Qualidade do ar em ambientes internos: A importância da análise para parâmetros e correção
Por Carla Legner
Edição Nº 134 - Maio/Junho 2025 - Ano 24
A qualidade do ar refere-se ao nível de pureza do ar que respiramos, determinado pela concentração de poluentes presentes na atmosfera. Esses, podem ser gases, como monóxido de carbono (CO), dióxido de nitrogênio (NO2), dióxido de enxofre (SO2) e ozônio
A qualidade do ar refere-se ao nível de pureza do ar que respiramos, determinado pela concentração de poluentes presentes na atmosfera. Esses, podem ser gases, como monóxido de carbono (CO), dióxido de nitrogênio (NO2), dióxido de enxofre (SO2) e ozônio (O3), além de partículas em suspensão, conhecidas como material particulado (MP), classificadas como PM10 (partículas com diâmetro de até 10 micrômetros) e PM2,5 (até 2,5 micrômetros).
A maioria das pessoas associa ar poluído à fumaça de carros ou indústrias, mas esquecem que o local onde mais passam tempo, sua própria casa ou trabalho, pode esconder riscos ainda maiores. Embora muitas vezes negligenciada, a poluição do ar em ambientes fechados pode ser até cinco vezes maior do que ao ar livre, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), se tornado uma preocupação crescente.
Os vilões dessa poluição invisível são variados: produtos de limpeza, tintas, móveis, cigarros, mofo e até mesmo equipamentos eletrônicos podem liberar compostos voláteis e partículas tóxicas que comprometem a saúde respiratória. A má ventilação agrava ainda mais o problema, permitindo que esses poluentes se acumulem.
Respirar ar contaminado diariamente, mesmo que em níveis baixos, pode causar impactos significativos na saúde ao longo do tempo. Entre os efeitos estão alergias respiratórias, agravamento de doenças como asma e bronquite, dor de cabeça constante, fadiga e até problemas cardiovasculares.
Além da saúde física, estudos recentes apontam que o ar interno poluído pode afetar o desempenho cognitivo, a qualidade do sono e a produtividade, um dado especialmente relevante em tempos de home office e ensino remoto. A boa notícia é que pequenas mudanças podem fazer uma grande diferença.
A ventilação adequada dos cômodos, a escolha de produtos de limpeza menos agressivos, a manutenção de filtros de ar-condicionado e o uso de purificadores são medidas eficazes. Ambientes com plantas também ajudam a filtrar impurezas e manter a umidade equilibrada. Ainda assim, especialistas reforçam que a conscientização precisa ir além das ações individuais.
É necessário que haja regulamentações mais rígidas e incentivo ao monitoramento da qualidade do ar em residências, escolas e espaços de trabalho. Medir a qualidade do ar em ambientes internos é uma maneira eficaz de identificar problemas invisíveis que podem afetar a saúde e o bem-estar.
“Quando pensamos em qualidade do ar interno, logo pensamos em ar condicionado e em temperatura do ar, mas é muito mais do que isso. O desenvolvimento de análises contribui para o conhecimento do nível de contaminantes físico, químicos, radioquímicos (radônio) e microbiológicos existentes no ambiente – e cada ambiente é único, com suas especificidades” - destaca Robson Petroni, especialista em qualidade do ar interior da Conforlab Engenharia Ambiental.
Identificando o problema
Segundo a OMS, as pessoas ficam cerca de 90% do tempo em ambientes internos. E é justamente nesses locais que podem estar escondidos poluentes invisíveis, mas perigosos, como dióxido de carbono (CO2), compostos orgânicos voláteis (COVs), monóxido de carbono (CO), além de poeira, ácaros, mofo e até partículas tóxicas suspensas no ar.
Esses elementos podem provocar desde irritações leves, como dores de cabeça, olhos ardendo e cansaço, e até problemas respiratórios mais graves, como alergias crônicas, asma e infecções. Ambientes mal ventilados também são um prato cheio para a proliferação de vírus e bactérias. Para os especialistas, monitorar e melhorar esse ar é uma forma de prevenção.
“A qualidade do ar de interiores é em função da qualidade do ar exterior, da presença e intensidade das fontes internas de poluentes e da capacidade do sistema de condicionamento de ar em manter a concentração destes poluentes em nível aceitável” - explica Jucélio Bruzzi, gerente técnico da Ecoar Monitoramento Ambiental.
De modo geral todos os ambientes internos devem ter a qualidade do ar avaliada periodicamente. Uma qualidade do ar inadequada contribui para o desenvolvimento de doenças, perda de produtividade, perda de cognição, redução da concentração, sendo responsável por milhões de óbitos todos os anos.
Segundo Bruzzi, todos os edifícios de uso público e coletivo que possuem ambientes de ar interior climatizado artificialmente devem dispor de um Plano de Manutenção, Operação e Controle (PMOC) dos respectivos sistemas de climatização, visando à eliminação ou minimização de riscos potenciais à saúde dos ocupantes. Os principais locais que necessitam da análise da qualidade do ar interno incluem hospitais e clínicas, escritórios e prédios comerciais, indústrias, escolas e universidades, shopping centers e hotéis.
