Estudo inédito sobre a destinação dos resíduos de toda a cadeia produtiva da indústria têxtil brasileira
FSB Comunicação -
Economia circular também foi destaque dos debates ao longo do dia no Pavilhão da Agência, em Belém
A assinatura de um Convênio de Cooperação Técnica da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) com a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) foi o destaque da programação desta terça-feira (11/11) do pavilhão da Agência, na Green Zone da COP30, em Belém. O documento visa desenvolver um estudo inédito sobre a destinação dos resíduos de toda a cadeia produtiva da indústria têxtil brasileira, que inclui tingimento, estamparia, produção de fibras e tecelagem.
Assinado pelos presidentes da Agência, Ricardo Cappelli, e da Abit, Fernando Pimentel, o acordo tem por objetivo mapear fluxos, volumes e práticas de destinação dos resíduos industriais e pós-consumo do setor, além de preencher lacunas de informações e promover maior integração entre indústria, varejo, recicladores e poder público. Os dados coletados nortearão a implementação de políticas públicas e estratégias empresariais de economia circular.
Segundo Cappelli, o estudo vai estimular práticas empresariais responsáveis e o desenvolvimento de negócios verdes. O avanço da economia circular, no entanto, deve estar acompanhado de políticas que garantam inclusão social e condições dignas de trabalho para as cooperativas de catadores.
“Hoje, quem mais lucra com o lixo ainda são os intermediários. Os catadores, que realizam o trabalho essencial, continuam recebendo valores muito baixos. Se não enfrentarmos essa desigualdade, criaremos uma nova indústria sustentável, mas excludente”, afirmou Capelli.
O presidente da ABDI informou que a Agência investiu R$ 17 milhões em três grandes redes de cooperativas no Distrito Federal, com aquisição de caminhões, prensas e esteiras, e anunciou que o próximo passo será apoiar a gestão e qualificação das cooperativas de modo que elas possam negociar diretamente com a indústria.
“Ou o Estado entra com financiamento e pagamento por serviços ambientais, ou essas cooperativas jamais conseguirão competir com os atravessadores. Precisamos garantir que a transição verde inclua quem está na base da cadeia produtiva”, alertou.
Pimentel, por sua vez, observou que a economia circular deve ser vista como fator de competitividade para a indústria têxtil e de confecção, setor que movimenta mais de 2 milhões de toneladas de fibras por ano no Brasil.
“Temos o desafio de transformar subprodutos industriais em valor. É um tripé: mercado, regulação e tecnologia. A logística é a espinha dorsal dessa transformação”, afirmou.
De acordo com o presidente da Abit, o Brasil possui a maior cadeia têxtil integrada do Ocidente e potencial para se tornar referência global em circularidade e rastreabilidade. Ele citou o Programa Algodão Brasileiro Responsável (ABR) como exemplo de sucesso que já rastreia o produto desde a fazenda até o ponto de venda.
“O próximo passo é incorporar materiais reciclados a esse rastreio, agregando ainda mais transparência e sustentabilidade à cadeia têxtil nacional.”
Alinhada à Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei nº 12.305/2010) e à Agenda de Descarbonização da ABDI, a parceria da ABDI com a Abit reforça o compromisso do país com a sustentabilidade, inovação e competitividade do setor têxtil.
Transição e sustentablidade
O pavilhão da ABDI na COP30 também recebeu ao longo do dia representantes da indústria que, por meio de palestras e painéis, destacaram os avanços e desafios do país na transição para uma economia circular e de baixa emissão de carbono.
Pela manhã, o pavilhão sediou o debate “Economia Circular e Clima: por que a forma atual de contabilizar emissões não funciona?”, promovido pela Fundação Ellen MacArthur. Mediado pelo gerente sênior de Políticas Públicas da Fundação, Pedro Prata, o encontro reuniu especialistas dos setores de bebidas, alumínio e do Governo Federal em discussões sobre inovação, rastreabilidade e sustentabilidade na cadeia produtiva.
“É um prazer sediar este painel em um dos dois dias temáticos dedicados à economia circular. É a primeira vez que ela é destacada dessa forma, graças ao reconhecimento, no primeiro Global Stocktake, da contribuição que as abordagens de economia circular podem trazer para a mitigação climática”, disse Prata.
O espaço da Agência seguiu abrindo espaço para reflexões sobre sustentabilidade nos painéis “Circularidade em ação: desafios e oportunidades para indústria brasileira”, realizado pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP); e “Emissões GEE evitadas pelo Programa de Logística Reversa Mãos Pro Futuro”, promovido pela Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC).
À tarde, o pavilhão foi ocupado pelos painéis “Tributação e Economia Circular: Como a política tributária pode ser instrumento para a circularidade e a descarbonização?”, realizado pelo Instituto Nacional de Reciclagem (INESFA) e Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja (Sindicerv); e “Gestão de múltiplos ecossistemas de economia circular para implementar a inovação em soluções industriais de baixo carbono”, organizado pelos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão Cepid Bridge e instituições parceiras.
Setor industrial inova com o Recircula Brasil
O pavilhão da ABDI na COP da Floresta – como também está sendo chamada a COP, em Belém – recebeu ao final da tarde um dos painéis mais aguardados, sobre os avanços da plataforma pioneira que vem transformando o modelo de circularidade no país: o Recircula Brasil.
Desenvolvida pela ABDI em parceria com a Abiplast, a iniciativa representa um avanço significativo para o setor industrial brasileiro ao promover rastreabilidade e transparência na cadeia de reciclagem do plástico.
De maneira inovadora, o Recircula Brasil viabiliza a acreditação da circularidade dos resíduos plásticos no país, tornando o processo mais eficiente, confiável e alinhado aos princípios da economia circular.
O encontro destacou os selos inéditos de certificação criados pela plataforma, que comprovam a rastreabilidade e o conteúdo reciclado dos materiais. Os selos permitem que as empresas atestem o uso efetivo de reciclados em seus produtos, medida que fortalece a confiança do consumidor e amplia o acesso a mercados internacionais valorizando, assim, a reputação sustentável da indústria brasileira.
Além de Ricardo Cappelli e Fernando Pimentel, o painel reuniu nomes de peso sob a moderação do vice-presidente do Instituto Brasileiro de Resíduos Sólidos, Carlos Silva. Entre eles, o secretário-adjunto de Economia Verde, Descarbonização e Bioindústria do MDIC, Lucas Ramalho; o presidente Executivo da Abiplast, Paulo Teixeira; a senior adviser da Alliance to End Plastic Waste (AEPW), Marina Rossi; e o diretor do Departamento de Gestão de Resíduos do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Eduardo Rocha.
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