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Fazer engenharia fica cada vez mais competitivo para as empresas

Na área há 40 anos e, portanto, diretamente envolvido e interessado, observo há décadas, com atenção, o desempenho das atividades ligadas à inovação


Valter Pieracciani

Fala-se muito no Brasil como uma potência do agro, da energia renovável ou mesmo como um expoente industrial. Pois nada disso pode se concretizar sem atividades robustas de Pesquisa, Desenvolvimento & Inovação (P, D&I) no país. Em outras palavras, precisamos fortalecer essas frentes para ganhar competitividade em todas as outras, concorda? A boa notícia é que nos últimos anos o cenário para a realização de projetos desses projetos no Brasil vem dando alguns sinais positivos. 

Na área há 40 anos e, portanto, diretamente envolvido e interessado, observo há décadas, com atenção, o desempenho das atividades ligadas à inovação. Atravessamos diversos altos e baixos. Vimos o desmonte das engenharias ao menos duas vezes, nos anos 1990 e por volta de 2010. Assistimos ao facão federal funcionando e a cortes nos orçamentos em 2017. Poucos empregos em pesquisa e desenvolvimento superaram a destruição quando o real correspondia a um dólar e nós, engenheiros, de repente ficamos caros. 

No entanto, nem tudo que é ruim dura para sempre. Soluções tecnológicas brasileiras, como os veículos híbridos flex, vêm conquistando o mundo. Em nossa visão, bons tempos para o P, D&I podem estar batendo na porta. 

170 linhas de incentivo à inovação

Nosso time de consultores especialistas atua nas áreas de inovação de mais de 160 empresas inovadoras. Portanto, de um ponto de vista privilegiado, monitoram, praticamente em tempo real, os investimentos e a posição que os grupos multinacionais têm assumido no País. Esses especialistas são unânimes em afirmar que vivemos um bom momento. Claro, sabemos que tudo pode mudar muito rapidamente em função de pequenos movimentos do novo governo, mas seguimos esperançosos. 

Há três grandes motivos para esse otimismo. O primeiro baseia-se na alta qualidade técnica e criativa, associada a um custo relativamente baixo da contratação de engenheiros brasileiros quando comparados a profissionais de qualificação similar da China e da Índia. Importante dizer que é com quem concorremos diretamente para a alocação dos projetos globais no Brasil.

O segundo é a multiplicidade de linhas de fomento e incentivos disponíveis no sistema brasileiro de inovação. Em uma última contagem rápida contabilizamos mais de 170 linhas de incentivos para as várias indústrias, possibilidades essas que não param de crescer. No último ano a Finep lançou 39 oportunidades de captação de recursos não reembolsáveis totalizando R$ 2,7 bilhões, mais do que nos oito anos anteriores somados.

Apenas um pequeno número de empresas faz uso otimizado de todos esses apoios à inovação. Nossa última pesquisa mostrou que as empresas só aproveitam 68% do potencial total de benefícios do principal instrumento, que é a Lei do Bem. Mesmo assim, é inquestionável que o Brasil é um país de oportunidades para a inovação, e o aumento do uso dessas linhas tem gerado atratividade para as engenharias locais.

A terceira evidência é a decisão de diversas companhias internacionais de alocar parte de suas atividades de desenvolvimento e inovação no Brasil. Um caso recente foi a icônica decisão da Ford. Mesmo tendo deixado de produzir veículos no País, a montadora manteve sua atuação na área de pesquisa e desenvolvimento. Formou técnicos especializados para o mundo, criou postos de trabalho e fez uso, como todas as empresas brasileiras deveriam, independentemente de porte, do amplo apoio do governo federal à criação de centros de inovação no Brasil. A Ford chegou mesmo a contratar centenas de bolsistas. Seu centro de P, D&I na Bahia tem planos de exportar R$ 500 milhões em engenharia brasileira para o mundo.

Engenharia de baixo carbono vai ganhar espaço com ESG

Há ainda um quarto argumento, pouco considerado, mas certamente motivo para fortalecer a engenharia brasileira: o conceito de engenharia verde, que recém-criei. Uma hora de trabalho de um engenheiro no Brasil corresponde à emissão de metade de gases de efeito estufa do mesmo engenheiro trabalhando na Índia. Isso mesmo, temos a engenharia verde por aqui.   

Edifícios comerciais (leia-se também engenharias) são responsáveis por 6,6% do total de emissões no mundo. As emissões dessas atividades são tanto diretas, advindas da queima de combustíveis fósseis, quanto indiretas, pelo uso de eletricidade, segundo relatório do instituto de pesquisas ambientais WRI Brasil. Um calçado produzido na índia emite o dobro de gases de efeito estufa em relação ao mesmo calçado produzido no

Brasil. O raciocínio também vale para os escritórios. Pense na energia que os data centers demandam e faça a analogia. Acreditamos que a força desse argumento crescerá rapidamente, se é mesmo verdade que as empresas estão preocupadas com ESG.

Bons motivos para engenheirar no Brasil, não é mesmo? Espero que estejamos unidos nessa cruzada para atrair projetos para o nosso país e fortalecer o emprego e o desenvolvimento das áreas técnicas aqui. Fazer um Brasil do P, D&I, por que não?

Valter Pieracciani é sócio-fundador da Pieracciani Consultoria. Empresário, pesquisador, consultor e escritor, é especialista em modelos inovadores de gestão. Dirigiu mais de 800 projetos em companhias-líderes como Nestlé, Ambev, Tetrapak, Pirelli e Avon, dentre outras. Atua como gestor de startup e de recuperação de empresas.

*Este texto traz a opinião do autor e não reflete, necessariamente, o posicionamento editorial de Automotive Business

 

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