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Desafios que Pablo Di Si vislumbra para a Volkswagen daqui para a frente

Em entrevista, Pablo Di Si conta como a montadora ajusta seu modo de trabalhar e os seus planos nas áreas de descarbonização, conectividade e eletrificação


Paulo Braga, AB

Uma relação ainda mais integrada com fornecedores e parceiros. Não só para enfrentar a pandemia do novo coronavírus, como para se preparar para a evolução inevitável da indústria automotiva no caminho da mobilidade sustentável e conectada. Esses são alguns dos desafios que o CEO da Volkswagen América Latina, Pablo Di Si, vislumbra para a montadora alemã daqui para a frente.

Em entrevista exclusiva à Automotive Business, o executivo explica como a pandemia obrigou a empresa a se empenhar em novas tendências tecnológicas e se adequar no home office. Di Si também comenta como os carros estão evoluindo tecnologicamente (e ficando mais caros) e trata de temas como a importância do etanol e a chegada de veículos elétricos (incluindo a rede de recarga), híbridos e a célula de combustível. Porém, só em um horizonte mais distante entram no radar os veículos autônomos.

O CEO da VW na região ainda destaca a importância de trabalhar ao lado dos fornecedores e parceiros no desenvolvimento de produtos e serviços com foco na mobilidade do futuro, nas práticas sustentáveis e em produtos cada vez mais conectados. E considera o programa Rota 2030 como um bom caminho para alavancar a indústria automobilística brasileira.

Automotive Business - Quais os planos da VW para a eletrificação no Brasil?

Pablo Di Si - A nossa estratégia consiste no lançamento de carros flex, híbridos e elétricos nos próximos anos na região América Latina, sendo seis modelos híbridos e elétricos. Começamos em 2019, quando lançamos o Golf GTE híbrido plug-in, combinando o motor elétrico e o motor a combustão e desde o ano passado os nossos modelos elétricos ID.3 e ID.4 estão sendo apresentados na região para testes de mercado. Importante considerar que o Brasil é praticamente um continente devido à sua extensão.

Mas quais são os desafios nesse caminho rumo à eletrificação para a VW e a cadeia automotiva?

Não conseguiremos eletrificar todo o país num curto espaço de tempo em função de seu tamanho, seria preciso muito investimento. Então, o carro híbrido é uma excelente transição de dois, três, quatro anos até que cheguem os carros elétricos de forma mais concreta. Nós, como Volkswagen, fizemos parceria com a EDP, empresa de energia portuguesa, a Porsche e a Audi e começamos a instalar carregadores ultrarrápidos desde o Espírito Santo até Santa Catarina. O trabalho conjunto do governo, iniciativa privada, entidades e universidades é fundamental para o avanço da infraestrutura da eletrificação no país. Estamos discutindo com alguns parceiros, como governo, entidades, usinas e universidades, o desenvolvimento de uma tecnologia complementar à eletrificação baseada no etanol, com grande potencial de exportação para outros países emergentes. Por isso, inclusive, inauguraremos o nosso Centro de Pesquisa & Desenvolvimento para biocombustíveis no segundo semestre de 2022.

O uso de células de combustível utilizando etanol vai estar no radar da VW no país?

Sim. Só não consigo precisar exatamente quando. Estas tecnologias ainda estão em fase de desenvolvimento, principalmente por parte das universidades. O que temos feito é conscientizar o cliente de que o etanol é uma opção de baixa emissão de CO2 quando comparado à gasolina, uma solução nacional já utilizada em motores flex, e que pode ser base para tecnologias complementares aos carros híbridos e elétricos. A Unicamp, com quem temos uma parceria firmada, por exemplo, tem feito pesquisas de vanguarda, que podem transformar o etanol em uma fonte de energia para abastecer um carro elétrico no futuro, tecnologia com grande potencial de exportação e importante para a competitividade da indústria automobilística nacional. Além disso, temos acordos com a InovaUSP e Raízen que irão contribuir com a nossa estratégia rumo à mobilidade sustentável.

E quanto aos veículos autônomos? Em que horizonte eles vão chegar ao Brasil?

O carro autônomo já existe na VW e em outras montadoras. A tecnologia já existe, mas o seu desenvolvimento está mais rápido do que as leis ou infraestrutura dos países. É preciso ter uma rodovia sem buracos, com linhas que estejam bem pintadas, porque há sensores que vão medindo o terreno e dirigindo de forma autônoma. Imagino que ainda vai levar alguns anos para chegar até o Brasil. E deve ser gradual, começando por cidades grandes (como São Paulo ou Rio de Janeiro), mas de uma forma controlada.

