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Você Sabe Quem Os Outros Pensam Que Você É?

Comunicar aos que nos cercam uma impressão correta de quem somos e o que desejamos é tão importante quanto de fato sermos o que aparentamos


A capacidade de comunicação, em especial a aquisição da linguagem falada, proporcionou à humanidade recursos para a vida em grupo, condição essencial para a sobrevivência e evolução da espécie.  Apesar de ser uma habilidade inata, a comunicação demanda por atenção para que se desenvolva plenamente, considerando que pressupõe muito mais do que a capacidade de verbalizar. Temos ainda na memória o slogan de um dos maiores comunicadores da história recente, o saudoso Chacrinha: "Quem não se comunica se trumbica". E, pra dizer a verdade inteira, quem se comunica mal, também! Pouco adiantará sermos honestos, dinâmicos, competentes, responsáveis, se os outros não tiverem essa opinião a nosso respeito. Comunicar aos que nos cercam, seja pela linguagem verbal ou não, uma impressão correta de quem somos e o que desejamos, é tão importante quanto de fato sermos o que aparentamos.
A comunicação é, sobretudo, um processo que envolve interação e trocas, tanto no sentido interno quanto em relação ao ambiente. Do ponto de vista interno, a capacidade de comunicação exige uma série de conexões entre diferentes sistemas neurofisiológicos, que devem articular-se harmonicamente, tais como, os órgãos dos sentidos, a memória, o pensamento, o processamento das informações, a afetividade, entre outros. Enquanto esses sistemas estiverem imaturos, vamos necessitar de um mediador que traduza o que queremos expressar, como um bebê precisa que a mãe decifre seu choro e suas reações fisiológicas. Portanto, desenvolvimento e capacidade de comunicação andam de mãos juntas, formando um vínculo de dependência e complementaridade. Ou seja, quanto mais nos comunicamos, mais nos desenvolvemos, e quanto mais nos desenvolvemos, mais clara e precisa se tornar a nossa comunicação.
Já externamente, para que a comunicação se operacionalize é necessário que quem emite a mensagem a ser comunicada estabeleça uma relação de reciprocidade com quem irá recebê-la, de tal modo que um fale e o outro escute, um escreva e o outro leia. Podemos imaginar a quantidade de interferências que ocorrem entre essas interações, as quais são responsáveis por inúmeros ruídos e solenes fracassos na nossa intenção de nos fazermos compreender em nossas idéias e intenções.
É certo que a comunicação adequada não depende apenas dos processos mentais subjacentes, mas também da eliminação das barreiras que dificultam a compreensão do que queremos transmitir. Da parte de quem emite uma mensagem, seja falada ou escrita, as barreiras podem estar relacionadas, por exemplo, às características de personalidade da pessoa (cólera, timidez, impaciência, impulsividade), ao uso de linguagem ou símbolos inadequados (roupas, tom de voz, postura, excesso de informalidade ou formalismos),  à escolha do momento inoportuno para dar uma notícia ou fazer uma solicitação, às demonstrações de sabedoria menosprezando os demais, ao relato excessivo de detalhes sem importância, ao desvio do tema através de anedotas ou  intimidade excessiva.  Da parte de quem recebe a mensagem, há também uma lista de obstáculos: dificuldade de escutar o sentido do que é comunicado, desatenção, pressa, prejulgamentos, preconceitos, desconfiança, resistência em aceitar idéias diferentes. Fora isso, no ambiente corporativo ainda há muitos outros fatores que podem atrapalhar a comunicação: falta de franqueza, interesses em distorcer a mensagem, competição, diferenças de hierarquia, interrupções excessivas, escolha do canal errado (e-mail, fone, contato direto), pouca disponibilidade de tempo e por aí segue.
