O mercado de PET reciclado viveu uma inversão de forças
Digital Trix -
Desvalorização da resina reciclada e alta da sucata desafiam a competitividade da reciclagem
Nos últimos 12 meses, o mercado de PET reciclado viveu uma inversão de forças. Enquanto a resina virgem acumulou uma valorização de cerca de 8%, o PET reciclado de grau alimentício subiu 15%, pressionado especialmente pelo aumento expressivo no preço da sucata plástica de PET, que disparou 37% no período. O resultado foi uma perda de competitividade do reciclado em relação ao virgem — especialmente em aplicações de maior valor agregado, como embalagens alimentícias e de bebidas —, criando um cenário desafiador para os recicladores, isso, segundo dados apurados pela Maxiquim, consultoria com foco na indústria química, petroquímica e de plásticos.
Apesar da conjuntura adversa, empresas como a Cirklo, uma das maiores recicladoras de PET do Brasil, especializada em soluções de economia circular, mostra que é possível avançar mesmo sob pressão. Formada pela união de recicladoras líderes no processamento de PET pós-consumo, a Companhia adotou um modelo de atuação que combina escala industrial, rastreabilidade, integração logística e valorização dos elos mais vulneráveis da cadeia.
“A lógica do mercado precisa evoluir. Sustentabilidade não pode ser medida apenas pelo preço da tonelada de sucata. Investimos em eficiência, tecnologia e inclusão social porque acreditamos que isso garante competitividade no médio e longo prazo — e fortalece a cadeia de ponta a ponta”, afirma Irineu Bueno Barbosa Junior, CEO da Cirklo.
Momento é de pé no chão
Para Maurício Jaroski, diretor da Maxiquim, especializada em inteligência de mercado no setor reciclador, o momento exige realismo e estratégia: “a cadeia do PET reciclado ainda é extremamente sensível a oscilações de demanda e preço. O aumento no custo da sucata, somado à queda na procura por parte das indústrias, vêm pressionando as margens dos recicladores e gerando desequilíbrios em toda a cadeia — desde catadores até os grandes processadores. Nesse cenário, modelos mais estruturados e profissionalizados conseguem resistir melhor e até influenciar positivamente o mercado como um todo.”
Os dados da Maxiquim trazem que a retração nas compras de resina reciclada é percebida em diversos setores, em parte pela alta competitividade da resina virgem e, também, pela desaceleração de investimentos ESG de algumas indústrias. A consequência imediata é a redução no valor pago pela sucata, afetando diretamente a remuneração de catadores e cooperativas — base fundamental da logística reversa no país.
Ainda assim, especialistas acreditam que o futuro do PET reciclado é promissor, desde que o setor consiga superar entraves como a falta de padronização, os gargalos logísticos e a ausência de regulação que gere previsibilidade. A adoção de políticas públicas — como a exigência de conteúdo reciclado em novas embalagens — e a ampliação de compras públicas e privadas de resinas recicladas são vistas como essenciais para fortalecer a cadeia.
Para a Cirklo, no entanto, essa transição já começou. A empresa opera com marcas comprometidas com a circularidade, garante rastreabilidade em toda a cadeia e investe na formalização da coleta. Ao adotar uma visão sistêmica, a Cirklo não apenas resiste aos ciclos de baixa, mas ajuda a redefinir o padrão da reciclagem no Brasil.
Victor Felix <victor.felix@digitaltrix.com.br>