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O Mercado Que Cuida Dos Veículos

A área de reposição é responsável pela troca dos filtros automotivos. Manutenção necessária, mas ainda pouco praticada


A área de reposição é responsável pela troca dos filtros automotivos. Manutenção necessária, mas ainda pouco praticada

por Tiago Dias

O Mercado Que Cuida Dos Veículos

A frota de veículos brasileira comprova que, a cada dia, aumenta mais o número de veículos rodando pelas cidades. De acordo com o Denatran (Departamento Nacional de Trânsito), são mais de 50 milhões de veículos, a maioria da categoria leve, para passeio.
Tomando como exemplo uma das maiores metrópoles mundiais, São Paulo registra quase um recorde. Conforme dados divulgados pelo Detran-SP, em março deste ano foram mais de 48 mil novos veículos incluídos à já imensidão de veículos nas ruas.
Assim como o trânsito aumenta, os cuidados com os carros também precisam de maior atenção quanto a troca e manutenção dos filtros.
É baseando-se nesses números que o mercado de reposição espera um feedback dos motoristas, e onde grandes fabricantes de filtros automotivos concentram seus negócios e investimentos.
“Sem dúvida, um mercado com 50 milhões de veículos em sua frota circulante oferece muitas possibilidades”, observa Charles Kuhlmann, responsável pelo mercado de reposição da Hengst, fabricante de filtros e sistemas de filtração para a indústria automobilística.

Distribuição
A cadeia de reposição automotiva é composta por diversos players e funciona como no esquema tradicional de distribuição. Além dos fabricantes de filtros, fazem parte também os distribuidores e atacadistas, que, por sua vez, atendem o mercado varejista: autopeças, oficinas, redes de aplicadores como postos de combustível, concessionárias e supermercados – são eles os responsáveis em atingir os consumidores.
“O agente da cadeia deve trabalhar como consultor do aplicador, sendo um supridor de soluções para as mais diversas necessidades regionais”, explica Carlos Alberto Barbosa, Gerente de Vendas, Marketing e Assistência Técnica para o Mercado de Reposição Automotiva da Bosch, empresa que já atua em diversos segmentos e vem investindo em sua linha de filtros, pronta para encarar o mercado de reposição.
Para ter logística regrada e, consequentemente, bons resultados, as distribuidoras precisam trabalhar com uma boa equipe de vendedores divididos entre os pontos de varejo, como confirma Odair M. Francisco, Coordenador Técnico da L. Carletti, distribuidora com mais de 35 anos em reposição, que trabalha com produtos Esso, Móbil, Filtros Fram e Dyna. “Nossa distribuição é focada no melhor atendimento, pois embora procuramos ter o melhor preço do mercado, vendemos primeiramente solução ao cliente.”
Economia que interfere no setor O aftermarket (como o mercado também é conhecido), abrangente como é, sofre influências macro-econômicas diretas, como taxas de juros e de câmbio, o que pode afetar o crédito dos clientes, bem como equivalências de preços (importação/exportação). “A economia interfere no sentido em que nunca podemos prever um aumento, que normalmente nos pega de surpresa. As matérias-primas envolvidas no processo de fabricação de filtros vêm tendo aumentos constantes, que o distribuidor dificilmente consegue repassar ao revendedor”, conta Odair.
Indiretamente, há outras formas de interferir neste mercado. O crescente endividamento do consumidor é um fator para se levar em conta ultimamente. “O consumidor está cada vez mais com sua renda comprometida com contas a pagar; no passado não tínhamos prazos de financiamento tão longos e contas como conexão em banda larga, celular etc. Isso faz com que o mesmo adie ao máximo as manutenções no seu veículo, ou então opte por peças mais baratas, com procedência e qualidades duvidosas, o que vai fazer com que tenha um deterioramento maior do seu veículo”, explica Carlos Bruzzi, diretor da Delphi Soluções em Produtos e Serviços (DPSS), divisão de aftermarket da linha Diesel da empresa na América do Sul.
Cuidados com o veículo podem ser colocados em segundo plano quando concorrem na economia familiar com alimentação, por exemplo. “Um pai de família, teoricamente, postergaria a troca do óleo e filtros de seu veículo se suas contas primárias não pudessem ser pagas antes. Vale lembrar que a troca de óleo e filtro em um veículo de passeio pode variar entre aproximadamente R$ 50,00 e R$ 300,00”, diz Emerson Mello, Gerente de Marketing da Tecfil, fabricante do segmento de filtros automotivos que está entre as primeiras posições na corrida para o mercado no país.
A linha pesada não sofre muito desse problema, já que os consumidores e as empresas ainda prezam mais pela qualidade, devido ao valor do patrimônio ser maior.
Consequentemente, essa balança econômica, que nunca pende para um lado só, pode trazer benefícios. O aquecimento econômico e aumento de riqueza (ou disponibilidade de capital circulante) impulsionam o mercado automobilístico de veículos novos, assim como os dados divulgados pelo Detran de São Paulo, e, como conseqüência, toda a cadeia de reposição.

