Tendências para o setor de mobilidade em 2026
XCOM Agência de Comunicação SIG -
Mais do que uma soma de tecnologias, estamos diante de uma mudança estrutural na forma como energia e transporte se relacionam
O Brasil vive um ponto de virada na mobilidade sustentável. Os números recentes mostram que a eletromobilidade deixou de ser promessa para se consolidar como uma realidade em rápida expansão. Em 2024, por exemplo, o país registrou cerca de 177.358 veículos eletrificados leves vendidos, um crescimento expressivo de 89% em relação ao ano anterior.
Neste ano, esse ritmo não apenas se manteve como ganhou um novo impulso. Segundo a Associação Brasileira de Veículos Elétricos (ABVE), em junho, especificamente, foram 15.525 unidades de carros elétricos comercializados, totalizando 86.849 unidades apenas no primeiro semestre de 2025, registrando um crescimento de 9,5% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Esse crescimento da frota, aliado ao fato de o Brasil possuir uma das matrizes elétricas mais renováveis do mundo, cria as condições perfeitas para a próxima onda de inovação em transporte, marcada pela convergência entre inteligência artificial, energia solar e mobilidade elétrica. A partir de 2026, essa integração deve redefinir não só como nos deslocamos, mas também como planejamos e consumimos energia. A lógica operacional da mobilidade deixa de ser reativa e passa a ser preditiva, ancorada em dados e em geração renovável disponível em tempo real.
Com a evolução das tecnologias digitais, será possível utilizar algoritmos capazes de prever a radiação solar por hora e por região, permitindo programar recargas nos momentos de maior geração. Os benefícios são amplos: redução de custos, aumento da previsibilidade operacional, menor pegada de carbono e maior eficiência no uso dos recursos energéticos. Isso também inaugura uma nova fronteira de modelos de negócio, em que operadores de energia solar passam a atuar como agentes do ecossistema de mobilidade, conectando geração distribuída à demanda crescente por recarga.
Além disso, a inteligência artificial tende a ir muito além da gestão da recarga. Sistemas avançados poderão combinar dados de topografia, trânsito, temperatura, perfil de uso, autonomia e até padrões de consumo para recomendar rotas que não priorizem apenas um menor tempo ou distância, mas sim o menor consumo de bateria. Nesse novo paradigma, o melhor caminho deixa de ser o mais rápido e passa a ser o mais eficiente energeticamente, inaugurando uma lógica totalmente diferente de mobilidade. Trata-se de uma mudança cultural e operacional, em que eficiência energética passa a ter peso semelhante ao desempenho e ao conforto.
Esse movimento não depende apenas da evolução dos veículos ou dos softwares embarcados. A infraestrutura desempenha um papel decisivo. Carregadores inteligentes conectados à rede serão capazes de equilibrar demanda, responder a preços dinâmicos de energia e integrar geração solar distribuída, especialmente em condomínios, estacionamentos corporativos e centros logísticos. A própria bateria dos veículos tende a assumir novas funções. Modelos de vehicle-to-home (V2H) e vehicle-to-grid (V2G) permitirão que o carro funcione como um reservatório energético, armazenando excedentes da energia solar e devolvendo eletricidade à rede ou à residência em momentos de pico.
Há ainda o avanço regulatório, que começa a abrir espaço para mais inovação. A modernização das regras do setor elétrico, a expansão do mercado livre de energia, os programas de incentivo à geração distribuída e a evolução das normas voltadas para mobilidade elétrica têm potencial para atrair investimentos, reduzir custos e permitir modelos de negócios mais sofisticados. Tudo isso fortalece uma nova cadeia de valor que vai muito além das montadoras: desenvolvedores de software, integradores solares, donos de usinas solares, empresas de infraestrutura, startups de IA e fornecedores de serviços associados passam a compor um ecossistema dinâmico e estratégico. A competitividade do setor, daqui em diante, dependerá da capacidade de integrar esses agentes e criar interoperabilidade entre energia, digitalização e mobilidade.
Com base nos dados atuais, os cenários para 2026 são bastante promissores e indicam que a revolução já está em curso. A combinação de uma matriz renovável robusta, o crescimento acelerado da mobilidade elétrica e a maturidade crescente da inteligência artificial aponta para um novo paradigma, onde a mobilidade no Brasil será não apenas elétrica, mas solar, inteligente e energeticamente integrada ao sistema como um todo. Os países que avançarem mais rapidamente nessa direção consolidarão vantagens competitivas duradouras, e o Brasil, com sua matriz limpa e expertise em geração distribuída, tem a oportunidade de assumir uma posição de protagonismo global.
O desafio e a oportunidade estão claros: transformar energia renovável em mobilidade eficiente. Quem compreender essa convergência desde já não será apenas parte do mercado, será parte da solução.
*Thiago Moreno é CEO da Spott.
Cláudio Monteiro <claudio.monteiro@xcom.net.br>