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Dessalinização para fornecer água tratada vai ganhar importância para as grandes cidades

A dessalinização para o abastecimento de grandes cidades é um assunto de destaque nos dias de hoje.


Dessalinização para fornecer água tratada vai ganhar importância para as grandes cidades

 

A dessalinização para o abastecimento de grandes cidades é um assunto de destaque nos dias de hoje. A escassez de águas em regiões secas, a contaminação de mananciais e diversos problemas relacionados à falta de água para o consumo humano e para atividades inerentes à sociedade são alguns motivos pelos quais o processo de dessalinização ganha destaque no mercado.
Apesar de três quartos do planeta Terra ser água, apenas cerca de 3% é potável. “Hoje, 700 milhões de pessoas no mundo inteiro não têm acesso à água potável. A projeção é de que, até 2030, 3,9 bilhões de seres humanos conviverão com o problema de escassez de água. A dessalinização e o reúso da água são alternativas para a ampliação da matriz hídrica” – explica Frederico Lagreca, diretor comercial da Suez Brasil.
As cidades litorâneas são as que possuem, normalmente, maior viabilidade econômica e logística para a instalação de plantas de dessalinização. Contudo, a localização geográfica não é um fator decisivo. A Suez, empresa de origem francesa, construiu duas plantas de dessalinização na Austrália, em Melbourne e Perth, que têm como objetivo fornecer água em períodos de seca. Atualmente, a empresa está desenvolvendo a maior planta de dessalinização das Américas, localizada em Rosarito, no México.
Luiz Abrahão, gerente de aplicação e otimização da Veolia, aponta uma outra perspectiva sobre este procedimento no Brasil ao dizer que “antes de se pensar em dessalinização para o abastecimento de água nas grandes cidades, é consenso que há muito que melhorar nos sistemas atuais de coleta, tratamento e distribuição dos sistemas de água potável e esgoto doméstico visando, com isso, reduzir o alto índice de perdas de água potável, diminuição infiltrações, melhoria da qualidade dos corpos d’água, etc”.
Contudo, a perspectiva de uma possível escassez no futuro faz com que seja necessário se pensar em diversas alternativas de abastecimento, que podem ser implementadas isoladamente ou em conjunto com outro tipo de tecnologia. A combinação de métodos de tratamento de água e de dessalinização pode ser a escolha ideal em alguns casos. “Tecnologias para tal solução já existem no mercado e estão mais do que comprovadas em bons exemplos de plantas de água de reúso e dessalinização da água do mar em operação espalhadas em diversas partes do mundo” – completa Abrahão.
Grandes cidades com uma alta concentração populacional e cidades litorâneas são alguns dos candidatos mais fortes a implementar sistemas de dessalinização. Em metrópoles, o grande número de habitantes pode gerar um problema de abastecimento quando há um período de estiagem longo. Por outro lado, “as grandes cidades litorâneas geralmente são abastecidas com água superficial de rios e represas. Porém, em períodos de seca ou contaminação recorrente dos reservatórios, haverá escassez de água potável, por isso a necessidade de se ter uma reserva estratégica” – explica Nelson Guanaes, diretor e sócio-fundador da Perenne.
Portanto, diversos tipos de cidade estão aptos para investir em plantas de dessalinização.
A ideia de que apenas cidades litorâneas ou próximas ao litoral possam ser beneficiadas com este tipo de abastecimento está defasada, pois já existem tecnologias e meios de transporte de água eficientes para abastecer várias regiões com água dessalinizada.

 

Dessalinização para fornecer água tratada vai ganhar importância para as grandes cidades

 

Exemplos bem sucedidos
Plantas de dessalinização bem-sucedidas existem em alguns países, inclusive no Brasil. O arquipélago de Fernando de Noronha, de grande potencial turístico, possui a primeira
dessalinizadora do país, realizado por um projeto da empresa Perenne. “Há cerca de 20 anos, Fernando de Noronha tem água potável dessalinizada do mar. Ainda é o melhor e talvez único exemplo de sistema público de abastecimento a partir dessa fonte de captação” – afirma Guanaes.

