Reciclagem na Indústria do Aço contribui para atender à crescente demanda por corretivos agrícolas no Brasil
Gotcha -
No dia nacional da conservação do solo, especialista destaca o potencial do subproduto da siderurgia como alternativa complementar e sustentável
No último dia 15 de abril, foi celebrado o dia nacional da conservação do solo. A data, instituída pela Lei nº 7.876/1989, homenageia o nascimento do agrimensor e pesquisador norte-americano Hugh Hammond Bennett, considerado o pai da conservação do solo nos EUA. Seu legado atravessou fronteiras e influenciou práticas sustentáveis adotadas também no Brasil — país que enfrenta hoje um cenário de alerta em relação à degradação dos seus biomas.
Segundo levantamento da plataforma MapBiomas, entre 1986 e 2021, o Brasil apresentou entre 11% e 25% de sua vegetação nativa suscetível à degradação, o que representa entre 60,3 e 135 milhões de hectares. Os biomas Mata Atlântica, Cerrado, Pantanal, Pampa, Caatinga e Amazônia revelam níveis distintos de comprometimento, sendo o Cerrado o bioma com maior área absoluta de degradação e a Mata Atlântica o mais degradado proporcionalmente.
Diante desse panorama, a conservação do solo passa a exigir soluções sustentáveis e economicamente viáveis — e algumas delas já estão em prática, ainda que pouco conhecidas. Uma dessas alternativas é o aproveitamento de subprodutos da indústria do aço, especialmente as escórias de aciaria, na produção de corretivos agrícolas.
O uso de corretivos de solo é fundamental para o agronegócio nacional. De acordo com dados recentes da Associação Brasileira dos Produtores de Calcário Agrícola (Abracal), o consumo de calcário no Brasil atingiu 61,6 milhões de toneladas em 2023, o maior volume registrado em 30 anos de levantamento. Isso representa um crescimento de 8,4% em relação ao ano anterior. Desde 1993, o uso desse insumo quadruplicou. Os estados que mais aplicaram calcário no ano passado foram Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais, Paraná e São Paulo.
Nesse contexto, o aproveitamento das escórias como alternativa complementar ganha relevância. “As escórias de aciaria, em razão de seu comportamento alcalino e dos teores elevados de óxidos de cálcio e magnésio, podem ser utilizadas como corretivo de acidez do solo. Grande parte dos solos brasileiros são ácidos e necessitam de correção para neutralização da acidez”, explica Luiz Cláudio Pinto Oliveira, doutorando em engenharia metalúrgica pela UFRGS e coordenador da Comissão Técnica de Economia Circular e Sustentabilidade da ABM (Associação Brasileira de Metalurgia, Materiais e Mineração).
Além da correção de acidez, as escórias oferecem um diferencial agronômico: fornecem silício, elemento que fortalece determinadas culturas, aumentando sua resistência a pragas e doenças. “Essa é uma grande vantagem em relação ao calcário agrícola convencional”, destaca Luiz Cláudio.
Entre os subprodutos da siderurgia mais utilizados na agricultura está a escória de aciaria LD, pela alta concentração de óxido de cálcio e pela ampla disponibilidade nas usinas. Há ainda o potencial de uso de outros resíduos, como pós e lamas provenientes dos sistemas de limpeza de gases, que contêm elementos como fósforo, enxofre, zinco e potássio — desde que tratados.
Com benefícios técnicos já consolidados e utilização internacional (ex: EUA e Alemanha), os desafios para a ampliação dessa prática estão mais ligados a aspectos logísticos e regulatórios. “Atualmente existem poucos fornecedores de corretivo agrícola produzido a partir da escória de aciaria. Isso limita o alcance, especialmente em regiões distantes das usinas siderúrgicas. Além disso, a escória ainda é classificada como resíduo sólido, o que impõe barreiras regulatórias em alguns estados”, explica Luiz Cláudio. Segundo ele, uma norma da ABNT prevista para este ano deve contribuir para reclassificar materiais como a escória de aciaria como subprodutos, facilitando sua aplicação agrícola.
Um exemplo já em operação é o do produto AgroSilício, desenvolvido em Minas Gerais pela Harsco Environmental. Trata-se de um fertilizante multifuncional à base de escória de aciaria, com propriedades que promovem tanto a nutrição quanto a defesa das plantas, elevando a produtividade e a qualidade das lavouras.
O aproveitamento de resíduos industriais como insumos agrícolas é um exemplo claro de economia circular com benefícios ambientais e econômicos.
De acordo com Wender Alves, presidente da Harsco Environmental na América Latina, um dos principais desafios para a expansão do AgroSilício em outras regiões do país está na ampliação da produção fora de Minas Gerais. “O agronegócio tem demonstrado grande interesse pelo AgroSilício, que além de sustentável, traz vantagens operacionais e produtivas relevantes. Hoje, praticamente toda a produção mineira já está comprometida com vendas, o que nos levou a ampliar nossa capacidade produtiva. Estamos avançando em negociações com novos parceiros da indústria do aço para levar essa solução a outras regiões, especialmente no Centro-Oeste e Norte do Brasil”, afirma. Segundo ele, o produto reduz emissões de gases de efeito estufa em até 95% e ainda gera sucata metálica de alta pureza como subproduto.
Outro fator essencial para o avanço do AgroSilício tem sido a colaboração com a Embrapa, que contribui para o desenvolvimento técnico e validação do produto. “A parceria com a Embrapa foi fundamental para entender melhor o perfil dos solos brasileiros e as reais necessidades dos produtores. Graças a esse apoio, conseguimos adaptar e aprimorar o AgroSilício, inclusive para uso na recuperação de pastagens degradadas — ampliando ainda mais seu potencial de contribuição para a agricultura regenerativa e a conservação dos solos”, completa Wender.
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