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Tratamento De Água? É Tudo A Mesma Coisa!!!

O ser humano tem uma tendência interessante, mas às vezes perigosa, de querer simplificar as coisas. Nesse nosso setor de águas e efluentes é muito comum nos depararmos com pessoas (e empresas) que imaginam que existe um tipo padrão de tratamento de ág


O ser humano tem uma tendência interessante, mas às vezes perigosa, de querer simplificar as coisas. Nesse nosso setor de águas e efluentes é muito comum nos depararmos com pessoas (e empresas) que imaginam que existe um tipo padrão de tratamento de água capaz de resolver qualquer situação. Em geral, esse pessoal acaba se envolvendo em episódios bem desagradáveis.
Para escolher, projetar, construir e operar um sistema de tratamento de água, deve-se começar fazendo duas perguntas básicas:




Vejamos o seguinte exemplo: Imaginem que a água a ser tratada (água bruta) é a água do rio Tietê ainda dentro da cidade de São Paulo e a água que queremos (água tratada) é uma água para produção de compostos farmacêuticos e injetáveis, que deve atender ao padrão "WFI" ou "Water for Injection". Será que eu consigo realizar essa tarefa com um tratamento convencional do tipo floco-decantação seguido de filtro de areia?
Vejam que a água do rio Tietê dentro da cidade de São Paulo ainda é (infelizmente) muito poluída, com altas concentrações de compostos orgânicos e de elementos complexos derivados de atividades industriais. Vejam também que uma água de uso farmacêutico deve cumprir requisitos de normas específicas, como os que constam da norma norte-americana "USP" (United States Pharmacopeia), que é extremamente rigorosa e com limites de concentração muito baixos para cada elemento.
Pois bem, uma vez definido o que temos e o que queremos, vamos às duas próximas perguntas:




Costumo dizer que existem soluções técnicas para tratar qualquer tipo de água e qualquer tipo de efluente, para alcançar qualquer tipo de padrão, mesmo que sejam os mais rigorosos. O problema é que nem sempre tal operação se torna viável economicamente. O exemplo acima é um caso típico. O processo técnico capaz de fazer com que a água do rio Tietê possa ser utilizada como água "WFI" seria uma seqüência de tratamentos físico-químicos seguidos de microfiltração e desmineralização por membranas de osmose reversa ou resinas de troca iônica. Ocorre que, quando partimos de uma água muito ruím, o custo final do processo não o viabiliza, nem pelo valor do investimento, nem pelo custo operacional.
Vamos a outro exemplo: Agora a água que temos (água bruta) é água do mar e a água que queremos (água tratada) deverá alimentar uma caldeira que trabalha com 90 Kgf/cm² de pressão (alta pressão).
Observem que, enquanto a água do mar tem uma concentração de sais dissolvidos da ordem de 35.000 mg/L (ppm) e apresenta elementos orgânicos e microbiológicos típicos do chamado "fitoplâncton", uma caldeira de alta pressão precisa receber água praticamente livre de sais, principalmente daqueles de caráter incrustante como sílica, cálcio, bário, ferro e estrôncio. A qualidade da água para alimentar uma caldeira dessas precisa estar próxima da água pura (H2O).
Também neste exemplo, não conseguiríamos realizar a tarefa com um sistema convencional. Seria necessária uma sequência de processos físico-químicos seguidos de microfiltração e, sem dúvida alguma, membranas de osmose reversa especiais. Isso porque a pressão necessária para processos de osmose reversa é proporcional à concentração de sais dissolvidos e, para sistemas de água do mar, as pressões envolvidas estão acima de 40 Kgf/cm².
Com relação à viabilidade econômica deste caso, isso é algo que depende de diversos fatores. No Brasil, por exemplo, temos uma disponibilidade de água doce (rios, lagos, represas e poços profundos) ainda muito grande e os sistemas que utilizam água do mar não se viabilizam. Por outro lado, em países como o Chile, já existem diversas plantas de dessalinização justamente por não haver outra opção. Isso também ocorre nos países do Oriente Médio e em diversas outras partes do mundo.


Não existe um tratamento de água que atenda qualquer situção e a escolha do sistema mais adequado requer avaliações técnicas e econômicas cuidadosas. Não podemos subestimar as diversas variáveis que influenciam um sistema, alegando uma suposta simplificação. Estamos falando aqui em Engenharia de Processos e isso requer profissionais qualificados e experientes. Lidamos com saúde pública quando falamos em água potável e água para injetáveis, por exemplo. Também lidamos com grandes investimentos e custos operacionais quando falamos em processos industriais onde a água costuma ser um dos principais insumos. Ou seja, simplificar é bom mas com responsabilidade e com o devido suporte técnico.

Tratamento De Água?  É Tudo A Mesma Coisa!!!

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