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As tecnologias emergentes estão mudando as regras do jogo

E já podemos ver os traços da próxima onda que vai definir o futuro da energia


Por muito tempo, o setor elétrico brasileiro operou de forma centralizada, dependendo de grandes usinas e de um fluxo único de energia: da geração à distribuição, até o consumidor final. Esse modelo, eficaz no passado, hoje dá sinais de desgaste frente aos desafios de uma matriz energética mais variada, à digitalização da economia e à busca crescente do consumidor por sustentabilidade, e melhores experiências no consumo de energia. A boa notícia? As tecnologias emergentes estão mudando as regras do jogo, e já podemos ver os traços da próxima onda que vai definir o futuro da energia no país.

A incorporação de recursos digitais, como inteligência artificial (IA), Internet das Coisas (IoT) e redes inteligentes (smart grids), está causando uma mudança profunda na forma como a eletricidade é gerada, transportada e usada. No coração desse novo cenário está a capacidade de análise em tempo real, que possibilita prever picos de consumo, ajustar a oferta de energia e evitar sobrecargas ou perdas no sistema. Uma inteligência que, aplicada à infraestrutura, transforma o modelo tradicional em algo mais ágil, capaz de aprender com dados e se adaptar continuamente às condições de operação.

E já podemos ver exemplos práticos dessa virada. Empresas que adotam soluções baseadas em algoritmos conseguem usar melhor os ativos, antecipar falhas e diminuir desperdícios, resultando em operações mais confiáveis e baratas. Ou seja, é uma mudança com efeito direto na qualidade do serviço e nos custos da eletricidade para o usuário.

A descentralização altera o equilíbrio

Outro impulso importante dessa transição é a descentralização da geração, fortemente estimulada pelo avanço das fontes renováveis e pela difusão de tecnologias como os sistemas fotovoltaicos. O conceito de “prosumidores” — pessoas ou empresas que geram energia a partir de fontes próprias, como o sol, e compensam esse volume na conta de luz ao injetá-lo na rede elétrica — não é mais um teste, é uma realidade que cresce a cada mês, especialmente no Brasil, onde o clima ajuda a produção solar.

A combinação de incentivos regulatórios ou subsídios fiscais, inovação e queda nos preços dos equipamentos permitiu uma expansão notável da geração distribuída. Nesse quadro, o papel da inovação é chave não só para possibilitar a produção em vários pontos da rede, mas também para garantir sua conexão segura. É aí que entram soluções como blockchain e inteligência computacional, que ajudam a gerenciar trocas entre muitos participantes e aumentam a clareza e o controle do fluxo elétrico.

E a descentralização traz um benefício estratégico adicional: coloca o consumidor no centro do sistema. Ao deixar de ser apenas um receptor, o usuário se torna um participante ativo na estabilidade e eficiência do ambiente energético. Isso demanda um novo desenho dos modelos de negócio do setor, hoje cada vez mais focados em serviços personalizados, tarifas claras e envolvimento direto dos clientes.

Com o apoio da digitalização, fica viável criar sistemas de preços dinâmicos, em que o valor da energia muda conforme o uso e a demanda do momento, além de programas que recompensam os clientes por reduzirem o consumo em horários de pico. É essencial uma modernização regulatória, com marcos que promovam a inovação: modelos como tarifas dinâmicas — que variam conforme o horário de consumo — e ações de resposta à demanda só se tornam viáveis com uma base digital robusta e uma regulação ágil e coerente.

Da eficiência à resiliência energética

Um dos maiores desafios da área de energia é garantir resistência a eventos extremos, como secas fortes, sobrecarga da rede e variações inesperadas. A nova base tecnológica, porém, aumenta a eficiência das operações e a capacidade de resposta do sistema. Ao unir inteligência artificial, armazenamento e redes inteligentes, é possível criar circuitos autônomos e ajustáveis, capazes de reagir quase em tempo real às mudanças nas condições de funcionamento. Assim, a previsibilidade também ganha força. Modelos preditivos já calculam a geração solar com base no clima, ajustam o consumo por padrões passados e alertam sobre a necessidade de manutenção antes mesmo de falhas acontecerem.

Se hoje vivemos a digitalização e a expansão das fontes limpas, o próximo salto parece ir em direção à hiperconectividade e à união entre setores. Imagine um cenário onde veículos elétricos funcionam como baterias móveis, ligando-se à rede para entregar ou guardar energia conforme a necessidade. Ou prédios comerciais inteligentes, conectados à nuvem, negociando eletricidade em tempo real de acordo com seu modo de operar. Essas soluções pedem uma estrutura organizada para funcionar com autonomia e maleabilidade, tornando o sistema mais dinâmico, confiável e esperto.

Mas para que essa visão se concretize, não basta investir só em aparelhos ou ferramentas. É preciso combinar estratégia, políticas públicas alinhadas e regulação ágil. O futuro da energia depende da capacidade de desenvolver talentos em análise de dados, garantir que sistemas diferentes conversem entre si e estabelecer uma boa gestão das informações. O setor energético brasileiro vive um momento decisivo, entre a urgência por sustentabilidade e a oportunidade de inovação. A próxima onda já está se formando, e quem estiver mais preparado irá liderá-la.

*Rodrigo Ferreira, head de Tecnologia, Produto, Dados e Inovação da Evolua Energia 

Grazielle Franca (grazielle.franca@motim.cc)    

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