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Geo Energética pretende investir cerca de R$ 300 milhões no ano que vem

Em entrevista à Bloomberg Línea, CEO da companhia fala sobre projetos previstos e sociedade com a Raízen em usinas de biogás


A GEO Energética, líder brasileira na produção de biogás obtido a partir dos resíduos da indústria sucroalcooleira, com operação em escala industrial no Paraná, pretende investir cerca de R$ 300 milhões, podendo chegar a R$ 450 milhões, no ano que vem, aproveitando a maior demanda e o avanço dos projetos de energias renováveis no Brasil e no mundo. Em entrevista à Bloomberg Línea, o CEO da companhia sediada em Londrina (PR), Alessandro Garderman, disse que os recursos vão para a construção de novas usinas de biogás.

— São três projetos, podendo ser quatro. São novas unidades. Nosso modelo de negócio sempre coloca uma unidade ao lado do gerador de biogás, do gerador de resíduos. Cada potencial tem de colocar um investimento novo. Estamos fazendo um projeto novo, que é um investimento de cerca de R$ 200 milhões no Mato Grosso. Temos ainda mais duas unidades menores, usinas de biogás de R$ 50 milhões, uma no Estado de São Paulo e outra em um Estado do Sul, que não posso revelar — diz Garderman, que também não informa o nome do município paulista que receberá a nova usina de biogás, alegando acordo de confidencialidade.

Em Mato Grosso, atua a Uisa (ex-Itamarati), considerada a maior usina sucroalcooleira da região Centro-Oeste. No Sul, a Geo Energética tem o centro de pesquisa e desenvolvimento de tecnologia em biogás em Londrina e também possui uma usina de biogás em Tamboara (PR).

O plano de investimentos para 2022 não inclui a participação da Geo em projetos (uma ou duas unidades) com a Raízen, join venture do grupo Cosan com a Shell, que abriu capital na B3 em agosto e pretende construir 39 usinas de biogás. Uma delas está prevista para entrar em operação em 2023.

A Geo e a Raízen são sócias da Usina Bonfim, apresentada como a maior usina de biogás do mundo, em Guariba (SP), inaugurada no fim do ano passado, dizendo ser a primeira planta no mundo em escala comercial a adotar a tecnologia de conversão da torta de filtro e a vinhaça (subprodutos da cana) como matéria-prima na geração de eletricidade.

— A gente montou a joint venture com a Raízen com o objetivo de explorar biogás em todas as usinas da Raízen. A gente participa do desenvolvimento do projeto. A Geo desenvolve, está no conselho do projeto, e estamos entusiasmados para fazer acontecer — afirma o CEO.

IP — Garderman diz que o IPO (oferta inicial de ações) da Raízen, o maior do ano na B3 com captação de R$ 6 bilhões para financiar o programa de crescimento da companhia, contribuiu para melhorar as perspectivas para o mercado de energias renováveis.

— O IPO ajudou bastante, porque foi bastante focado nos potenciais do etanol de segunda geração e no biogás — diz Garderman, acrescentando que o foco da GEO Energética no momento é desenvolver e entregar projetos de biogás, e não tocar um plano de IPO.

Através da biomassa de cana-de-açúcar, a Raízen consegue oferecer um portfólio de produtos renováveis, que inclui biocombustíveis, biogás, energia renovável de cogeração do bagaço da cana-de-açúcar e outros produtos, tais como pellets de biomassa. O etanol de segunda geração (E2G) emite 16 gramas equivalentes de dióxido de carbono por Megajoule (CO²/MJ), comparado a 23 no etanol de primeira geração (E1G) de cana-de-açucar, 58 no E1G de milho, 87 na gasolina brasileira e 107 na gasolina norte-americana, segundo a Raízen.

O CEO da Geo Energética diz que aumentou o interesse estrangeiro no mercado brasileiro de energias renováveis. “Tem bastante gente olhando, players globais de biogás querendo operar no Brasil, interessados na molécula renovável, mas nosso negócio é fazer parceria e sociedade com os detentores de resíduos”.

“Pré-sal caipira” — A crise energética também contribui para o setor receber maior atenção. —Hoje o Brasil passa por uma crise energética importante. A demanda por qualquer molécula descarbonizada é gigantesta. A hora de fazer biogás é agora. Não temos a menor dúvida—.

Também em agosto, a Geo Energética iniciou a operação de uma nova usina com a Cocal em Presidente Prudente (SP), conectada a gasoduto dedicado para gás renovável, com previsão de realizar a primeira venda de gás e exportar energia ainda neste quarto trimestre.

— A gente quer agregar valor e produto dentro da cadeia de valorização energética de resíduos, de produção de moléculas renováveis, energia e descarbonização. A gente quer criar uma companhia global, criar um mercado global de metano renovável — diz o CEO.

Ele usa a expressão “pré-sal caipira” para ilustrar o potencial do mercado de energias limpas, principalmente como oportunidade para o agronegócio nacional. “O modelo da Geo é levar o modelo de aproveitamento de produção de energia elétrica aos produtores do agronegócio, principalmente focados em cana. Tem muita coisa de potencial, é o tal do pré-sal caipira”.

Leilão — A companhia pretende ainda participar no dia 21 de dezembro do leilão de reserva de capacidade, promovido pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), voltado para a contratação de usinas termelétricas, que acontece no contexto de crise hídrica neste segundo semestre.

— O Brasil precisa de energias armazenáveis e despacháveis, mas também decarbonizadas. O que hoje está dando garantia de abastecimento para o sistema elétrico nacional são as términas despachadas, descarbonizadas — afirma.

A disparada do dólar é um desafio para o CEO, uma vez que 30% dos custos das operações estão atrelados à variação da moeda norte-americana. —O dólar já está estressado, mas a gente conseguiu entregar os projetos dentro do custo esperado, pois estamos trabalhando de uma maneira correta — disse o CEO, em alusão ao projeto desenvolvido com a Cocal ao longo da pandemia da Covid-19. | Sérgio Ripardo/Bloomberg Línea

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