 

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Ainda há poucas iniciativas de dessalinização no Brasil. Contudo, o estado do Ceará, por exemplo, está projetando a implantação deste sistema na cidade de Fortaleza com uma estação com capacidade de tratamento de um metro cúbico por segundo, de acordo com Lagreca.
Ainda segundo o diretor comercial da Suez Brasil, Rio Grande do Norte, Paraíba e Alagoas também estão começando a pensar na solução da dessalinização como “alternativa para seus problemas de abastecimento, em especial para enfrentar as sazonalidades na faixa litorânea”.
Apesar de o Brasil ainda ter poucas iniciativas de implantação de plantas de dessalinização, os projetos existentes podem impulsionar o avanço dessa solução no país. Segundo Abrahão, da Veolia, “A tecnologia de dessalinização por membranas de osmose reversa já é bastante difundida em regiões do Oriente Médio, onde estão instaladas mais de 60% da capacidade de produção mundial, e também em localidades dos Estados Unidos (Flórida e Califórnia), Espanha, Austrália e Israel”.

Como funciona o processo de dessalinização
Dessalinização é o processo de reduzir ou remover os sais dissolvidos da água, buscando alcançar a potabilidade. O gerente de aplicação e otimização da Veolia, Abrahão, afirma que “quando falamos em dessalinização, serve tanto para a adequação de água do mar, quanto para águas salobras, como ocorre no nordeste brasileiro”.
Em ambos os casos em que a dessalinização é utilizada, o método mais convencional para se fazer este processo é a osmose reversa. “Osmose é o deslocamento de um fluido através de uma membrana semipermeável, no sentido do meio menos concentrado para o mais concentrado, buscando o equilíbrio entre os dois fluidos. A osmose reversa usa um sistema de bombeamento capaz de exercer pressão superior à encontrada na natureza, para vencer o sentido natural do fluxo. Dessa forma, a água salgada ou salobra, que é o meio mais concentrado, se desloca no sentido do menos concentrado.
A membrana semipermeável permite somente a passagem de líquidos, retendo partículas sólidas e sais dissolvidos” – explica o diretor comercial da Suez Brasil.
Para que o processo de dessalinização ocorra plenamente e de modo a alcançar resultados eficientes, é preciso ter atenção ao tratamento necessário da água antes que ela passe pela membrana. Segundo José Roberto Ramos, engenheiro e business developer da Fluence Corporation no Brasil, em um sistema deste tipo, tratar a água do mar antes que ela entre nas membranas de osmose reversa é fundamental, uma vez que essas não apresentam função de filtro. “A água que alimenta as membranas deve estar livre de sólidos suspensos, além de atender outros parâmetros necessários: temperatura, SDI (Silt Density Index), estar livre de oxidante, entre outros” – completa Ramos.

 

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Uma nova tecnologia que pode ser utilizada em estações de dessalinização foi desenvolvida pela Veolia. Recentemente, a empresa lançou uma tecnologia modular chamada Barrel. “Colocando as membranas de osmose reversa dentro de um vaso de pressão, com monitoramento da qualidade do permeado produzido através de sensores inteligentes, o Barrel pode ser confeccionado fora do site a ser instalado e entregue como opção de um equipamento modular tipo ‘plug and play’, diminuindo os custos de implantação e a área necessária” – completa Abrahão, da Veolia.

Custos de implantação e funcionamento
Quando se pensa em dessalinização, um grande questionamento que surge está relacionado ao investimento necessário para a implantação e os custos decorrentes da atividade. Segundo Lagreca, da Suez Brasil, a problematização da dessalinização surge a partir do mito de que este tipo de tratamento é muito caro quando comparado aos métodos convencionais. “É um mito, porque a tecnologia avançou e, hoje, considerando a tecnologia de osmose reversa e as possibilidades de recuperação de energia, o gasto energético, principal custo, já não é elevado. Comparado ao custo da água doce bruta tratada, o tratamento da água do mar custa até três vezes mais, mas já foi 10 vezes maior no passado” - comenta o diretor comercial.
Além disso, o investimento para uma estação de dessalinização varia de acordo com o tamanho da planta. Quanto maior a planta, menor o custo por metro cúbico de água. Lagreca ainda diz que é possível mensurar os valores de um sistema de dessalinização a partir de um parâmetro. “Podemos falar que, em média, uma planta de um metro cúbico por segundo exige investimentos na faixa de R$ 500 milhões” – afirma. O valor de um sistema de dessalinização a partir de um patamar genérico de valores, em que o investimento é de R$ 100 mil por metro cúbico de água dessalinizada. Esta estimativa pode servir de base para entender os possíveis gastos para a implementação de uma estação deste tipo.
Outros fatores também importantes para compreender os custos para a dessalinização, pois o “contempla desde a escolha do ponto de captação da água do mar, o nível de tratamento preliminar necessário para a proteção do sistema de membranas de osmose reversa, área de implantação e disponibilidade de energia elétrica, visto que esse processo demanda um grande consumo de energia” – explica o gerente de aplicação e otimização da Veolia.
Os custos relacionados à manutenção e operação do tratamento a partir da dessalinização consistem em energia elétrica, insumos, substituição de componentes de desgaste e mão de obra. Segundo Ramos, business developer da Fluence Corporation no Brasil, “o peso do custos da energia elétrica nesses sistemas é o grande impactante, correspondendo a mais de 50% do custo global de operação.
A boa notícia é que novas tecnologias têm sido desenvolvidas no sentido de redução desse consumo: recuperadores de energia, nova linha de membranas de osmose reversa, químicos, arranjo das membranas nos vasos de pressão, entre outros. etc. Globalmente, considera-se como patamar de custo operacional o valor de US$ 1 por metro cúbico de água dessalinizada” – explica.