O Mercado Que Cuida Dos VeículosUm bom mercado
Segundo Odair, o mercado de reposição automotiva é bom para quem trabalha com mix de produtos, pois o filtro por si só é um produto muito competitivo - somente trabalhando em grandes escalas consegue-se rendimento. “Nessa diversidade de produtos, existe inclusive a participação de marcas importadas, devido ao intercâmbio que a importação de automóveis promove”, conta.
O mercado possui a atuação direta de fabricantes mundiais de filtros estabelecidos no Brasil, concorrendo com fabricantes locais. Soma-se a este contexto, a participação de importadores independentes atuando no mercado.
No Brasil, há filtros comercializados por empresas que fabricam seus produtos na Europa, como por exemplo, a Hengst, companhia alemã. Charles, da engenharia da fábrica no Brasil, comenta sua visão de Aftermarket:
“Existe concorrência crescente de mercados asiáticos que normalmente entram com o atrativo do preço baixo, em alguns casos, inclusive, lançando mão de plágios – essa prática já foi verificada com relação a produtos Hengst no Brasil. Porém, em sua maioria, não atingem os níveis de qualidade e confiabilidade requeridos pelas montadoras. Daí, a importância de verificar se o distribuidor é de fato confiável”, explica.
Mesmo com essa realidade globalizada, a grande maioria dos produtos que circulam no mercado nacional é basicamente fabricada no Brasil, tanto por indústrias respeitáveis com certificações nacionais e internacionais e laboratórios de desenvolvimento adequados, quanto por empresas sem muita estrutura e com qualidade duvidosa.
“De qualquer forma existem itens fabricados por empresas multinacionais e importados por elas mesmas para venda no Brasil, e itens terceirizados por fabricantes nacionais em outros países. No entanto, os volumes são muito baixos devido aos preços no Brasil serem competitivos em relação aos outros países, no caso dos filtros os volumes encarecem muito o frete. O bom nível de relacionamento com todos os elos da cadeia é fundamental, a respeitabilidade da marca também tem uma importância grande e não se pode esquecer dos preços competitivos”, comenta Carlos Bruzzi.
Para Odair, a maior dificuldade em toda a cadeia de distribuição é exatamente essa: a concorrência. “Temos uma estrutura extremamente organizada que nos gera custos altíssimos. Algumas vezes temos que sacrificar nossas margens”, explica.
Outras questões também entram na lista dos obstáculos que surgem no caminho, como comenta Carlos Alberto: “As grandes distâncias de um país tão grande quanto o Brasil e a diversificação na composição de modelos e idade da frota, imprimem à nossa cadeia um desafio logístico de capilaridade e diversidade tecnológica”.
“Um dos fatores que torna a nossa operação mais trabalhosa do que outras autopeças é a diversidade de itens. Para a maioria de nossos parceiros comerciais este perfil já é usual”, observa Emerson.
Quanto aos números da indústria automobilística, Carlos Alberto comenta sobre alguns percentuais. “São 27% o crescimento de vendas internas de veículos novos em 2007, previsão de manutenção deste índice em 2 dígitos para 2008, o aumento da frota circulante com mais de 3 anos (frota foco do mercado independente), aquecimento da produção industrial e agrícola, fatores que impõem uma atmosfera otimista para o mercado de reposição”.
Para Charles, da Hengst, para acompanhar a tendência de crescimento é necessário seguir uma receita. “Apostamos nos produtos com qualidade superior, competindo nos mercados onde o tema qualidade de fato é relevante, como por exemplo, na linha de automóveis importados e na linha de veículos pesados. Além disso, prezamos parcerias duradouras com nossos clientes, buscando sempre o sucesso conjunto e fortalecimento da marca.”

