Novas idéias de filtros móveis levam esperança para quem necessita de água potável. Mas mesmo por uma causa nobre, as tecnologias ainda precisam avançar

por Tiago Dias

Por conta de diversas necessidades, a tecnologia da filtração vem sendo fabricada e projetada para ser algo cada vez menor e compacto. Se nas indústrias automotivas, por exemplo, a tendência é que os filtros diminuam de tamanho, para se adequarem cada vez mais às exigências dos novos modelos de motores, o filtro de água pode inclusive ser reduzido para caber dentro de uma garrafa ou até mesmo chegar ao tamanho de um grande canudo.
Essas novidades surgem na luta a favor da potabilidade da água no mundo inteiro. Para chegar a esses resultados, é comum a seguinte pergunta: Como a tecnologia pode cada vez mais salvar a vida das pessoas?
Um dos lançamentos que teve grande impacto recentemente é o sistema de filtragem móvel da empresa suíça Vestergaard Frandsen, batizado simbolicamente de LifeStraw, que em português significa Canudo da Vida.
O filtro nada mais é que um tubo de plástico, contendo um elemento filtrante mínimo que torna potável mesmo a água contaminada com microorganismos que provocam diversas doenças, mais comuns nas regiões dos países subdesenvolvidos, como cólera, febre tifóide e diarréia. Segundo a empresa, os pequenos filtros são fabricados em resina halógena (cinco elementos: bromo, cloro, flúor, iodo e astatino), com eficácia contra quase 100% das bactérias e cerca de 99% dos vírus.

O poder dos pequenos
Com quase 25 cm de comprimento, o LifeStraw pode filtrar até 700 litros de água, que é, basicamente, o consumo anual por pessoa. Não precisa de eletricidade ou peças sobressalentes durante o seu ciclo de vida, porém, deve ser jogado fora quando seu elemento entupir, ou seja, quando bloquear a passagem de água - o que, segundo a empresa, acontece geralmente após um ano de uso.
O sucesso do sistema levou a Vestergaard Frandsen a lançar recentemente o LifeStraw Family, que fornece cerca de 10 litros de água potável em uma hora, ou até 15 mil litros durante sua vida útil, para uma família de seis pessoas. O CEO da empresa, Mikkel Vestergaard Frandsen, afirma que há também a versão do produto disponível para grupos de ajuda humanitária em Bangladesh e na Índia, capaz de filtrar até arsênico. Atualmente, novas versões do canudo vêm sendo lançadas lá fora, com o cuidado de reduzir ainda mais o gosto de iodo resultante do processo de filtragem, que era bem mais forte na versão original.
No ano passado, uma garrafa roubou a atenção em uma feira de armamentos em Londres. O sucesso imediato deve-se a mágica de “transformar” água suja em limpa. Por fora, parece uma garrafa de esportista qualquer, mas por dentro há um avançado sistema de filtração.
Segundo divulgação do produto, o Life Saver Bottle foi fabricado para remover 99% de contaminantes e reduzir os metais pesados encontrados na água, tornando potável até mesmo a água vinda de esgoto, assim como foi demonstrado na feira. O processo dura 20 segundos e é simples. O resultado deve-se as membranas de ultra filtração e um pequeno filtro de carvão ativado substituível, acoplados no interior da garrafa.
A Life Saver Bottle evita o uso das pastilhas que purificam a água, muito utilizadas pelo exército para que em qualquer lugar, em meio a guerra, seja possível beber qualquer tipo de água. O problema é o sabor que muitos consideram desagradável. Por conta disso, um protótipo da garrafa filtrante já havia recebido um prêmio em uma conferência sobre tecnologia militar em julho.

Finalidades
A criação de pequenos filtros móveis sempre está ligada à necessidade de água potável, o que envolve (ou pretende envolver) ONGs e grupos de ajuda humanitária, para que assim sejam comprados e distribuídos em áreas pobres, como algumas regiões da África onde não há saneamento, nem o mínimo de higiene, por conta das condições precárias em que vivem os moradores.
Outro foco importante são os lugares que foram cenários de grande catástofres naturais. Michael Pritchard, que produz a garrafa, disse que decidiu criála ao ver o drama das vítimas do Tsunami na Ásia em 2004 e do furacão Katrina em 2005, que ficaram durante dias sem água potável. “Devia fazer alguma coisa. Trabalhei um pouco com alguns protótipos que não funcionavam, mas no final consegui acertar”, disse à BBC.
Com isso, pessoas que moram em regiões sem acesso a água de boa qualidade podem agora se abastecer e consumir qualquer tipo de água.
Pritchard comenta ainda que os filtros tradicionais podem bloquear bactérias que medem 200 nanômetros, mas não os vírus, que medem apenas 25 nanômetros. Já a Life Saver Bottle filtra qualquer coisa maior do que 15 nanômetros, assegura o inventor, segundo divulgado no Portal de notícias ANSA.
Pritchard disse também que mais de 6.000 pessoas morrem todos os dias pela falta de água limpa para beber. Por esta razão, ele e outras empresas, como a fabricante do LifeStraw, buscam a solução para mudar as estatísticas, dando a oportunidade das pessoas filtrarem sua própria água.
Com o objetivo benéfico, o LifeStraw foi apontado pela empresa de relações públicas Saatchi & Saatchi como a principal “idéia que mudará o mundo”, entre outras invenções, em uma competição recente de tecnologias com impacto na medicina, educação e ajuda humanitária. Já o Life Saver Bottle foi eleito Gear of the Year (equipamento do ano) pelo Men’s Journal em 2007.

Contradições
Não basta somente boas idéias, é necessário que elas realmente funcionem e tragam soluções a quem precisa. Para assegurar os resultados divulgados, a Universidade da Carolina do Norte, em Chapel Hill, Estados Unidos, testou o LifeStraw com uma amostra de água repleta de bactérias como Escherichia coli B e Enterococcus faecalis, do vírus MS2 colifago, e de iodo e prata. O resultado divulgado da pesquisa indicou que o canudo filtrou todos os contaminantes
a níveis em que não representam risco à saúde de quem ingere a água. Porém, metais pesados, assim como ferro e flúor, não conseguem ser filtrados. Do mesmo jeito, os parasitas giárdia ou criptosporídio não
conseguem ser barrados pelo elemento filtrante. A água contaminada que pode trazer doenças e problemas a quem bebe, pode trazer também, além das bactérias (coliformes): esgoto (nutrientes), metais (químicos), agrotóxicos e outros – nem todos são filtrados pelo LifeStraw.
De qualquer maneira, a água é uma substância essencial para a manutenção da vida e a cada dia que passa vemos o quão importante é o cuidado no manejo desse bem por todos.
Idéias como estas serão sempre bem-vindas, mas ainda precisam melhorar suas tecnologias e aperfeiçoar os sistemas de filtração.
Enquanto esperamos que as tecnologias fiquem mais avançadas, é necessário continuar com a conscientização contra o desperdício da água e de como tratá-la corretamente, sem correr o risco de contaminá-la.