacionais e logísticos.
Todas as empresas participantes estão sujeitas às mesmas regras por questão de isonomia, devendo apenas arcar com os custos do programa e fornecer as informações necessárias solicitadas pela Abrafiltros, como dados cadastrais e o volume de filtros do óleo lubrificante automotivo comercializados por Estado anualmente.
O programa Descarte Consciente Abrafiltros já foi apresentado internacionalmente no stand da Abrafiltros na Filtech, na Alemanha, uma das maiores feiras do setor no mundo - e os próprios representantes internacionais das empresas associadas reconhecem os méritos da iniciativa, relatando não haver sistema similar em escala e abrangência nos seus próprios países.
Para ter uma ideia do que o volume de 50 milhões representa, segundo dados do Relatório da Frota Circulante 2025 do Sindipeças - Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores, considerando apenas os autoveículos (automóveis, comerciais leves caminhões e ônibus), a frota circulante somou 48,1 milhões.
A quantidade fica um pouco abaixo dos filtros reciclados pelo programa, um feito significativo para um produto de baixo valor agregado, com processo de logística reversa de alta complexidade e custo elevado, o que demonstra que o empenho da Abrafiltros e associados tem sido fundamentais para a composição dos resultados, ao transformar um cenário inicial desafiador num case de sucesso.

Evolução
O primeiro estado a ter o programa implantado foi São Paulo em julho de 2012, num início bem-sucedido para a associação viabilizado por meio de um projeto-piloto que proporcionou conhecimento logístico, visibilidade e condições para que, em fevereiro de 2013, o programa fosse estabelecido no Paraná com as mesmas premissas. 
Na sequência vieram o Espírito Santo em julho de 2015 e o Mato Grosso do Sul em outubro de 2020, possibilitando que os associados atendessem as legislações ambientais estaduais.
“Esse resultado expressivo demonstra desde o projeto-piloto em São Paulo, o engajamento dos fabricantes de filtros, da associação, dos operadores logísticos, bem como dos órgãos estaduais, que foram receptivos a um programa inovador que, apesar da complexidade, tem conseguido cumprir e até superar as metas anuais estipuladas”, afirma João Moura, presidente executivo da Abrafiltros, acrescentando: “A logística reversa é um caminho sem volta e outros estados devem implantar programa, como o Mato Grosso, onde a Abrafiltros já se reúne com a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e participa da revisão do Decreto Nº1.455/2025, que irá balizar o tema no Estado” .

Referência no Mato Grosso do Sul - “O Descarte Consciente Abrafiltros é um marco dentro da política de logística reversa de Mato Grosso do Sul. Desde que firmamos o Termo de Compromisso em 2020, o estado tem acompanhado de perto a evolução do programa, que representa não apenas uma solução ambientalmente adequada para o descarte de filtros do óleo lubrificante automotivo, mas também uma referência nacional em articulação entre o setor público, a iniciativa privada e a sociedade. A meta de alcançar todos os 79 municípios até 2027 mostra o compromisso com a universalização da política ambiental, mesmo diante dos desafios logísticos de um estado com ampla extensão territorial”, afirma Jaime Verruck, Secretário de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc). 
O programa se destaca por ter sido o primeiro sistema de logística reversa implantado no estado, e para atender à solicitação do governo, a Abrafiltros mostrou em reunião com o Secretário Verruck em 2017, a necessidade da inclusão formal dos filtros do óleo lubrificante automotivo na legislação, que foi atendida e estabelecida na Resolução SEMAGRO nº 643/2017.
Segundo o Secretário, Mato Grosso do Sul tem sido protagonista na consolidação da logística reversa no País. “Antes mesmo das normativas federais, já havíamos regulamentado o tema por meio de resoluções específicas, como a SEMADE nº 33/2016 e a SEMAGRO nº 643/2017”, comenta. Esse pioneirismo legal criou as condições para a implantação de programas como o da Abrafiltros e também para o avanço de outras frentes, como os sistemas de logística reversa para baterias de chumbo-ácido, embalagens plásticas usadas de óleo lubrificante, lâmpadas fluorescentes, pilhas, pneus e embalagens em geral. Em muitos desses segmentos, o estado já conta com acordos setoriais ou Termos de Compromisso que vêm sendo cumpridos com resultados mensuráveis.
Ele explica que essas ações se inserem em uma política ambiental integrada que tem como pilares a economia circular, a responsabilidade compartilhada e a inovação. A atuação do Imasul, como órgão executor da política ambiental, tem sido fundamental para garantir o cumprimento das metas pactuadas, ao lado da articulação promovida pela Semadesc com os diferentes setores envolvidos. “O que temos hoje em Mato Grosso do Sul é um ambiente regulatório moderno, eficiente e transparente, que estimula o engajamento empresarial e proporciona segurança jurídica para o avanço das políticas públicas ambientais”, diz.

