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Ford cria divisão de veículos comerciais para vender Transit uruguaia

Van montada pela Nordex no Uruguai chega ao Brasil até o fim do ano


Antes de começar a vender nos mercados sul-americanos a van Transit montada no Uruguai desde agosto passado, a Ford criou uma divisão de veículos comerciais para cuidar de todas as vertentes do novo negócio, incluindo atendimento dedicado de vendas e pós-vendas, além de conexão do veículo com a internet para rastreamento e monitoramento. A Transit produzida na Turquia já foi vendida no Brasil de 2009 a 2014, quando a Ford decidiu parar a importação por causa da desvalorização cambial – com o dólar cotado na época em torno de R$ 2,30 –, o que segundo a fabricante tornou o preço do veículo inviável diante de concorrentes com produção local, como Renault Master e Iveco Daily, ou mesmo a Mercedes-Benz Sprinter feita na Argentina.

Agora montando a Transit na Nordex, no Uruguai, com a maior parte de componentes importados semidesmontados da Turquia – e câmbio superando os R$ 5,20 –, Rogelio Golfarb, vice-presidente da Ford América do Sul, avalia que “a operação é mais competitiva e menos impactada pela volatilidade cambial”. Ele não revela qual o porcentual de conteúdo da Transit adicionado no Mercosul, mas diz que a van já tem fornecedores de peças no Brasil, Uruguai e na Argentina, com isenção de impostos, o que em tese reduz os custos de produção.

Com a operação uruguaia, a Ford espera compensar parte do câmbio desfavorável para a importação de componentes com o regime tarifário estabelecido entre Brasil e Uruguai, que prevê a isenção de imposto de importação para veículos montados no país vizinho com conteúdo local do Mercosul mínimo de 50%, mas que pode ser bem menor dentro de um índice crescente de apenas 25% no primeiro ano de produção, 33% no segundo e 40% no terceiro, dentro de uma cota máxima de importação de US$ 650 milhões. 

A fábrica uruguaia será a quinta no mundo a montar a Transit, hoje também produzida nos Estados Unidos, na Turquia, Rússia e China. A fabricante afirma ter investido US$ 50 milhões para equipar uma área de 17 mil metros quadrados na Nordex exclusiva para a montagem da Transit, com cerca de 200 empregados, e construiu uma pista de testes no local. A Ford não informa a capacidade anual de produção, mas segundo fontes locais o volume deve girar entre 5 mil e 8 mil unidades por ano, a maior parte destinada ao mercado brasileiro, mas o veículo também será vendido em outros países sul-americanos, como Argentina, Chile e o próprio Uruguai. 

Reconquista de clientes

Com a Transit, a Ford espera reconquistar clientes do segmento para surfar em um mercado em franca expansão, que ganhou mais relevância com a pandemia, que multiplicou as compras on-line e as entregas urbanas. De acordo com números levantados pela montadora, em 2020, mesmo com o impacto da Covid-19, a demanda por de vans de carga e passageiros em 2020 caiu bem menos do que outros segmentos de veículos. Entre 2016 e 2021, a estimativa é de crescimento de 24% na América do Sul, de 54 mil veículos há cinco anos para 66,6 mil este ano, metade disso somente no Brasil, que anotou neste mesmo período aumento de 47% nas vendas, para 33,1 mil unidades esperadas em 2021. 

Segundo Golfarb, o lançamento da nova estrutura de atendimento para clientes de veículos comerciais antes mesmo da chegada do produto ao mercado é parte da estratégia para reconquistar consumidores brasileiros da Transit, que ficaram decepcionados com a paralisação das importações desde 2014, quando o modelo chegou a ter participação de 3% nas vendas do segmento no Brasil. 

Mais recentemente, em 2019, a Ford aumentou mais a desconfiança ao decidir sair do mercado de caminhões e fechar a fábrica de São Bernardo do Campo (SP), o que foi aprofundado por outra ação ainda mais radical, anunciada logo no início deste ano, de interromper definitivamente todas as suas operações industriais no País, com o fim da produção de carros e fechamento das fábricas em Camaçari (BA), a Troller em Horizonte (CE) e motores em Taubaté (SP). 

“É verdade que saímos do mercado de caminhões, foi uma decisão global, e que paramos de importar a Transit por causa da desvantagem cambial. Mas sempre fomos muito competentes enquanto atuamos nesses segmentos. Agora queremos mostrar ao cliente brasileiro que essa competência continua com uma oferta completa de serviços dedicados e um produto, a Transit, que é líder no mercado de veículos comerciais [leves] na Europa e nos Estados Unidos”, afirma Rogelio Golfarb. 