Tudo isso é essencial em locais com grande circulação de pessoas para garantir condições saudáveis. Vale lembrar que, a análise é uma obrigatoriedade em ambientes climatizados de uso público e coletivo conforme Lei 13589/2018 (art. 3°). A norma que estabelece as diretrizes quanto aos métodos de ensaio é a ABNT 17037/2023, para ambientes de uso público e coletivo, e a NR15 para ambientes de trabalho.
O processo
O grande objetivo das análises é assegurar a existência de um ambiente saudável aos ocupantes, garantindo saúde, conforto e bem estar. Nunca um ambiente será livre de contaminantes, por isso a recorrência na realização das análises é um fator muito importante a ser considerado. Dependendo da criticidade, as análises devem ser realizadas dentro de menor intervalo de tempo.
O processo envolve a identificação e monitoramento dos poluentes. São realizadas leituras diretas dos parâmetros temperatura, umidade relativa, velocidade do ar, dióxido de carbono, partículas em suspensão PM10 e PM2,5, bioaressol (fungos viáveis e bactérias mesófilas), através de termo-higrômetro, anemômetro, medidor de CO2, contator de partículas por espalhamento laser e amostrador bioaressol de 1 estágio para coleta de fungos, seguida da incubação por 7 dias em meio de cultura e temperatura adequados.
Vale mencionar que, a norma ABNT NBR 17037:2023 estabelece os limites máximos para cada parâmetro, e caso os resultados não atendam aos respectivos limites, deverão ser tomadas ações corretivas como a manutenção do sistema de ar condicionado conforme o PMOC.
“O conforto térmico é sim muito importante, influenciando a vida das pessoas, mas não podemos deixar de citar que existem muitos contaminantes invisíveis e imperceptíveis aos nossos sentidos que podem causar graves problemas de saúde. Métodos incluem coleta de amostras, medições diretas e comparação com normas para identificar riscos e propor medidas corretivas” - complementa Petroni.
Ainda segundo ele, a análise da qualidade do ar interno deve ser realizada por um laboratório competente e acreditado junto à CGCRE na norma ABNT ISO/IEC 17025. Os procedimentos de análise podem ser desenvolvidos com sensores específicos e calibrados (análises in loco) ou através da coleta de amostras para desenvolvimento de um procedimento específico em laboratório.
Os métodos de análise e coleta de amostras são definidos por normas técnicas e variam conforme o contaminante a ser analisado. O resultado indica a presença de poluentes que impactam a saúde, a concentração (quantidade) desses poluentes, deficiências na ventilação e renovação do ar, riscos de contaminação microbiológica e são primordiais para o acompanhamento de desenvolvimento de políticas públicas e do plano de gestão da qualidade do ar.
Também é importante para o ajuste de sistemas de climatização e ventilação, controle de umidade para evitar desenvolvimento de mofo, redução de poluentes por meio de filtragem ou troca de materiais e produtos utilizados no ambiente.
Dentre os principais contaminantes encontrados no ar interior temos o radônio (principal causador de câncer de pulmão em não fumantes), partículas, alérgenos, vírus, bactérias, fungos, mofo, monóxido de carbono, ozônio, dióxido de nitrogênio, dióxido de carbono, formaldeído (potencialmente cancerígeno), benzeno (cancerígeno), pesticidas e amianto.
“A periodicidade da análise da qualidade do ar interno depende do tipo de ambiente e da regulamentação aplicável. No Brasil, a ABNT recomenda que a avaliação microbiológica e físico-química seja feita, no mínimo, semestralmente em ambientes climatizados de uso público e coletivo. No entanto, locais críticos, como hospitais e laboratórios, podem exigir monitoramento mais frequente. Se houver queixas de qualidade do ar ou mudanças no sistema de ventilação, análises adicionais podem ser necessárias” - explica Petroni.
Diante de todo esse contexto, é evidente que a realização desse processo é fundamental para proteger a saúde das pessoas, melhorar o conforto e bem-estar, aumentando a produtividade em ambientes de trabalho, e assegurar a conformidade com normas regulatórias e legislação, evitando multas e garantindo a segurança ocupacional.
Ademais, ainda auxilia na manutenção preventiva de sistemas de climatização, prolongando sua vida útil e eficiência. O gerente da Ecoar destaca que manter a qualidade do ar em ambientes internos ajuda na prevenção do que chamamos Síndrome do Edifício Doente (SED), que refere-se a um conjunto de sintomas que ocorrem em pessoas que trabalham ou passam longos períodos em um edifício, onde a qualidade do ar interno é insatisfatória.
“A identificação da SED é importante para a promoção da saúde e bem-estar dos ocupantes dos edifícios. Medidas como melhorar a ventilação, realizar a manutenção regular dos sistemas de climatização e utilizar materiais de construção menos tóxicos podem ajudar a mitigar os efeitos da síndrome” - finaliza Bruzzi.
Contato das empresas
Conforlab Engenharia Ambiental: www.conforlab.com.br
Ecoar Monitoramento Ambiental: www.ecoarma.com.br