Para o Secretário, a experiência do programa Descarte Consciente Abrafiltros reforça que é possível transformar a gestão de resíduos perigosos em uma agenda positiva de desenvolvimento sustentável. “Seguiremos avançando nessa direção, fortalecendo os instrumentos legais, monitorando os resultados e, principalmente, estimulando novos compromissos com vistas a consolidar Mato Grosso do Sul como referência nacional em gestão ambiental e logística reversa.”
Paraná avança consolidando programas de logística reversa – No Paraná, a logística reversa é uma política pública consolidada, construída ao longo dos anos com base em regulamentações estaduais robustas, como a Lei nº?20.607/2021 e as Resoluções Conjuntas SEDEST/IAT nº?20 e nº?22/2021, que estabeleceram diretrizes para a elaboração dos Planos de Logística Reversa e dos Relatórios Comprobatórios de Implantação. “Com o apoio técnico da Secretaria do Desenvolvimento Sustentável e do Instituto Água e Terra, o Paraná avança na consolidação da logística reversa como instrumento estratégico para a economia circular, a preservação ambiental e a promoção da qualidade de vida da nossa gente”, afirma  Rafael Greca, Secretário de Estado do Desenvolvimento Sustentável.

Atualmente, o estado conta com 33 planos aprovados, que operam sistemas voltados à destinação ambientalmente adequada de filtros do óleo lubrificante automotivo, embalagens de agrotóxicos, pilhas e baterias, eletroeletrônicos, lâmpadas fluorescentes, pneus inservíveis, entre outros resíduos pós-consumo.
Segundo o Secretário, essas iniciativas seguem em consonância com a Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei nº?12.305/2010) e fortalecem o princípio da responsabilidade compartilhada entre o poder público, o setor produtivo e a sociedade.
Trajetória de sucesso - Desde a fundação em 26 de junho de 2006, a Abrafiltros teve uma postura voltada para a sustentabilidade e as questões ambientais, o que contribuiu para criar um movimento favorável junto aos associados, para buscar formas de realizar a logística reversa.
“Em continuidade à boa receptividade das ações do presidente João Moura e associados junto aos órgãos ambientais do estado de São Paulo para entender os preceitos da logística reversa, desenvolvemos e propusemos em reunião com João Luiz Potenza, que atuava na Secretaria do Meio Ambiente na aprovação das propostas, um projeto-piloto que atendia os requisitos iniciais estabelecidos na legislação”, comenta Marco Antônio Simon, gestor do Descarte Consciente Abrafiltros.
Diante do ineditismo de iniciativas similares para o setor e a boa vontade demonstrada pela associação, o projeto-piloto foi aprovado e o programa tem cumprido ano após ano, as metas com o apoio dos associados, dos órgãos governamentais e do grupo Supply Service, empresa que coleta e trata os resíduos.
“Essa união de esforços possibilitou resultados cada vez mais expressivos, como agora a celebração dos 50 milhões de filtros reciclados. O crescimento do programa tem sido exponencial, e o apoio das empresas e órgãos governamentais, as chaves para vencer os obstáculos e que irão propiciar alcançar resultados positivos também nas futuras implantações”, complementa o presidente Moura. 

Operação logística
A coleta, processamento e destinação adequada aos resíduos é feita por empresas do Grupo Supply Service, com 33 anos de experiência no tratamento 
de resíduos oleosos. A Supply Service, matriz em Tapiraí/SP, atende os estados de São Paulo e Espírito Santo; a Geoquímica em São José dos Pinhais/PR, o Paraná; e a EcoSupply em Campo Grande/MS, o Mato Grosso do Sul, com atuação em outros estados e segmentos da logística reversa.
As empresas seguem rigorosamente as legislações ambientais e metas estabelecidas em sinergia com a gestão do programa, mesmo em situações que demandam ajustes, o que contribui para os bons resultados obtidos ao longo dos anos.
David Siqueira de Andrade, diretor-presidente do Grupo Supply Service, lembra que foi o saudoso Helmut Zschieschang (sócio honorário da Abrafiltros – in memorian), na época vice-presidente do Setor Industrial da associação, que fez a aproximação inicial, uma vez que a Supply Service já fazia a coleta e dava a destinação correta dos filtros industriais na empresa presidida por ele e havia dificuldade na identificação de parceiros para operacionalizar a logística reversa. 

