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A escolha do filtro de papel influencia no sabor do café

O consumo de café no Brasil é um reflexo da profunda cultura cafeeira do país, que é o maior produtor e exportador mundial da bebida. Cada brasileiro consome, em média, 1.430 xícaras de café por ano, o que equivale a cerca de 4 xícaras por dia


A escolha do filtro de papel influencia no sabor do café

O consumo de café no Brasil é um reflexo da profunda cultura cafeeira do país, que é o maior produtor e exportador mundial da bebida. Cada brasileiro consome, em média, 1.430 xícaras de café por ano, o que equivale a cerca de 4 xícaras por dia, sendo a maior parte torrado e moído, representando 95,1% do total, enquanto o solúvel corresponde apenas 4,9%.
Diante desse cenário, podemos dizer que preparar um café coado é um ritual simples e acessível. Basta um filtro, um pouco de pó e água quente. Mas por trás desse hábito tão brasileiro está uma história de invenções e transformações que moldaram não só o modo de fazer café, mas também os costumes ao redor da bebida.
A origem do filtro se remete ao início do século XX, na Alemanha. Foi lá que, em 1908, uma dona de casa chamada Melitta Bentz revolucionou a forma de preparar café. Cansada da borra no fundo da xícara, ela improvisou um filtro com papel mata-borrão retirado dos cadernos do filho e o colocou sobre um recipiente com furos. O sucesso foi tanto que Melitta patenteou sua criação, dando origem ao filtro de papel.
Antes disso, o café era coado com pano, uma técnica que ainda resiste, especialmente no interior do Brasil. O tradicional coador de pano, geralmente preso a um suporte de madeira, tem seus defensores que alegam que o sabor é mais encorpado, e que o ritual remete à infância e à cozinha da avó, mas também exige cuidados, como limpeza e troca regular do tecido.
Nos anos 1960 e 70 o filtro de papel ganhou força, impulsionado pela praticidade e pelo crescimento da indústria do café por unir praticidade, higiene e consistência. Diferente do coador de pano, é descartável, o que evita contaminações e ajuda a controlar melhor o tempo de extração, o que influencia diretamente no sabor da bebida. 
Com ele, o café fica mais limpo, leve e com menos resíduos, realçando notas aromáticas que, muitas vezes, se perdem em métodos mais antigos. Hoje, baristas e apreciadores de café escolhem o filtro de papel com o mesmo cuidado que escolhem os grãos, levando em conta o método de preparo e o perfil sensorial desejado.
Além do aspecto técnico, há uma crescente preocupação com a sustentabilidade. Muitos filtros já são fabricados com papel sem branqueamento químico, biodegradáveis e de fontes renováveis. Em contrapartida, há quem critique o uso único dos filtros e prefira opções reutilizáveis, mas o papel segue firme como preferência popular, especialmente pela praticidade. 

Como funcionam
Eles parecem simples, mas são fruto de engenharia e design pensados para extrair o melhor do café. Os filtros de papel, tão presentes no cotidiano brasileiro, são fundamentais para o sabor, na limpeza e na qualidade da bebida que chega à xícara. A lógica por trás desses filtros envolve uma combinação de física, química e sensibilidade e é baseada em dois princípios básicos: filtragem e percolação. 
Quando despejamos água quente sobre o café moído dentro do filtro, o líquido começa a percolar, ou seja, a passar lentamente pelo pó, extraindo compostos solúveis, óleos e aromas. O papel do filtro é, literalmente, filtrar essa solução, retendo os resíduos sólidos (como partículas do pó) e permitindo que o líquido limpo escorra para a jarra ou xícara.
São feitos de um tipo especial de papel poroso, com microfuros que bloqueiam impurezas e partículas maiores, mas permitem a passagem de líquidos e compostos solúveis. O grau de porosidade influencia diretamente o resultado final. Papel mais fino ou branqueado deixa passar mais óleos, café mais leve, papel mais espesso ou não branqueado segura mais óleos e sedimentos, café mais limpo e suave.
Além disso, o formato do filtro também afeta a forma como a água interage com o café, o que interfere na velocidade de extração e no sabor final. Vale destacar que funcionamento ideal também depende de fatores externos, como, a temperatura da água (ideal entre 90°C e 96°C), a moagem (mais fina para filtros lentos, mais grossa para filtros mais rápidos), a quantidade de pó e o tempo de contato com a água. 
Uma curiosidade é que alguns baristas recomendam enxaguar o filtro de papel com água quente antes do uso. Isso ajuda a retirar possíveis resíduos do papel e pré-aquecer o recipiente, melhorando ainda mais o resultado da extração. Em resumo, o filtro de papel é mais do que um simples suporte para o pó: ele é uma peça-chave no processo químico e físico que transforma água e café moído em uma bebida cheia de nuances.

