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Abordagem integrada é essencial para mitigar efeitos das mudanças climáticas

Encontro na Unicamp com nova geração de pesquisadores aponta para a colaboração entre setores para amenizar, com justiça climática,


André Julião | Agência FAPESP – Jovens cientistas dedicados ao estudo das mudanças climáticas têm a consciência de que seu trabalho deve ser feito em rede, integrando diferentes conhecimentos e setores da sociedade, longe de ficar restrito aos muros das instituições de pesquisa. Isso é verdade pelo menos para os participantes do encontro “Vozes do Futuro: Perspectivas de Jovens Cientistas FAPESP para a COP30”.

Realizado na quarta-feira passada (10/09) na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o evento foi promovido no âmbito do Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG). As palestras e debates foram transmitidos on-line, com sessões na parte da manhã e da tarde.

“O evento foi totalmente sugerido e planejado pelos jovens cientistas, pelo fato de a FAPESP ter o Programa Jovem Pesquisador, mas vai além deles. Tem estudantes de mestrado e doutorado que participaram ativamente da organização”, disse na abertura Luiz Aragão, membro da coordenação do PFPMCG.

“As mudanças climáticas têm sido debatidas pelas pessoas que causaram e não viverão essas mudanças. E as soluções estão ancoradas nas pessoas que virão a tomar decisões no futuro. Tendo a COP30 na nossa porta, aproveitamos a oportunidade para trazer esse conhecimento fomentado pela FAPESP para que fosse debatido de forma a gerar informações que pudessem ser utilizadas futuramente”, afirmou Aragão, que é pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

“Somos de uma geração que não entendia que tinha de cuidar do planeta. Ver essa mudança de comportamento nos jovens de hoje nos deixa muito felizes”, disse Ana Maria Frattini Fileti, pró-reitora de pesquisa da Unicamp.

O caráter multidisciplinar das apresentações deu a tônica da abordagem com que a crise climática deve ser enfrentada, uma vez que os diferentes problemas gerados pelo aumento global das temperaturas exigem soluções complexas, segundo os palestrantes. Mais do que pesquisas, será necessária uma interlocução com diferentes setores da sociedade, terceiro setor, setor empresarial e governos.

“A janela pré-COP é importante para escolher temas críticos e comunicá-los antes do debate dentro da conferência. O objetivo aqui é dar voz a todos os jovens pesquisadores, principalmente nos tópicos de aquecimento global acima de 1,5 °C, redução das emissões de carbono, soluções baseadas na natureza, transição energética, cidades resilientes, biodiversidade, justiça climática e implementação da ciência”, afirmou Jeniffer Natalia Teles, uma das organizadoras do evento, que realiza pós-doutorado na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FFCLRP-USP) com bolsa da FAPESP.

Raquel Tupinambá, liderança indígena e doutoranda em antropologia na Universidade de Brasília (UnB), fez um histórico do processo de ocupação da Amazônia, desde os povos originários até o modelo de desenvolvimento baseado na derrubada da floresta e consequente emissão de gases do efeito estufa. A liderança lembrou a necessidade de justiça climática.

“Grupos que menos emitem gases de efeito estufa são os mais afetados pelas emissões. É uma questão ética e política a reparação de desigualdades históricas e é preciso responsabilizar os maiores emissores, ao mesmo tempo garantindo direitos e reparação para os maiores afetados”, disse.

Multidisciplinar

Os jovens pesquisadores apoiados pela FAPESP que se apresentaram no evento estudam temas tão diversos quanto a previsibilidade das mudanças climáticas e as perspectivas para a biodiversidade e os ecossistemas frente às mudanças globais; desigualdades no acesso aos benefícios da natureza urbana; e recifes de coral num oceano em mudança.

Por sua vez, Monique Ribeiro Polera Sampaio realiza doutorado no Inpe com bolsa da FAPESP sobre a comunicação de riscos de desastres ambientais. Como parte de seu estudo, submeteu um questionário no final de 2024, respondido por 5.344 pessoas em todo o Brasil. Divulgado em fevereiro de 2025 pela Agência FAPESP, teria tido um aumento considerável no número de respondentes, segundo a doutoranda (leia mais em: agencia.fapesp.br/53843).

“Para entender as estratégias da comunicação de risco que de fato estão funcionando, as lacunas que se observam na percepção da população brasileira, é preciso compreender como a população está avaliando as estratégias vigentes de comunicação de riscos”, contou.

A frequência com que as pessoas já passaram por desastres ambientais surpreendeu os pesquisadores, com 67,3% afirmando já ter vivido ao menos um dos desastres listados, como inundação, deslizamento de terra, onda de calor, seca e incêndio. Só entre 2023 e 2024, mais de 50% dos respondentes havia vivido um desastre. Enquanto a inundação era o evento mais recorrente ao longo da vida, as ondas de calor foram mais vividas no último ano.

Por mais de uma vez no evento se ressaltou a necessidade de aplicar as pesquisas em políticas públicas. “Está na hora de o pesquisador sair um pouco do seu laboratório e estar presente como parte ativa do mundo real. É um gasto de tempo e de energia lidar com ONGs, poder público, é uma burocracia adicional. Mas é algo que vale a pena, com seus resultados de pesquisa sendo usados para conservar espécies e áreas que parecem singulares, por exemplo”, disse Thais Guedes, professora do Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista (IB-Unesp), em Rio Claro, e pesquisadora do Centro de Pesquisa em Biodiversidade e Mudanças do Clima (CBioClima), um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) apoiado pela FAPESP.

Algumas propostas voltadas para políticas públicas incluem incentivos financeiros para serviços ecossistêmicos, apresentados por Patricia Guidão Cruz Ruggiero, e propostas de exploração bioeconômica de produtos da restauração florestal, apresentadas por Pedro Krainovic (leia mais em: agencia.fapesp.br/55860). Ambos são pesquisadores do BIOTA Síntese, um Centro de Ciência para o Desenvolvimento (CCDapoiado pela FAPESP.

Para assistir ao evento na íntegra, acesse: youtube.com/watch?v=g5QmQuVAddY (manhã) youtube.com/watch?v=h44F3xzggdw&t=3s (tarde).

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