“Após a aprovação da Diretoria, Moura contratou uma consultoria no exterior que nos assessorou para que pudéssemos buscar iniciativas similares para referência. Visitamos entidades, fabricantes de filtros, pontos de geração e troca de filtros em vários estados norte-americanos, mas não havia grande preocupação com a destinação, cada um fazia de forma independente, assim como na Bélgica também não tinha nada muito organizado”, afirma. 
Todas as informações foram reunidas com a experiência do Brasil com frascos, óleo usado e outros exemplos, para o início da elaboração e estruturação da operação logística dos filtros usados do óleo lubrificante automotivo. “O programa saiu por meio de várias mãos com todas as partes envolvidas, e isto fez com que desde o início, cumprisse as metas, obrigações e servisse de exemplo em diversos estados e até para entidades de outros países”, destaca Andrade.

Critérios para prestação de serviços - A Abrafiltros ressalta que em que pese o excelente trabalho realizado pela Supply Service, não há exclusividade para a prestação de serviços frente a novas legislações. “Sempre que há a implantação do programa em novos estados, publicamos um Edital de Concorrência com os requisitos e documentos necessários para atuar na operação logística, especialmente que demostrem que a empresa possui estrutura e está homologada para o transporte e tratamento de Resíduos Perigosos Classe I, conhecimento e maquinários adequados para o tratamento dos filtros do óleo lubrificante automotivo, e possa atender as metas de volume e abrangência geográfica estabelecidas pelos órgãos governamentais”, explica Simon. 
 

“É um trabalho de grande responsabilidade e que envolve o compromisso ambiental da Abrafiltros e das empresas associadas nacionais e internacionais de diferentes portes. Por isso, as exigências necessitam ser criteriosas para que haja condições de atender os requisitos iniciais e as futuras expansões das metas acordadas com as Secretarias de Meio Ambiente e autarquias nos Termos de Compromisso”, ressalta o gestor.
Além da publicação no site da Abrafiltros, o Edital é divulgado para todo o Brasil via assessoria de imprensa e a própria associação envia a documentação para empresas de tratamento de resíduos.
O processo de concorrência e seleção segue procedimento específico da associação e é analisado por uma comissão mista entre integrantes da Diretoria, associados e o escritório jurídico, sendo incentivada a participação dos associados e das próprias empresas participantes na concorrência para acompanhamento da abertura dos envelopes com as propostas recebidas. 
Desafios para expansão - Como a logística reversa no setor é complexa e de custo elevado, há poucas empresas no Brasil capacitadas para a realização do trabalho em larga escala, o que inclusive foi diagnosticado no Estudo de Viabilidade Técnica e Econômica realizado pela associação por meio de consultoria especializada, o que pode resultar em empecilhos para futuras implantações, a depender da localização geográfica. 
“Diante dessa situação e atendendo a própria solicitação dos associados, estamos iniciando tratativas para dentro do possível, identificar ou desenvolver empresas que possam atuar em outras regiões do País, até em função de novas legislações estaduais que certamente virão, além de buscar diminuir as próprias dificuldades estruturais da logística reversa em âmbito nacional no segmento”, comenta Moura.
Necessidade de legislação e Termo de Compromisso - Segundo Simon, para que a Abrafiltros possa mobilizar o setor e realizar novas implantações do programa, há a necessidade inicial da publicação de uma legislação estadual que determine a logística reversa - Edital de Chamamento, Resolução etc., seguida por uma Regulamentação com as regras para apresentação do Plano de Logística Reversa pela entidade gestora. 

