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Não Devemos Abrir Mão Da Indústria

Tenho observado conteúdos na mídia brasileira, assinados por economistas e analistas internacionalmente famosos, sentenciando categoricamente à desindustrialização os países candidatos ao desenvolvimento.


Tenho observado conteúdos na mídia brasileira, assinados por economistas e analistas internacionalmente famosos, sentenciando categoricamente à desindustrialização os países candidatos ao desenvolvimento. Recorrendo ao laboratório da história, esses especialistas demonstram os exemplos dos Estados Unidos e da União Europeia, nos quais os serviços predominam no PIB e dos quais a manufatura migrou para nações menos prósperas, com mão de obra barata, despreocupação ambiental e custos genericamente mais baixos.
É o dogma da chamada sociedade pós-industrial, que se mostrou economicamente exequível antes da crise iniciada em 2008. Só economicamente... Afinal, sob o ponto de vista de uma ética global, é bastante questionável o oportunismo de transferir fábricas para nações que poluem, submetem seus operários a condições indignas de trabalho, manipulam o câmbio e fazem qualquer negócio, inclusive dando de ombros à propriedade intelectual e industrial, para ancorar seu crescimento na produção manufatureira.
Ressalva ética a parte, também é o caso de se questionar a lógica econômica da desindustrialização. A indústria desenvolve tecnologia, cria empregos de qualidade e de modo intensivo, acrescenta produtos e bens de alto valor agregado à pauta de exportações, detém patentes importantes para um país e contribui muito para sua independência produtiva. Portanto, é fator exponencial às metas de crescimento das nações emergentes neste século, reafirmadas pela presidente Dilma Rousseff e os chefes de governo dos BRIC, no encontro que mantiveram na semana passada, na África do Sul.
A crise mundial mostrou a importância da indústria na estrutura econômica, algo, aliás, pontuado pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, durante sua campanha à reeleição. Ele falou com todas as letras sobre a necessidade de repatriar a manufatura norte-americana. Sem fábricas e sem ter autonomia para ajustar a oferta à demanda, fica difícil criar empregos, gerenciar a economia e até mesmo controlar a inflação.
O Brasil, que vem enfrentando com razoável sucesso a crise internacional, parece, em tese, seguir a lógica da sociedade pós-industrial. Estamos quase com pleno emprego, conseguindo crescer, mesmo que pouco, como em 2012, e mantendo a economia dinâmica. Os serviços têm significativa expansão, o agronegócio avança, o sistema financeiro vai bem, mas a indústria recua. Não podemos nos resignar a isso. Dogmas existem para serem quebrados por governos, empresários, trabalhadores e povos corajosos, que não têm medo de mudar a história.
Pois bem, se soubermos garantir à indústria brasileira condições adequadas de custos (financiamentos com juros menores, menos impostos, racionalidade nas relações trabalhistas, câmbio equilibrado, segurança jurídica e menos burocracia), resgataremos rapidamente a sua competitividade.
Poderemos continuar trabalhando e criando empregos sob a ética da dignidade do capitalismo democrático, sem temer (e repudiando!) a concorrência daqueles que pagam seus trabalhadores com um prato de comida.


Não Devemos Abrir Mão Da IndústriaAntoninho Marmo Trevisan
Presidente da Trevisan Escola de Negócios, membro do Conselho Superior do MBC (Movimento Brasil Competitivo) e do CDES (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da Presidência da República).


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