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Como a convergência entre inteligência artificial, sensores e mobilidade autônoma está transformando o papel da robótica

A evolução da robótica industrial, entretanto, vai além da ampliação da base instalada


Por Adrian Covi*

Mais de 4 milhões de robôs industriais estão atualmente em operação em fábricas ao redor do mundo, um recorde histórico que reflete a consolidação e a expansão global da automação. O dado da Federação Internacional de Robótica (IFR) revela a maturidade do setor, como também o apetite das empresas por soluções tecnológicas que ampliem produtividade e resiliência diante de um cenário econômico cada vez mais desafiador.

A evolução da robótica industrial, entretanto, vai além da ampliação da base instalada. Após décadas de avanços contínuos em automação, o setor passa agora por uma transformação qualitativa, impulsionada pela convergência de tecnologias como sensores táteis, visão computacional, mobilidade autônoma e, sobretudo, Inteligência Artificial Generativa. Essa combinação inaugura uma fase em que os robôs deixam de ser meros executores de tarefas pré-programadas e passam a operar com um grau inédito de autonomia, adaptabilidade e inteligência contextual.

Ao longo da história, a adoção de robôs se concentrou em ambientes altamente estruturados, como linhas de montagem da indústria automotiva, onde tarefas repetitivas e previsíveis podiam ser programadas com precisão. Essa abordagem, embora eficiente, exigia altos investimentos, expertise técnica e um ambiente estático. Isso deixaria pequenas e médias empresas, muitas vezes, distantes da automação, assim como setores menos previsíveis, como construção civil, logística, saúde ou agricultura.

Os avanços recentes em IA chegam para mudar radicalmente esse cenário. Hoje, é possível integrar sensores que permitem aos robôs mapear o ambiente ao redor, utilizar visão 3D para navegar em tempo real e empregar algoritmos que os capacitam a interpretar comandos em linguagem natural. Em outras palavras, os robôs começam a “aprender”, a “tomar decisões” e a executar múltiplas tarefas em contextos variáveis, reduzindo drasticamente a necessidade de programação tradicional.

Essa evolução não representa apenas um ganho de eficiência, mas uma mudança profunda na lógica produtiva. A robótica deixa de ser um recurso técnico restrito a grandes grupos industriais e se torna uma ferramenta estratégica da automação para mais organizações. Empresas de menor porte, que antes viam a robotização como algo distante ou financeiramente inviável, passam, por exemplo, a ter acesso a soluções escaláveis, adaptáveis e de rápida implementação.

Do ponto de vista econômico, essa nova era da robótica responde diretamente a três grandes pressões globais. A primeira é a crescente dificuldade em preencher certas funções operacionais, especialmente as repetitivas, com exigência física elevada ou que requerem alta precisão, devido à mudança no perfil da força de trabalho e à evolução das expectativas profissionais. A segunda é a necessidade de flexibilidade, uma vez que o consumidor atual demanda personalização em massa, com ciclos de produção mais curtos e modelos sob demanda. A terceira é a urgência por sustentabilidade ambiental e operacional, que impulsiona a adoção de processos produtivos com maior eficiência energética, menor geração de resíduos e garantem a continuidade dos negócios no longo prazo.

Ao incorporar inteligência artificial em suas aplicações, os robôs ganham uma nova camada de sofisticação: a capacidade de aprender a partir de exemplos, de adaptar sua atuação sem depender de scripts rígidos, e facilitando sua implementação e tornando sua utilização muito mais intuitiva. O que antes operava de uma forma mais estruturada e pré-programada se torna agora uma plataforma aberta de colaboração entre humanos e máquinas. Isso redefine não apenas a operação em chão de fábrica, mas também o próprio conceito de produtividade.

Setores como logística, agronegócio, saúde e ciências da vida já demonstram o potencial dessa virada tecnológica. Em centros de distribuição, por exemplo, robôs com autonomia de navegação já circulam entre operadores humanos, reorganizando estoques de forma inteligente. Na área da saúde, há robôs sendo treinados para manipular objetos com delicadeza e auxiliar em processos laboratoriais.

Essa expansão da robótica também tem efeitos indiretos relevantes. Um deles é a transformação dos perfis profissionais na indústria. Em vez de operadores para comandos manuais, cresce a demanda por técnicos em automação, desenvolvedores de algoritmos e especialistas em integração de sistemas. É uma transição que abre novas oportunidades de carreira e impulsiona o investimento em formação técnica e atualização profissional, tanto por parte das empresas quanto do poder público.

Mais do que um avanço tecnológico, o que se observa é uma mudança de paradigma. A robótica, até então uma ferramenta de eficiência operacional, torna-se um vetor de inovação, inclusão produtiva e transformação estrutural. As organizações que compreenderem esse movimento e se prepararem para ele estarão mais bem posicionadas para prosperar em uma economia cada vez mais dinâmica, conectada e inteligente.

* Gerente de robótica para indústrias da ABB Brasil

Tamer Comunicação
Eliane Santos
elianesantos@tamer.com.br
Ana Saito
ana.saito@tamer.com.br

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