O consumo global de energia pelos data centers pode alcançar até 945 terawatts-hora até 2030
Infraroi -
Relatório do Fórum Econômico Mundial projeta crescimento exponencial do consumo elétrico da IA e aponta caminhos para reduzir impactos e ampliar eficiência
Dados recentes do relatório Artificial Intelligence’s Energy Paradox do Fórum Econômico Mundial indicam que o consumo global de energia pelos data centers, impulsionados sobretudo por modelos avançados de inteligência artificial (IA), pode alcançar até 945 terawatts-hora até 2030, um volume superior ao consumo anual de países como Alemanha ou França.
A demanda crescente decorre tanto do processamento intensivo quanto da necessidade permanente de resfriamento de servidores que operam 24 horas por dia. Ainda assim, o mesmo relatório destaca que a IA pode ser essencial para mitigar o problema que ela própria ajuda a criar. A promessa é de que sistemas inteligentes terão capacidade de identificar desperdícios. Ao analisar grandes volumes de dados em tempo real, a tecnologia permite intervenções e ganhos de eficiência impossíveis para modelos tradicionais de gestão energética.
Como o Google reduziu o consumo de energia do data center com IA
O debate ganha força com exemplos que demonstram que a própria IA pode contribuir para diminuir a intensidade energética dos sistemas que a sustentam. Um dos casos mais citados ocorreu em 2016, quando o Google conseguiu reduzir em cerca de 40% o consumo de energia dedicado ao resfriamento de seus data centers após adotar um sistema baseado em inteligência artificial capaz de ajustar automaticamente as condições de operação.
Fora desse caso específico, empresas de tecnologia têm sido cobradas a divulgar métricas de consumo energético e emissões, em meio ao crescimento do uso de inteligência artificial e da demanda por infraestrutura digital. Relatórios internacionais apontam que data centers já representam uma fatia relevante do consumo elétrico global, e novos projetos vêm sendo acompanhados mais de perto por órgãos reguladores. O tema, antes restrito a áreas técnicas, passa agora a integrar debates públicos sobre energia, uso de recursos e responsabilidade ambiental das grandes plataformas, estando presente em fóruns que prometem movimentar a dinâmica global em 2026.
O Fórum Econômico Mundial orienta caminhos possíveis para reduzir o impacto ambiental da IA, como o uso de energias renováveis para abastecer data centers, sistemas de resfriamento mais inteligentes, transparência sobre a pegada de carbono dos modelos, chips de maior eficiência e estratégias globais destinadas a equilibrar avanço tecnológico e responsabilidade ambiental.
O paradoxo energético
A complexidade desse cenário é sintetizada por Cristiano Kruel, Chief Innovation Officer da StartSe, ao classificar o fenômeno como um paradoxo energético. Ele observa que a sociedade passa a depender simultaneamente de mais energia e de mais inteligência, em uma relação que se retroalimenta.
“De um lado, esta nova era da computação, que habilita a Inteligência Artificial, demanda Data Centers que consomem muita energia, tanto para processamento como para resfriamento. De outro, compreendemos também que com maior capacidade computacional conseguimos identificar os enormes desperdícios existentes na sociedade, da educação à saúde, da água à própria energia”, diz ele.
Kruel traça paralelos entre a usina elétrica com um data center, onde o primeiro gera energia e o segundo gera “cognições”, que na prática são cálculos matemáticos. “Logo, eu vejo que a civilização vai continuar demandando ‘energia’ e ‘inteligência’ e que uma retroalimenta a outra. O desafio será conseguirmos avançar como humanidade sem polarizações interesseiras, mas com muita sobriedade e responsabilidade”, explica o executivo