Informalidade
Toda essa grandeza de mercado, tanto de concorrência, quanto do montante dos veículos vendidos e fabricados no país, fazem aumentar também o número de fabricantes com qualidade duvidosa. Surge então a informalidade, que invade o mercado de reposição e acaba impondo dinamismo a todas as empresas que participam para que a rede de informação seja fundamental para o sucesso de negócios. “Cada vez mais, o consumidor tem dificuldade de separar o joio do trigo, sem contar que está muito receptivo a preço e por vezes opta por óleo e filtros mais baratos, com qualidade e procedência duvidosas”, explica Carlos Bruzzi.

Conscientização
Atualmente há mais um problema além da leva de filtros com baixíssima qualidade e tecnologia. Somente uma pequena fatia dos consumidores de autopeças tem a conscientização da importância da troca e manutenção dos filtros automotivos. Campanhas junto às redes de distribuidores e aos próprios usuários alertam sobre como é fácil fazer a manutenção. Mecânicos e profissionais, que trabalham na troca de óleo e com lubrificadores, são incumbidos de esclarecer quão importante é a troca e, consequentemente, o que será evitado com essa prática: gastos, consumo, manutenção e quebra.
“Nos veículos mais novos e com maior tecnologia envolvida, percebe-se uma conscientização dos usuários para o uso de filtros com maior qualidade e sua troca em intervalos regulares. No entanto, ainda é bastante comum, principalmente nos filtros de ar, a aplicação de ar comprimido no intuito de “limpar” os filtros, para que eles durem um pouco mais. Esta prática é extremamente agressiva, pois pode causar rompimento da mídia filtrante, permitindo a passagem de partículas indesejáveis para o motor, reduzindo sua vida útil”, esclarece Charles.

O Mercado Que Cuida Dos VeículosTipos de filtros mais comuns no mercado de reposição

Filtros de ar – Utilizados para filtração do ar de admissão do motor. Na linha de automóveis pesados, há muitas vezes o filtro primário e o secundário. O filtro secundário fica dentro do primário, e evita que partículas de pó entrem no motor do veículo quando for efetuada a troca. Melhoram o rendimento e ajudam os veículos a emitir menos poluentes no ar.

Filtros de Óleo – Utilizados para filtração do óleo do cárter ou óleo da direção hidráulica. Melhoram a lubrificação, aumentam a vida útil do motor, evitando a formação de borra.

Filtros de Combustível – Utilizados para filtração de combustíveis, evitam a quebra de bomba de combustível, melhoram o rendimento e ajudam a evitar sujeiras nos bicos injetores e/ou carburadores.

Filtros de Cabine – A maioria dos veículos já sai de fábrica com filtro para ar condicionado, e o mesmo precisa ser trocado com freqüência (cada 15 mil km, ou duas vezes ao ano), a fim de garantir uma boa qualidade do ar na cabine, aumentando a segurança e o prazer de dirigir, evitando o embaçamento dos vidros. Também existem os filtros com carvão ativado, que realmente capturam os odores impróprios vindos do exterior ou do interior do veículo.

