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Schneider Electric aponta impactos das reformas da FERC no setor elétrico brasileiro

Mudanças nos processos de interconexão nos Estados Unidos mostram caminhos para otimizar o uso da rede elétrica e integrar mais renováveis no país


Recentemente, a Federal Energy Regulatory Commission (FERC), órgão regulador de energia dos Estados Unidos, aprovou um pacote de medidas para modernizar os processos de interconexão de geradores à rede elétrica. As novidades incluem estudos de interconexão em blocos (clusters), rateio proporcional de custos de reforços na transmissão, exigência de tecnologias de aprimoramento da rede (GETs) e regras específicas para integração de projetos híbridos (geração + armazenamento).

Embora sejam normas impostas nos Estados Unidos, o contexto nacional é semelhante: geração renovável concentrada em regiões remotas, gargalos de transmissão e incertezas no processo de conexão. Adotar práticas como as da FERC poderia reduzir prazos, custos e desperdício de matriz energética.  

Isso porque, apenas neste primeiro semestre, o Brasil registrou 4,09 GW de nova potência instalada, segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), sendo mais de 59% provenientes de termelétricas. Ao mesmo tempo, o país já ultrapassou 53,9 GW de capacidade solar instalada - o que representa 21,9% da matriz elétrica - e conta com mais de 22 GW de energia eólica. O desafio está em integrar esse crescimento com eficiência e previsibilidade.

Esse cenário exige mais do que expansão da geração. É preciso criar condições para que tudo o que for produzido chegue de forma segura, estável e economicamente viável aos centros de consumo. Experiências bem-sucedidas em outros mercados, como o estadunidense, mostram que ajustes regulatórios e a adoção de tecnologias podem destravar investimentos e acelerar a integração de alternativas renováveis. 

Para Fábio Castellini, diretor da divisão de Power Systems da Schneider Electric para o Brasil, este é o momento de avançar na regulação para dar mais previsibilidade ao mercado. “Se aplicarmos os mecanismos de rateio de custos e a integração de híbridos, como já ocorre nos EUA, poderemos transformar esse volume crescente de geração em matrizes sustentáveis, acessíveis e eficientes. O desafio não é apenas gerar mais, mas integrar de forma inteligente e confiável”.

Castellini aponta quatro impactos positivos que o Brasil poderá ter seguindo o exemplo norte-americano:

1. Redução de prazos e custos na conexão de novos projetos

O atual processo de interligação de novas usinas à rede elétrica brasileira ainda enfrenta gargalos significativos, que atrasam a entrada em operação dos empreendimentos e elevam os custos para os desenvolvedores. Para mitigar esses desafios, mecanismos como os estudos de conexão em blocos (clusters) e o rateio proporcional de investimentos em reforços na transmissão — já adotados com sucesso em mercados como os Estados Unidos — podem acelerar os cronogramas, reduzir riscos e aumentar a previsibilidade regulatória para investidores.

Nesse cenário, a adoção de tecnologias avançadas como os gêmeos digitais (digital twins) representa um salto qualitativo na forma como se planeja e executa a expansão da infraestrutura elétrica. Ao criar réplicas virtuais altamente precisas de ativos físicos e sistemas energéticos, os gêmeos digitais permitem simular, testar e otimizar a conexão de novas usinas antes mesmo da implementação física. Isso possibilita a antecipação de desafios técnicos, a identificação de gargalos na rede e a proposição de soluções mais eficientes e seguras, reduzindo custos e aumentando a confiabilidade do sistema. Além disso, essas simulações podem ser integradas a modelos regulatórios e operacionais, contribuindo para decisões mais ágeis e embasadas por parte dos agentes do setor, incluindo desenvolvedores, operadores e reguladores.

2. Aproveitamento máximo da infraestrutura existente

Grande parte dos reforços de transmissão exigidos por novos projetos poderia ser minimizada com o uso mais inteligente da infraestrutura já instalada. Tecnologias de aprimoramento da rede (GETs), como sistemas de controle dinâmico de fluxo de potência e compensação reativa, permitem escoar mais energia sem a necessidade imediata de obras de grande porte, evitando investimentos desnecessários e maximizando o retorno sobre ativos existentes. Complementando essa abordagem, soluções digitais como o DERMS (Distributed Energy Resource Management System) e o ADMS (Advanced Distribution Management System) desempenham papéis estratégicos na gestão e operação da rede elétrica moderna. O DERMS viabiliza o gerenciamento eficiente de recursos energéticos distribuídos — como painéis solares, baterias, veículos elétricos e cargas controláveis — promovendo maior integração, visibilidade e controle da geração descentralizada. Isso é essencial para garantir estabilidade e previsibilidade em um sistema cada vez mais dinâmico e distribuído. Já o ADMS atua como uma plataforma centralizada que integra supervisão, controle e otimização da rede de distribuição. Ele permite respostas rápidas a eventos, melhora a confiabilidade do fornecimento e aumenta a eficiência operacional, especialmente em cenários de alta penetração de renováveis e recursos distribuídos. Juntos, DERMS e ADMS oferecem ferramentas práticas e robustas para modernizar a infraestrutura elétrica, reduzir perdas, aumentar a flexibilidade e garantir uma transição energética segura, resiliente e sustentável.

3. Regulamentação da integração de soluções híbridas

O avanço das tecnologias de armazenamento de energia no Brasil está criando um ambiente favorável para a consolidação de projetos híbridos, que combinam geração renovável — como solar e eólica — com sistemas de baterias. Essa integração representa um passo importante na modernização da matriz elétrica nacional, tornando-a mais resiliente, eficiente e sustentável.Para que esses projetos se tornem parte estruturante do sistema elétrico, é essencial o desenvolvimento de uma regulamentação clara e objetiva que contemple a conexão e operação dessas soluções. Isso permitiria maior previsibilidade no despacho de energia, mitigaria os efeitos da intermitência das fontes renováveis e aumentaria a segurança operativa do sistema. Nesse contexto, tecnologias como os Advisors e Operadores de Microrede ganham relevância. Essas soluções viabilizam a operação autônoma e inteligente de redes locais, com capacidade de se isolar da rede principal em situações críticas — como falhas ou instabilidades — garantindo a continuidade e a qualidade do fornecimento de energia.

4. Mitigação de desperdício (curtailment)

Com o rápido crescimento da capacidade renovável, há períodos em que a geração supera a demanda ou a capacidade de transmissão, levando ao desligamento forçado de usinas e à perda de fonte limpa. Estratégias regulatórias e tecnológicas, como armazenamento integrado e gestão inteligente da rede, podem diminuir esse desperdício, garantindo melhor aproveitamento dos recursos e maior retorno para investidores e consumidores.

Com o avanço das renováveis e do armazenamento, especialistas apontam que é a oportunidade ideal para alinhar expansão e modernização da rede, assegurando competitividade e sustentabilidade ao setor elétrico no Brasil.,

Eduardo Mariano <eduardo.mariano@rpmacomunicacao.com.br>

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