A pandemia obrigou as empresas a se empenharem na digitalização e no home office com maior rapidez. Como será essa evolução nos próximos anos, no período pós-pandemia?

Nós já adotamos o modelo de trabalho híbrido-flexível para os times administrativos desde setembro do ano passado. Foi o modelo de trabalho que veio para ficar. São de dois a cinco dias no escritório. Isso traz mais flexibilidade e mantém o convívio que tanto precisamos com os colegas.

Os carros estão evoluindo tecnologicamente e ganhando maior conteúdo. Ao mesmo tempo, ficaram muito mais caros. Essa é uma tendência irreversível?

A composição do preço do veículo leva em consideração diversos componentes: variação cambial das peças que são importadas, preço das peças locais e quanto mais tecnologia e segurança, maior é o valor agregado do carro também. É preciso também levar em consideração o panorama econômico, no qual temos juros altos e crédito mais caro, bem como a carga tributária. É necessário um plano do governo que facilite o acesso ao crédito.

As montadoras estão baseando o desenvolvimento de produto em um número reduzido de plataformas. O que há por trás dessa estratégia?

Sim, é uma tendência. Nós utilizamos a estratégia MQB aqui na VW. Isso permite otimização de custos, eficiência produtiva por conta de escala e democratização da tecnologia. Com ela, podemos produzir diferentes estilos de veículos numa mesma linha de produção, reduzindo a complexidade dos processos produtivos.

O Rota 2030 é uma promessa para o futuro ou um programa concreto para alavancar o desenvolvimento da indústria automobilística brasileira?

As metas de eficiência energética do Rota 2030 já estão em prática na Volkswagen. Nós já estamos trilhando este caminho há alguns anos com o Way To Zero. Mas é preciso ter ainda mais previsibilidade no nosso negócio pois o desenvolvimento na indústria automobilística demanda muito investimento e tempo. É importante também ter a convergência de políticas no Brasil para energia renovável, como o Combustível do Futuro, já publicado no Diário Oficial da União, que abrange todos os meios de transporte (aviação, marítimo, transportes pesados e carros) no conceito de poço à roda. Por isso, defendo, por exemplo, a criação hoje de um “Rota 2050”, possibilitando às empresas se prepararem adequadamente, no prazo correto, para as legislações que virão no futuro.

Pesquisa do Google e ComScore indicou que 95% dos interessados na compra de automóveis usam o digital como fonte primária de informação. No entanto, mais de 95% das compras ainda acontecem nas concessionárias. Essa tendência verificada no mercado norte-americano corresponde a uma realidade também no Brasil? Com que velocidade as compras on-line vão evoluir por aqui?

Temos também notado uma maior intenção do consumidor nas compras on-line. E estamos aptos para atender aos dois mundos: online e físico. Temos nossa plataforma de digitalização da rede, o DDX (Digital Dealer eXperience) implementado em todos os nossos concessionários. O sistema é composto por muita tecnologia, como realidade virtual e aumentada, configurador 3D com touch screen, módulo de venda móvel, onde os concessionários podem ir até os clientes e, por meio de um tablet e um óculos de realidade virtual, apresentar todos os veículos com muita qualidade, além de ter a opção de realizar a venda, contando com toda a informação por meio de integrações com estoque, nosso banco etc. Isso nos permitiu oferecer uma importante ferramenta que poderia ser usada fora das lojas e em muitos casos com o cliente remoto, conhecendo os produtos com toda segurança de sua casa, mas acessando plataformas tecnológicas.

Como as empresas do setor automotivo vão enfrentar o período pós-pandemia? Elas estarão preparadas tendo em vista as lições já aprendidas?

Sim e as palavras-chave são: localização de componentes, inovação e digitalização. Só com esses três fatores poderemos aumentar a competitividade da nossa indústria.

Como estimular a cadeia de suprimentos local a sobreviver em ambiente tão competitivo? 

Acredito que proximidade e comunicação clara com a nossa base de fornecedores são elementos chaves para estimular a nossa cadeia de fornecedores. Nós dependemos de uma indústria local forte e alinhada com a nossa estratégia de futuro para todos se manterem competitivos, ainda mais em um momento de transformações que estamos vivendo agora. Trabalhando em conjunto e com objetivos em comum toda a indústria irá se beneficiar e é nossa função promover a cadeia com parcerias mostrando que a VW é o parceiro certo na região, seja a curto ou longo prazo.

 

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