Publicidade

Great Wall começa a preparar sua entrada no mercado brasileiro

Montadora chinesa estuda opções de produção enquanto se prepara para vender seus carros no País


PEDRO KUTNEY, AB

A chinesa Great Wall começou este ano a preparar sua entrada no mercado brasileiro e estuda duas opções de produção no País: construir uma fábrica nova ou comprar uma das duas que foram desativadas este ano, a planta da Ford em Camaçari (BA) ou a da Mercedes-Benz em Iracemápolis (SP). Fontes familiarizadas com as negociações da empresa confirmaram que as conversas estão de fato acontecendo, mas ainda em estágio preliminar. A Great Wall ainda não definiu qual estratégia de fabricação local adotará no Brasil, mas as vendas de veículos importados da China estão previstas para começar no início de 2022.

Na sexta-feira, 18, a agência Bloomberg noticiou que a Great Wall mantém conversas com o grupo Daimler (dono da Mercedes) sobre a possível aquisição da unidade de Iracemápolis fechada em dezembro passado, onde a fabricante disse ter investido R$ 600 milhões e entre 2016 e 2020 montou os modelos Classe C e GLA. Um porta-voz da empresa alemã declarou à Bloomberg que a companhia continua a explorar diferentes opções para a planta, sem dizer quais. Procurada por Automotive Business, no Brasil a Mercedes-Benz limitou-se a dizer que não iria comentar o que chamou de “especulações”.

A negociação com a Daimler pode enfrentar conflitos de interesses, uma vez que Li Shufu é o maior acionista do grupo alemão e sócio controlador da Geely, maior concorrente privada da Great Wall na China, que por sua vez mantém parceria com a BMW, que compete diretamente com a Mercedes-Benz. Em tempo, desde 2010 Shufu também controla outra marca de luxo, a sueca Volvo Cars.

A outra opção da Great Wall está na Bahia e talvez seja grande e cara demais para as pretensões da chinesa. Após a Ford anunciar em janeiro passado o fechamento de suas fábricas no Brasil, o governo baiano criou um grupo de trabalho para atrair possíveis compradores para a fábrica de Camaçari e confirmou que fez contato com a embaixada da China no País para fomentar o interesse de montadoras chinesas.

Em outra frente de negociações, a imprensa noticiou que no fim de abril passado a Great Wall teria mantido reuniões com autoridades brasileiras em busca de incentivos fiscais, com o objetivo de instalar uma fábrica de carros elétricos no Sudeste, possivelmente no Rio de Janeiro. Mas nada foi confirmado.

INTERESSE ANTIGO

Não é de hoje o interesse da Great Wall em instalar uma base no Brasil, maior mercado da América do Sul e uma das regiões do mundo incluídas nos planos de expansão internacional da empresa. Na região a fabricante já mantém uma pequena linha de montagem no Equador e vende seus carros em diversos países, como Uruguai, Peru, Bolívia, Paraguai, Argentina e Chile – este último onde atualmente faz seu maior volume regional, com 2,4 mil veículos vendidos e faturamento de US$ 44 milhões em 2020.

Durante um evento na China em setembro de 2012 a Great Wall confirmou a Automotive Business que estudava formas de produzir seus carros no Brasil, pois na época a sobretaxação a veículos importados criada pelo Inovar-Auto praticamente inviabilizava qualquer operação por meio exclusivo de importações. No mês seguinte, a empresa montou estande no Salão do Automóvel de São Paulo, apresentou alguns de seus carros e confirmou a intenção de produzir no País, mas o projeto foi abandonado em função das exigências do Inovar-Auto, que vigorou até 2017.

Mais recentemente o interesse de reentrar no mercado brasileiro ressurgiu com os novos planos de expansão internacional da maior fabricante de veículos privada da China. No Brasil, embora o planejamento de produtos ainda não seja conhecido, a Great Wall registrou no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) dois modelos: o SUV médio Haval H6 e a picape média Série P.

Fundada em 1984, no ano passado a fabricante vendeu mais de 1 milhão de veículos de quatro marcas: a generalista Great Wall, a Haval especializada em SUVs, a Wey em homenagem ao fundador Jack Wey que produz SUVs mais luxuosos, e a ORA, uma divisão exclusiva de carros elétricos. Atualmente são sete fábricas na China e cinco linhas de montagem no exterior, incluindo Equador, Rússia, Malásia, Bulgária e Tunísia. No ano passado, a empresa comprou plantas que a GM fechou na Tailândia e Índia. O Brasil pode ser o próximo passo do plano global de expansão de produção, mas como é próprio das corporações chinesas, muitos avanços e retrocessos ainda podem acontecer.

Publicidade