Filtros Secadores de Freio – Usados na válvula APU, extraem a umidade do sistema de freios dos caminhões e ônibus, proporcionando maior segurança ao veículo.

O Mercado Que Cuida Dos VeículosDe toda maneira, qualquer tipo de adaptação no filtro deve ser evitada, principalmente em um filtro lubrificante, pois poderá causar danos ao motor.
Essas práticas, de acordo com os fabricantes, sequer podem ser justificadas. O custo da manutenção adequada dos filtros é insignificante, levando-se em conta outras despesas de manutenção do veículo.
“A conscientização ainda é baixa. Muitos consumidores mantêm a política de trocar os filtros do óleo lubrificante a cada duas trocas de óleo, o que pode trazer grandes riscos ao motor”, diz Emerson, da Tecfil.
Carlos Alberto explica que a manutenção preventiva aplica-se bastante somente aos filtros de óleo, onde o consumidor procura respeitar os intervalos de troca sugeridos pela montadora. “Nos demais tipos de filtros, ela acaba tendo um caráter muito mais corretivo do que preventivo”. Mesmo tendo um longo caminho a ser percorrido, não há como negar que o nível de conscientização na necessidade da troca periódica vem melhorando. Devido ao aumento do número de substituições de filtros, a Delphi vê o mercado sob outra perspectiva, afinal, não faltam motivos para a manutenção preventiva. “Os consumidores e empresas estão mais atentos e consideram a troca fundamental para a diminuição do consumo de combustível, aumento de vida útil dos motores e diminuição das paradas dos veículos por “panes” de vários tipos, como por exemplo, falha na alimentação de combustível ou de óleo por entupimento”, opina Carlos Bruzzi.

 

O Mercado Que Cuida Dos VeículosNovos caminhos
Segundo o Sindipeças (Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores), a estimativa para 2008 é que 12% do share do setor de autopeças sejam focados na área de reposição. Ou seja, há muito ainda o que crescer.
Carlos Bruzzi, da Delphi, comenta que a tendência é o aumento médio do número de trocas, independente do aumento da quilometragem rodada, que também tende a crescer em função da conscientização dos usuários e empresas. “Vamos nos aproximar, portanto, do número médio de trocas de mercados mais maduros como o europeu, por exemplo.”
Com a renovação e modernização tecnológica da frota circulante, o desenvolvimento e capacitação dos aplicadores devem assumir papel primordial no futuro deste mercado.
“A fidelização da rede de aplicadores através de treinamento e capacitação profissional fará a diferença entre o grau de sucesso das empresas do primeiro e segundo níveis da cadeia, ou seja, distribuidores e varejos”, explica Carlos Alberto, da Bosch.
Já Emerson, da Tecfil, acredita que a concorrência aumentará, ocasionando assim uma seleção natural quanto à qualidade das empresas. “As empresas com perfil mais moderno e que entendem seus clientes e consumidores permanecerão. As demais perderão espaço”, acredita.
Devido ao aumento de informações, tanto através de treinamento quanto a conscientização dos usuários, novos nichos aparecerão e até mesmo novas maneiras de abordar o usuário. A questão ambiental, inclusive, será impactante, assim como já é em outros setores.
“Os elementos filtrantes da Hengst têm seguido esta tendência, reduzindo o uso de substâncias como colas e metais, por exemplo, que possam degradar o meio ambiente. Esta questão já está implícita. Novidades surgem constantemente em todos os setores. A Hengst participa ativamente de grandes avanços nas tecnologias de filtragem e gerenciamento de fluidos de motor”, comenta Charles.
Postos de gasolina, super trocas de óleo ou centros automotivos: o mercado de reposição evolui sempre conforme suas próprias necessidades.
A máxima de quem está disposto a entrar no mercado e manter-se nele: “O produto que o mercado precisa, onde o consumidor estiver”, completa Emerson, da Tecfil. O Mercado Que Cuida Dos Veículos

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