Primeira usina híbrida instalada no interior do Amazonas já está em pleno funcionamento
Sherlock Communications -
Caiambé é a primeira comunidade a receber geração híbrida com solar, térmica e baterias, que servirá de modelo para outras 23 localidades da região
No coração da Amazônia, a pequena comunidade de Caiambé, às margens do Rio Solimões, tornou-se símbolo de uma nova era na geração de energia no Brasil. No dia 29 de maio, entrou em operação, no distrito de Tefé (AM), a primeira usina híbrida do estado, desenvolvida pela Aggreko, referência global em soluções energéticas. A estrutura combina geração térmica, energia solar e armazenamento por baterias (BESS), oferecendo mais estabilidade e confiabilidade ao fornecimento local, além de reduzir significativamente os impactos ambientais em uma região historicamente excluída da rede elétrica nacional.
O projeto faz parte da estratégia do Ministério de Minas e Energia (MME), por meio do programa Pró-Amazônia Legal (CGPAL), que busca modernizar e baratear a geração de energia em sistemas isolados. Com a publicação do resultado preliminar da chamada pública de projetos no Diário Oficial da União, está prevista a replicação dessa iniciativa em outras 23 comunidades amazônicas, um marco importante no avanço da transição energética e da inclusão social na região.
Responsável pela instalação e operação da usina de Caiambé, a Aggreko agora se prepara para expandir sua atuação na região, com previsão de implantação de cerca de 88 MWp em geração solar e 105 MWh em armazenamento de energia. A iniciativa consolida um novo padrão tecnológico para o abastecimento de áreas fora do Sistema Interligado Nacional (SIN), promovendo acesso à energia limpa e contínua onde antes havia apenas escassez.
A usina instalada em Caiambé combina geração termoelétrica a diesel, energia solar e sistemas de armazenamento de energia com baterias, garantindo mais estabilidade, eficiência e redução de emissões de gases poluentes. A solução implementada conta com 1,4 MW Térmico, 373 kWp de potência solar instalada e um sistema de baterias BESS de 1 MW / 500 kWh, capaz de armazenar e distribuir energia com alta confiabilidade, mesmo durante períodos de baixa incidência solar. Com a operação da nova matriz, estima-se uma redução de aproximadamente 130 mil litros de diesel e 405 toneladas de CO2 evitadas por ano.
A hibridização de tecnologias representa uma solução estratégica para os desafios de acesso e sustentabilidade enfrentados por comunidades isoladas, como Caiambé que só pode ser alcançada por via fluvial, o que em muitos casos, significa dias de deslocamento. “Temos muita expertise em hibridização, com projetos implementados em diferentes contextos no Brasil e no mundo. Mas na Amazônia é diferente. O desafio aqui não é apenas técnico, é também logístico, climático e cultural. Desenvolver soluções específicas para este contexto, respeitando o modo de vida local e enfrentando limitações de acesso, é o que torna este projeto tão inovador e transformador”, explica Cristiano Lopes Saito, Diretor de Vendas Utilities da Aggreko no Brasil. “Considerando o desafio, precisamos garantir uma solução robusta que mantenha a confiabilidade do fornecimento, mas com menores emissões. Estamos aprendendo tanto quanto entregamos”.
O modelo híbrido de geração implementado em Caiambé marca um passo importante para a descarbonização de sistemas isolados no Brasil. A parceria com a Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI), cofinanciada pelos recursos do programa de P&D da Aneel, resultou no desenvolvimento de um sistema de controle totalmente automatizado e integrado, capaz de gerenciar as diferentes fontes de energia de forma eficiente, mesmo em condições climáticas adversas, como os frequentes dias nublados da região.
Energia para sistemas isolados
Atualmente, a Aggreko fornece energia para 26 comunidades remotas do Amazonas e emprega diretamente 196 pessoas nestas localidades e conectando locais onde a rede nacional nunca chegou e dificilmente chegará. Além disso, todo o processo de descarte de resíduos é realizado com monitoramento rigoroso e tratamento adequado em Manaus, reforçando o compromisso com a sustentabilidade ambiental.
“Caiambé não é apenas uma comunidade beneficiada, é também um laboratório vivo. Cada dado coletado aqui, cada ajuste técnico feito, serve como base para desenhar a próxima etapa do projeto. Estamos testando e validando tecnologias que poderão ser aplicadas em dezenas de outras comunidades amazônicas”, destaca Jaqueline Almeida, Gerente do projeto.
Segundo Jaqueline, o projeto também representa um marco tecnológico: “Nosso objetivo é expandir com responsabilidade. O controlador que desenvolvemos aqui é resultado de anos de pesquisa em sistemas energéticos inteligentes. Mas testá-lo em Caiambé, com todos os desafios ambientais e de conectividade, foi o verdadeiro divisor de águas. Estamos falando de uma tecnologia que pode ser a chave para descarbonizar comunidades isoladas no mundo todo, e que nasce no coração da floresta amazônica”.
Letícia Leite (leticia@sherlockcomms.com)