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Engenharia Frugal

Gestão brasileira preocupa Europa e Estados Unidos


O mundo anda se espantando com as aquisições que algumas empresas e grupos empresariais brasileiros estão fazendo, comprando empresas tradicionais em mercados bem estabelecidos, como Europa e Estados Unidos. E juntamente com este "espanto", estão tomando conhecimento pela primeira vez do estilo de gestão brasileiro. Preocupam-se, com razão.
Para quem achava que o Brasil era um país povoado por Carmens Mirandas e cheio de jacarés, onças e macacos nas ruas, o espanto é maior. Estão na verdade, assustados com a agressividade do novo estilo gerencial que está sendo implantado.
Entre as últimas notáveis aquisições e fusões temos: Inbev => Anheiser-Busch; JBS => Pilgrim Pride; e Gerdau => American Steel. Visitei Tampa, na Flórida (EUA), no final de 2008, cidade sede da Anheiser-Busch e American Steel, e já havia congressista americano tentando passar leis que proíbem empresas americanas de marcas consideradas "estratégicas" ou "tradicionais", de serem compradas por estrangeiros (leia-se: brasileiros). Perceberam que empresas como Gerdau pegam o dinheiro deles via BOVESPA e compram empresas. Os funcionários das empresas adquiridas também não gostaram muito de se reportar a chefes brazucas por lá.
Mas qual é o segredo, ou melhor dizendo, a diferença do estilo gerencial brasileiro, contra o estilo gerencial nos Estados Unidos e na Europa?
Qualquer pessoa que tenha passado por grandes empresas americanas ou européias sabe que para se tocar qualquer projeto são necessárias muitas, mas muitas etapas mesmo. Os caras fazem análise de risco, análise de mercado, múltiplas "peer reviews", simulações, análises de "break-even", estudos de ergonomia, especificações detalhadas, yada yada yada e assim por diante. Qualquer proposta exige pelo menos 60 pessoas envolvidas.
Há muitos, mas muitos mesmo, capitães para poucos marinheiros. Simplesmente há gente demais opinando sobre os rumos da empresa. A visão nestas megaempresas multinacionais é de que "quanto mais gente opinando, melhor". O resultado é pífio em termos de produto final. O risco é baixo e o retorno, idem.
Nas empresas brasileiras, em contraste, o número de camadas entre o desenvolvedor e o usuário é menor. Há poucos níveis gerenciais, as decisões são tomadas pelo "dono" da empresa ou da área e existe uma cobrança forte e bem embasada em números. O estilo gerencial do Banco Garantia, que permeou a Brahma (comprada por este nos anos 90) e posteriormente a Ambev/Inbev é lendário. Cobrança por resultados muito objetiva e nada de acomodação. Os belgas, acostumados com o estilo gerencial advindo da nobreza, ficaram horrorizados com a "crueldade" dos selvagens brasileiros no início, e hoje preferem o estilo dos sócios.
O mesmo está acontecendo em algumas empresas estrangeiras que vieram para cá e trouxeram seus executivos na bagagem. Atualmente estão revertendo a corrente e levando executivos brasileiros para suas matrizes. Renault/Nissan liderada por Carlos Goshn é um bom exemplo.
Este novo estilo, encontrado principalmente no Brasil e na Índia, foi apelidado de "Engenharia Frugal" por professores que estudam gestão. E o que diferencia a "Engenharia Frugal" do estilo de gestão tradicional? Eis aqui os principais diferenciais:
Fazer mais com menos: Como no Brasil existe escassez de capital – mas não de talento – nós transformamos uma fraqueza numa força. Conseguimos criar coisas do nada. Fazemos sopa de pedra todo tempo. Em qual outro país se produzem carros com até 112 CV com 1000 cilindradas?
Usar a criatividade: Ser capaz de usar criatividade e resolver problemas com soluções pouco ortodoxas é uma das principais características da EF. Se nunca foi tentado antes, não importa. Se foi, beleza, vamos fazer de novo e ver o que podemos melhorar. Inventamos o avião logo após os americanos, lembra?
Perguntar por quê: Brasileiros nunca fazem o que lhes é pedido. Eles sempre julgam o que vai ser feito, e se a coisa for meio inverossímil, não fazem. Na Ásia, por exemplo, isso não acontece. É contra a cultura deles dizer "não", e nem precisa explicar que lá os projetos vão até o fim com erros crassos que poderiam ser evitados logo na prancheta.
Vontade de trabalhar: Quem já trabalhou na Europa e nos Estados Unidos sabe que às 17:00 horas o cara simplesmente larga a caneta e vai embora. Essa coisa de latino indolente e caucasiano trabalhador é pura balela. Gostamos de nos empenhar no trabalho, curtimos a vitória e queremos crescer.
Simplicidade: Tudo que é complicado não funciona. Pessoas sem grandes complexidades mentais, mas com bom senso, podem trazer maiores benefícios às empresas. Suas soluções são mais simples, mais vendáveis e mais manteníveis. São mais facilmente compreensíveis pelo cidadão comum.
Em resumo, quando for reclamar de alguma coisa do Brasil, pense nisto antes de abrir a boca. Se você acha que isto aqui é mal administrado, nada funciona, viaje um pouco por destinos incomuns. Vai voltar outra pessoa... Este país ainda vai dominar o mundo...

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