Tipos e características
Quando se trata de filtros de papel, três formatos dominam as prateleiras: o cônico, o flat bottom (chato) e o tradicional (V). Embora todos eles sirvam para a mesma finalidade — coar o café — as diferenças de design influenciam diretamente no sabor, na textura e no processo de extração. A escolha ideal depende do método de preparo e das preferências de sabor. 
Formato Cônico: É um dos preferidos por baristas e entusiastas do café, especialmente para métodos manuais como o Hario V60. Seu formato em cone permite que a água passe de maneira centralizada, resultando em uma extração mais uniforme e controlada. 
É ideal para cafés especiais, que exigem mais atenção na moagem e na temperatura da água. No entanto, é preciso mais técnica para evitar um vazio de sabor, onde a extração pode ser desigual se não houver cuidado no despejo da água.
Formato Chato (Flat Bottom): Se destaca pela sua base plana e laterais mais altas, encontrando espaço em métodos como o Kalita Wave e o Clever Dripper. Esse formato favorece uma extração mais uniforme e estável, com o fluxo de água distribuído de forma mais homogênea. O filtro flat bottom tem a capacidade de reter mais sedimentos, o que resulta em um café de corpo mais cheio e robusto.
Seu formato permite que a água seja distribuída de maneira eficiente sobre o pó, evitando canais de água, fenômeno conhecido como “channelling”,
onde a água se desloca por um caminho rápido e irregular, prejudicando a extração. Assim, essa tende a ser mais fácil e previsível, o que faz do flat bottom uma escolha popular tanto para iniciantes quanto para quem deseja praticidade sem abrir mão da qualidade.
Filtro Tradicional (Formato V): Com seu formato em V ou trapézio, é o mais comum no Brasil e amplamente utilizado em cafeteiras elétricas simples, como as da Melitta. Sua base reta e laterais inclinadas fazem com que a água passe de maneira vertical, o que resulta em uma extração mais direta e focada, mas sem a mesma precisão do filtro cônico. 
É o tipo de filtro que não exige tanta técnica, o que o torna perfeito para o preparo diário em casa, onde a praticidade é essencial. Embora a extração seja mais direta, muitos apreciadores confiam nesse formato para preparar o tradicional café coado, famoso por pelo paladar robusto e saboroso.

A escolha
Escolher o filtro de papel certo para o café pode fazer toda a diferença no sabor, na textura e até na experiência do preparo. O primeiro ponto a ser considerado é o método de preparo, assim,  o formato do filtro deve ser compatível com o equipamento utilizado. Depois destacamos que os filtros variam conforme o tipo e tratamento do papel: Branqueado (papel branco) e Não branqueado (papel marrom ou “natural”).
O primeiro deles passa por processo de branqueamento (com oxigênio ou cloro). Se por um lado a vantagem desse tipo é sabor mais neutro com interferência, por outro, a desvantagem é que se trata de um item menos sustentável, dependendo do processo. O segundo, sem tratamento químico, é mais ecológico, biodegradável, mas pode deixar gosto de papel. Uma dica é enxaguar com água quente antes de usar.
Também é importante observar a espessura e a porosidade. Filtros mais finos deixam passar mais óleo, e como consequência temos um café mais encorpado. Já os filtros mais grossos retêm mais óleos e partículas, oferecendo um café mais limpo e leve. O tamanho também faz toda a diferença, há um certo para cada suporte.
Por fim, é preciso identificar a preferência do usuário: mais sabor ou praticidade? Quem busca mais praticidade deve usar filtros branqueados, descartáveis e com formato padrão. Para quem quer explorar sabores, é possivel experimentar diferentes espessuras, marcas e formatos. 
Outro ponto que deve ser considerado é que a escolha entre um filtro cônico, flat bottom ou tradicional depende muito do seu estilo de preparo e preferência pessoal. Para os apreciadores de cafés especiais, que gostam de experimentar novas formas de extrair o sabor, o filtro cônico pode ser a melhor opção, oferecendo controle sobre o processo de extração. 
Para quem busca uma extração mais consistente e uniforme, o filtro flat bottom é ideal, permitindo um preparo fácil e sem erros. Já o filtro tradicional (V) é perfeito para quem preza por praticidade e um café mais forte, sem muitas complicações. 
No final, o que podemos afirmar é que, independente do tipo de filtro escolhido, o mais importante é que cada xícara de café reflete a relação pessoal entre o consumidor e sua bebida favorita. 
 

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