“Pela complexidade dos estudos e ações envolvidas, são necessários no mínimo, seis meses para o desenvolvimento do Plano de Logística Reversa, prazo que tem sido estabelecido pelos órgãos ambientais, podendo ser até maior conforme a complexidade e infraestrutura da região, existência de operador logístico habilitado, sempre considerando a viabilidade técnica e econômica da operação segundo a Política Nacional de Resíduos Sólidos”, detalha Simon.
Após a aprovação do Plano de Logística Reversa pelos órgãos ambientais, tem início a elaboração e a assinatura do Termo de Compromisso, instrumento tripartite firmado pelo estado, a autarquia local e a Abrafiltros que, além de entidade gestora, representa os associados aderentes. 
“O Termo de Compromisso é instrumento legal previsto na Política Nacional de Resíduos Sólidos e norteia a responsabilidade, direitos e deveres das partes envolvidas. Normalmente abrange quatro anos e especifica as metas anuais que obrigatoriamente devem ser gradativas - municípios abrangidos, pontos de coleta e o percentual a ser coletado, sempre com base no volume em peso dos filtros comercializados pelos associados no estado no ano anterior, que participam dos contratos de coleta e Termos de Compromisso por meio de Termo de Adesão”, explica o gestor. 
As exigências nos Termos de Compromisso têm crescido a cada ano, assim como a necessidade da definição e execução de um Plano de Comunicação que possibilite a divulgação estruturada do programa para os diferentes públicos que se relacionam com o setor. 
“Além do hotsite específico, realizamos a divulgação das atividades do programa em níveis regionais, nacional e internacional pela divulgação de notícias segmentadas periódicas pela Verso Assessoria de Imprensa, elaboração de anúncios e outras peças de comunicação impressas e digitais produzidas pela agência L3PPM, ações em parceria com a Revista e Portal Meio Filtrante, única especializada no setor no País, além da participação em diversos eventos nacionais e internacionais presenciais ou virtuais, com palestras sobre o programa ou na forma de apoio institucional”, explica Adriano Bonazio, gerente de Comunicação & Marketing da Abrafiltros. 
“Também desenvolvemos programas especiais no formato videocast como o AbraTalks, além de marcar presença nas redes sociais como YouTube, Facebook, Linkedin e Spotify”.

Cálculo de metas - Os associados devem reportar o volume em peso e a quantidade de filtros comercializados em cada estado anualmente em sistema próprio da Abrafiltros, considerando os filtros importados independente da marca - e nacionais com marcas próprias, para veículos novos e o mercado de reposição. 
“O sistema garante o sigilo das informações e uma empresa não tem acesso aos dados dos demais associados, sendo o total apurado utilizado para o cálculo dos volumes de coleta conforme a meta percentual anual”, esclarece Simon. “E cada novo associado deve cumprir com as mesmas regras e metas vigentes, além de participar obrigatoriamente em todos os estados nos quais o programa está implantado e comercializa filtros, por questão de isonomia e atendimento às legislações”. 
Fatores legais que contribuíram para o sucesso – Simon lembra que em outubro de 2018, a Decisão de Diretoria CETESB SP 076/2018/C foi um acontecimento importante para o programa, pois incorporou a comprovação da logística reversa como requisito obrigatório para a concessão ou renovação da licença de operação: “A partir daí, houve uma adesão expressiva de empresas ao programa e a ampliação da fiscalização governamental”, diz.
Outro avanço foi o Decreto Federal Nº 9.177/2017, que criou regra de equiparação para que fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de produtos objetos de logística reversa, não signatários de Acordos Setoriais ou Termos de Compromisso firmados com a União, sejam obrigados a estruturar e implementar sistemas de logística reversa com as mesmas metas e obrigações. 
Reciclagem 100% – Simon explica que, após o uso, quando contaminado com o óleo lubrificante usado contaminado (OLUC), o filtro passa a ser considerado Resíduo Perigoso Classe I, conforme a Norma ABNT – NBR 10.004. Por isso, deve ser acondicionado de forma específica no ponto de coleta, transportado em caminhões estanques, além de diversos cuidados durante a coleta, processamento e tratamento. “A reciclagem é realizada 100% e não há destinação para aterros. Os resíduos têm baixo valor agregado e não há retorno direto para a cadeia produtiva de filtros automotivos, com os custos arcados pelas empresas participantes”, ressalta.
No processo, os resíduos passam por triagem para checar se não há produtos não relacionados com os filtros, como embalagens, estopas e plásticos, por exemplo. 
Em seguida, os filtros usados vão para triturador desenvolvido especificamente para o trabalho. Neste mesmo circuito, há a separação dos materiais e cada um segue para a destinação ambientalmente adequada: os metais que representam 23% dos resíduos, para siderúrgicas, gerando novas chapas; os elementos filtrantes e vedações – a maior parcela, 75% - para coprocessamento em cimenteiras, com geração de energia térmica e como combustível nas caldeiras, sendo as cinzas utilizadas na fabricação do cimento; e o OLUC, a menor fração, 2% do peso total - para rerrefino, processo realizado pela Supply Service como rerrefinadora habilitada pela ANP - Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, sendo depurado e utilizado como base para óleos novos.