Importância da implementação
Em um mundo globalizado, em que as distâncias se encurtam, a troca de experiências em relação a sistemas de dessalinização já desenvolvidos pode ser um facilitador para a sua implementação no Brasil. Além de Fernando de Noronha, que é um exemplo fundamental para o país, também é possível buscar inspiração em casos bem sucedidos ao redor do mundo.
Mesmo já sendo utilizado há mais de 60 anos, o tratamento da água do mar para consumo humano ainda é um tabu no Brasil, segundo Lagreca. Como o país tem uma das maiores concentrações de água doce do mundo, a dessalinização pode ser vista como algo necessário. “A questão é que, de fato, o Brasil tem fartura de recursos hídricos, mas infelizmente muito mal distribuídos. Enquanto a água doce abunda nas regiões Norte, por exemplo, ela é escassa no Nordeste, onde a população sofre com a seca, devido à constante falta de chuvas. Então, se não há recursos hídricos, tratar a água do mar se apresenta como uma grande alternativa e promover iniciativas de projetos que incluam essa solução, aliada a ao reúso da água de esgoto, proporcionaria, sem dúvida, menos possibilidade de exposição ao estresse hídrico” – complementa o diretor comercial da Suez Brasil.
Este tipo de tratamento irá se tornar cada vez mais importante, pois o aumento populacional e a futura escassez de água serão fatores determinantes para a sociedade. “As cidades próximas ao mar são as mais indicadas e com maior viabilidade de implantação de um sistema de dessalinização. No entanto, o crescimento populacional desenfreado nas grandes cidades, a contaminação dos cursos d’água disponíveis, diminuição dos custos de implantação - devido ao desenvolvimento das tecnologias das membranas de osmose e à maior competitividade dos provedores no mercado -, pode viabilizar projetos de implantação de plantas de dessalinização a médio e longo prazos” – explica Abrahão, da Veolia.

Dificuldades de implementação no Brasil
Apesar de o país já ter tecnologia para implementar sistemas de dessalinização, algumas empresas do mercado também acreditam que falta empenho político para que o setor avance. “A viabilidade está comprovada quanto à tecnologia e capacitação da engenharia nacional, mas, por outro lado, é preciso haver vontade política para que haja investimentos nessa alternativa de dessalinização da água do mar” – afirma Guanaes, diretor da Perenne.

 

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Algumas iniciativas do governo podem ser fundamentais para que este tipo de tratamento seja expandido no Brasil. Abrahão acredita que a abertura de licitações que envolvam parcerias entre empresas públicas e privadas do setor do saneamento e a facilidade de financiamento que envolvam a operação da planta a longo prazo possam impulsionar os projetos e a implementação da dessalinização.
Para isso acontecer, também é importante que o marco regulatório do saneamento seja julgado e aprovado. As propostas que estão “em discussão no Congresso Nacional poderão incentivar essa prática, atraindo investidores no setor de saneamento com a privatização de empresas públicas com alto passivo de atendimento de água potável em grandes centros urbanos do país” – explica Guanaes.

 

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Contato das empresas
Fluence:
www.fluencecorp.com
Perenne: www.perenne.com.br
Suez Brasil: www.suez.com
Veolia: www.veolia.com.br

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