A Ford garante ter montado no Brasil o mesmo modelo de negócio que faz da Transit um sucesso nos mercados da América do Norte, com mais de 1 milhão de unidades produzidas desde 2014 nos Estados Unidos, onde detém 40% de participação nas vendas de vans, e na Europa, onde lidera o segmento desde 2015, com 220 mil veículos vendidos só em 2021, equivalente a 16% de market share. A fabricante aponta que sua van tem custo total de operação de 2% a 3% menor do que a concorrência, além de manutenção que no Brasil será 15% mais barata (considerando as cinco primeiras revisões ou reparações por acidente, com serviço e troca de peças por desgaste).

“Investigamos a jornada desse cliente e criamos para ele um produto com um pacote completo de serviços em todos os momentos, com o objetivo de reduzir seu custo operacional, a principal variável que ele leva em consideração na hora de escolher um veículo comercial”, destaca Gullermo Lastra, diretor responsável pala nova divisão Ford Pro na América do Sul.

Desenvolvimento no Brasil e assistência dedicada

Apesar de montada no Uruguai com grande volume de conteúdo importado, a Ford destaca que a Transit passou por um intenso desenvolvimento para o mercado sul-americano. Segundo a fabricante, a equipe brasileira de engenharia – que segue operando no centro de desenvolvimento em Camaçari (BA) e na pista de testes de Tatuí (SP) – dedicou mais de 20 mil horas de trabalho para adaptar o veículo, aplicou 2,4 mil horas de testes, além de rodar mais de 1 milhão de quilômetros para validar o veículo às legislações locais de segurança e emissões. 

Após a reestruturação da rede para vender só veículos importados, até o fim de 2021 a Ford espera manter abertas no País 110 concessionárias. Todas vão comercializar a Transit, mas foram preparadas para dar atendimento exclusivo e mais rápido aos clientes de veículos comerciais, com assistentes técnicos e boxes dedicados nas oficinas. 

A ideia é oferecer um ecossistema para assegurar o maior tempo de uso, um fator-chave para esse tipo de cliente que usa o veículo como instrumento de trabalho. Para garantir o fornecimento de peças de reposição, foram instalados cinco centro de distribuição no País (Salvador/BA, Gravataí/RS e mais três em São Paulo, localizados em Cajamar, Porto Feliz e Barueri), que juntos armazenam 20 mil unidades de 2 mil tipos de componentes. 

A divisão Ford Pro também conta com uma central de atendimento 24 horas, que além de receber chamadas, também pode monitorar remotamente dados enviados pela Transit, que sai de fábrica equipada com um modem para conectar o veículo à internet. Já conhecendo o possível problema à distância, o atendente pode optar por enviar o socorro mecânico ao local, para ganhar tempo, ou encaminhar o guincho em casos mais graves. A conexão on-line também permite acesso a funções pelo aplicativo Ford Pass no smartphone, que mostra dados da van e também pode agendar manutenções. 

A Ford também promete para a Transit cestas de peças de desgaste e colisão “por valores competitivos”, além de pacotes de manutenção Ford Protect e revisões a preço fixo. A garantia é de um ano ou 100 mil km. 

Primeiro passageiros, depois carga

As primeiras Transit que vão chegar ainda este ano ao mercado brasileiro, provavelmente entre outubro e novembro, serão os modelos minibus, para passageiros, que tem quatro versões: para 14 ou 15 passageiros (mais o motorista) com chassi mais curto e 17 ou 18 no mais longo. Também será oferecida uma versão envidraçada sem assentos, livre para diversos tipos de configurações (implementações) internas.

Somente no primeiro trimestre de 2022 chegam os furgões fechados, com 10,7 m3 de área para carga no chassi curto ou 12,4 m3 no longo. 

A Ford ainda não revela as especificações técnicas da Transit montada no Uruguai, que serão divulgadas somente quando o veículo for lançado comercialmente. Apenas informa que vai contar com sistemas modernos de conexão e segurança, incluindo tecnologias semiautônomas de auxílio ao motorista, direção assistida elétrica com três modos de condução, modem integrado de fábrica com aplicativo Ford Pass e integração direta com as concessionárias e a central Ford Assistance. 

Também ainda não foram confirmados as configurações de powertrain, mas a Ford deixou escapar que a motorização diesel já atende as normas de emissões Euro 6, o que leva a concluir que o motor usado será o mesmo aplicado no modelo europeu, o turbodiesel 2.0 de 170 ou 213 cavalos, que na Europa pode ser equipado com transmissão manual de seis marchas ou automática de 10 em versões topo de linha. 

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