Marcus Celestino

O famigerado "seis por meia dúzia", às vezes, é uma boa. Sob o prisma estratégico e pragmático do setor automotivo, contudo, tanto baleias quanto coelhos são mamíferos. Tomemos como exemplo o caso da BMW. A empresa pretende crescer 5% em vendas no Brasil em 2023, mas fechou o primeiro semestre deste ano em patamar praticamente idêntico ao do mesmo período de 2022. 

Para os anseios da montadora de origem alemã, isso pode implicar, no frigir dos ovos, em desempenho aquém do esperado. Para se ter ideia, no janeiro-junho de 2022 a BMW licenciou 6,734 mil unidades, enquanto no primeiro semestre deste ano foram 6,365 mil emplacamentos. Resultado que representa uma queda de, justamente, 5,4% nas vendas.

No entanto, a companhia, que pretende fechar pelo quinto ano consecutivo na liderança do segmento premium, justifica os números. Segundo Michele Menchini, diretora comercial da BMW Brasil, o desempenho no semestre pode ser considerado bom justamente por conta de lacuna que a montadora ficou impossibilitada de preencher a tempo, a fim de obter melhor resultado no período.

"A produção local do X1 começou no mês de abril. Então, tivemos um gap de produto por quatro meses. Isso foi algo que não tivemos no ano passado", destacou a executiva. "Quando comparamos os emplacamentos entre os mesmos períodos de 2023 e 2022 notamos que são basicamente os mesmos números. Isso porque a produção do X1 veio ganhando tração, principalmente a partir de maio", completou.

Vale ressaltar que a BMW trouxe algumas unidades do X1 em fevereiro, importadas, a fim de dar início às vendas do SUV por aqui. Isso porque, antes, a empresa teve de preparar a sua unidade em Araquari (SC) para produzir o modelo. Daí o "gap" mencionado pela diretora comercial da companhia.

Lançamentos ajudarão a alavancar os números

Para Michele Menchini, os lançamentos da BMW este ano também ajudarão a alavancar os números – especialmente no segundo semestre, com os produtos vindouros. "Basicamente, com o ganho de tração na produção do X1 e com as novidades que traremos por agora, como o iX1 e o M2, por exemplo, pretendemos manter nossa liderança no segmento premium e também atingir esse crescimento de 5% nas vendas", enfatizou.

Além das boas novas, um, digamos, veterano também pode ajudar a BMW a atingir sua meta no país. É o Série 3, modelo que, assim como o X1 a combustão, é produzido em Araquari. "Os lançamentos, aliados aos números de X1 e Série 3 nos deixam confiantes. Até mesmo porque, se você somar estes dois últimos, eles representam entre 60% e 65% de nossas vendas atualmente", frisou a diretora comercial da montadora no Brasil.

BMW estuda produção do iX1, variante 100% elétrica do X1, no Brasil

Além de todos os fatores que deixam a BMW convicta de que atingirá a meta de crescimento de 5% no Brasil, há ainda outro ponto que deixa a montadora relativamente tranquila dentro do segmento premium: sua fábrica. Hoje, Araquari opera em turno único e produz 10 mil carros por ano, mas tem capacidade para chegar a 35 mil unidades. Além disso, segundo a própria companhia, a unidade está pronta para fazer veículos eletrificados.

E é aí que entra o iX1. Lançado na terça-feira, 18, o modelo é uma variante 100% elétrica do X1, já feito localmente. Não à toa, a empresa de origem alemã avalia a produção do modelo no país. 

"A planta [de Araquari] é muito flexível. No entanto, a produção de modelos no Brasil, sendo eles elétricos, híbridos ou a combustão, depende muito da demanda de mercado", salientou Michele Menchini. "Se o mercado apresentar uma demanda por elétricos, isso[ a produção do iX1] vai ser colocado em pauta. Ou seja, se os clientes determinarem que a gente tem volume pra isso, sim, a gente vai analisar o tema com mais profundidade. Hoje não temos nada confirmado", completou a executiva.

Vale ainda ressaltar que, de acordo com Michele, o iX1 representará um terço das vendas dos veículos elétricos do portfólio da BMW no Brasil. Justamente por isso, o SUV larga na frente caso a montadora opte por encetar a produção de automóveis do segmento na unidade de Araquari.