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Rumo Ao Centenário

Na primeira vez em que aconteceu foi, para mim, um rude golpe. Já se passaram dez anos. Hoje, quando alguém se levanta para me ceder lugar no metrô, não sofro mais, embora continue polidamente recusando.


por Dr. Adanor A. A. Quadros

Na primeira vez em que aconteceu foi, para mim, um rude golpe. Já se passaram dez anos. Hoje, quando alguém se levanta para me ceder lugar no metrô, não sofro mais, embora continue polidamente recusando. Procuro consolar-me, pensando cá comigo: “Enquanto as pessoas que tentam fazer-me essa gentileza forem mais novas do que eu, tudo bem; duro vai ser quando alguém bem velhinho me fizer esse tipo de oferta...”. E sigo viagem em pé, talvez para provar que, apesar dos cabelos brancos, estou vendendo saúde e disposição.
Pois é, caro leitor, a velhice um dia acaba chegando. E, com os progressos da ciência e da tecnologia, esse estágio da vida tende a tornar-se cada vez mais duradouro. É preciso que nos preparemos para vivê-lo com dignidade e... resignação.
O envelhecimento da população tem ocupado lugar de destaque na mídia. Temos tido oportunidade de ler muitos artigos abordando o tema. Em 10 de abril, o New York Times publicou, sob o título “Treinando para ser velho”, interessante matéria, de autoria da jornalista Cláudia H. Deutsch. Acho oportuno destacar alguns pontos desse texto: Os geriatras advertem que, indubitavelmente, um bom planejamento econômico é muito importante no preparo de uma velhice tranqüila, mas pouco servirá se não for acompanhado de cuidados com a saúde física e psicológica. Muitas pessoas viverão, como aposentadas, tempo muito maior do que viveram como profissionais ativos.
Os médicos têm conseguido elaborar esquemas de prevenção de ataques cardíacos e desenvolvido métodos de diagnóstico precoce de várias moléstias que poderiam ser fatais. Entretanto, pouco conseguem fazer para evitar a redução das capacidades visual e auditiva, o endurecimento das articulações, a perda de memória, a depressão e outras mazelas que acabam por tirar do indivíduo a alegria de viver. É preciso que as pessoas se preparem para aceitar essas limitações, adotando comportamentos que lhes permitam ser independentes nessa fase da vida.
Casais de idosos, que ainda viverão muito tempo juntos, precisam tratar de harmonizar suas aspirações: é comum que ele queira viajar, ela prefira ficar em casa; que ele queira gastar, ela economizar; que ele queira recolhimento, ela agito social... Impõe-se muita negociação!
A casa onde moram idosos também deve ter características próprias, uma vez que habitações ideais para quando se tem 50 anos podem ser perigosas aos 75. Adaptações devem ser feitas, levando-se em conta, por exemplo, que “a cozinha e o banheiro dos sonhos podem se tornar pesadelos quando chega a velhice”
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Também é destacado, pelos gerontologistas, que a tristeza e a sensação de inutilidade acabam por se transformar no maior problema dos aposentados, mas crêem que seja o mais fácil de resolver. Sabe-se que todo ser humano deve ter boas razões para se levantar da cama pela manhã e que é sempre possível, ao idoso, encontrar, na comunidade onde vive, uma atividade que lhe permita sentir-se útil e ainda participar do jogo da vida. De preferência, deve ele tratar de planejar isso bem cedo, esquadrinhando setores onde seus conhecimentos e aptidões, somados à experiência, possam ser utilizados.
Numa tradução livre, citei apenas alguns trechos da excelente matéria, à qual os leitores podem ter acesso via Internet. Como vimos pela sinopse, alguns dos aspectos cruciais da velhice foram abordados pela jornalista, com muita propriedade.
Ultimamente, grande parte das especialidades médicas vem se dedicando ao estudo do envelhecimento. Até mesmo pediatras têm tratado do tema, conforme comprova o simpósio realizado em outubro de 2006, em São Paulo, organizado pela Prof. Dra. Magda Carneiro Sampaio, denominado “Puericultura para crianças que irão viver 100 anos ou mais”. Tudo com base na filosofia de que é melhor prevenir do que remediar.
Obstáculos sérios à nossa marcha rumo ao centenário são os acidentes e... as balas, perdidas ou não, disparadas por bandidões em ações isoladas ou quando se confrontam com a polícia, no bang-bang nosso de cada dia.Rumo Ao Centenário

Rumo Ao CentenárioAdanor A. A. Quadros tem 70 anos e é médico pediatra em Santo André – SP

 

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