Só nos comunicamos de um modo realmente eficaz quando as palavras, atitudes e emoções convergem para um mesmo significado, enviando uma mensagem coerente. De nada adianta dizermos que "somos só ouvidos", se estamos enviando mensagens pelo celular enquanto o outro fala; que não estamos ansiosos, se nossas mãos transpiram e as pernas balançam; que não estamos bravos se nossa voz está alta e os músculos tensos.
A linguagem não verbal, composta por emoções, comportamentos, atitudes sutis, expressões faciais e reações fisiológicas é tão comunicativa quanto um texto oral, facilmente captada nas entrelinhas de qualquer discurso.
Há também decisões envolvidas no processo de comunicação que são quase imperceptíveis e automáticas no dia a dia, mas que no contexto organizacional não deveriam ser descuidadas.  São etapas sucessivas que definem o que dizer, a quem dizer, quando dizer, como dizer, com que freqüência e através de que meio. Lógico que não há mágica, por exemplo, não se pode transformar uma mensagem triste em algo festivo, mas se pode minimizar o desconforto e o impacto negativo que trará a quem ouve; do mesmo modo, sentimentos como raiva podem ser expressos de modo não destrutivo ao relacionamento interpessoal. A chave para essa transformação é o autoconhecimento que adquirimos quando estamos alertas ao contexto e as nossas emoções, desejos e preocupações, reconhecendo-as e nos responsabilizando por aquilo que comunicamos.
Tecnicamente, isso faz parte do que é denominada comunicação assertiva. Esta é pautada  especialmente na escuta ativa, na ênfase, nos fatos e comportamentos ao invés de centrar-se na pessoa, na linguagem moderadora e não intempestiva, elegendo um ponto a ser debatido ao invés de perder-se em generalizações. Mais do que oferecer receita de sopa, o objetivo é lembrar que os demais não têm nem obrigação, nem recursos para adivinhar o que estamos querendo expressar, ou seja, boa parte da responsabilidade sobre se vamos ou não ser entendidos é de quem comunica. Essa comunicação com foco na assertividade é essencial no ambiente profissional, não apenas para bem conviver, mas também para executar com melhores resultados atividades de negociação e resolução de conflitos, condução de reuniões, tomada de decisões contrárias à expectativa da equipe, estabelecimento de metas, desenvolvimento de lideranças e motivação, efetuação de avaliação, feedback, contratações e demissões.
É óbvio    que a priorização dos processos de comunicação tem um custo para a organização e para o indivíduo. Implica em mudanças de hábitos, autoconhecimento, educação continuada, exploração adequada das ferramentas tecnológicas e instrução técnica de qualidade, mas nem se compara aos custos que se somam quando não há investimentos nessa área.
As falhas e déficits na comunicação são responsáveis pela maior parte dos conflitos e prejuízos que acompanham o mercado. E é provável que respondam também por boa parcela de nossos problemas pessoais e familiares, que originam insatisfações e sofrimentos.
Não somos autorizados nem pela ética nem pela elegância, a sair por aí dizendo tudo o que queremos. Nem escrevendo no e-mail, Twitter, Facebook, msn; quiçá em algum diário íntimo guardado a sete chaves. Seguindo a recomendação de Craig Seibold, "Say the best. Think the rest", podemos acrescentar: "Diga o melhor. Pense o resto": processe, transforme em algo possível de ser comunicado de um jeito interessante e construtivo. Assim, as pessoas (incluindo você mesmo!) saberão de fato, quem você é. 


Você Sabe Quem Os Outros Pensam Que Você É?
Psicóloga, Doutoranda em Psicologia/PUCRS, Mestre em Psicologia Clínica/PUCRS, Especialista em Gestão Empresarial/FGV, Especialista em Psicoterapia Psicanalítica/UNISINOS e em Psicopatologia do Bebê (PARIS XII), Psicoterapeuta, Consultora em Gestão de Pessoas, Perita em Avaliação Psicológica e Gestão de Equipes.    
Fone: (51) 8188.0733
tarciad@gmail.com






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