Números expressivos e sistema de coleta - Atualmente, 39 caminhões de pequeno, médio e até grande porte atendem o programa Descarte Consciente Abrafiltros, que percorrem 150 mil km por mês nos 6.112 pontos de coleta atendidos em 446 cidades, nos quatro estados. Dos 85 colaboradores do Grupo Supply Service envolvidos na operação, 40 são motoristas, 30 atuam na triagem e tratamento dos resíduos e o restante no administrativo. 
Por mês são coletadas mais de 238 toneladas de produtos usados, que representam mais de 653 mil filtros por mês, considerando o peso médio estimado de 0,365 kg por filtro. A coleta é feita diretamente em geradores previamente cadastrados como Pontos de Coleta – postos de combustível, redes de troca de óleo, concessionárias de veículos e oficinas mecânicas -, não havendo a existência de PEVs – Postos de Entrega Voluntária, uma vez que o consumidor brasileiro não tem o hábito, majoritariamente, de realizar a substituição dos filtros usados em domicílio.
Para não afetar o sistema logístico, não é permitido que outros geradores descartem filtros usados nos Pontos de Coleta, que são dimensionados conforme as metas ambientais, periodicidade das coletas e os volumes de resíduos normalmente gerados pelos próprios estabelecimentos comerciais.
Os Pontos de Coleta são facilmente identificáveis pelo uso em destaque do logo do programa nos kits de coleta – tambores, big bags ou contêiners – nos quais os geradores armazenam os filtros usados, segundo as normas técnicas aplicáveis ao armazenamento de Resíduos Perigosos Classe I.

Participação de empresas – Atualmente, 39 organizações participam do programa Descarte Consciente Abrafiltros, contabilizando 68 CNPJs entre matrizes e filiais das seguintes empresas: AGCO do Brasil Soluções Agrícolas Ltda., Agritech Lavrale Ind. de Maquinário Agrícola e Componentes Ltda., CAOA Chery Automóveis Ltda., Caterpillar Brasil Comércio de Máquinas e Peças Ltda., Caterpillar Brasil Ltda., CNH Industrial Brasil Ltda, Cummins Filtros Ltda., DAF Caminhões Brasil Indústria Ltda., Donaldson do Brasil Equipamentos Industriais Ltda., Dynapac do Brasil Indústria e Comércio de Máquinas Ltda., EAGLE do Brasil Ltda. - (Fram), Filtros Brasil Indústria e Comércio Ltda., Ford Motor Company Brasil Ltda., FPT Industrial Brasil Ltda., General Motors Do Brasil Ltda., Great Wall Motor Brasil Ltda., Hengst Indústria De Filtros Ltda, Hyundai Motor Brasil Montadora de Automóveis Ltda., John Deere Brasil Ltda., Kawasaki Motores Brasil Ltda., Magneti Marelli Cofap Fabricadora De Peças Ltda., Mahle Metal Leve S/A., Mann+Hummel Brasil Ltda., Mercedes-Benz Cars & Vans Brasil Ltda., Mercedes-Benz Do Brasil Ltda., MWM Tupy do Brasil Ltda., ON-Highway Brasil Ltda., Parker Hannifin Indústria E Comércio Ltda., Phinia Delphi Brasil Ltda., Renault do Brasil Comércio e Participações Ltda., Renault do Brasil S/A., Robert Bosch Ltda., Scania Latin América Ltda., Sofape Fabricante de Filtros S/A – Tecfil, UFI Filters do Brasil Indústria e Comércio de Filtros Ltda., Volkswagen do Brasil Indústria de Veículos Automotores Ltda., Volvo do Brasil Veículos Ltda., Wega Motors – R. Neto Do Brasil Peças Automotivas Ltda. e Yamaha Motor do Brasil Ltda.
Para participar do Descarte Consciente Abrafiltros, a empresa necessita inicialmente realizar a filiação à associação, para depois passar pelo processo de adesão ao programa, com as assinaturas dos Termos de Adesão aos Contratos de Coleta e Termos de Compromisso.
No caso dos comerciantes, representados pelos postos de combustíveis, redes de troca do óleo, oficinas mecânicas e concessionárias de veículos que atendem a população – a inclusão ocorre conforme a viabilidade logística e econômica do programa prevista na Política Nacional de Resíduos Sólidos e nos Termos de Compromisso estaduais, considerando também, a adesão de empresas detentoras de marcas próprias e a evolução das metas ambientais.
Mais informações sobre o programa Descarte Consciente Abrafiltros podem ser encontradas no hotsite: www.abrafiltros.org.br/descarteconsciente