Recuperação começou antes do esperado e segue em ritmo mais acelerado do que foi projetado
Automotive Business -
Para executivos da Bosch e MWM, houve excesso de pessimismo diante de uma crise sem precedentes
Botelho (esq.), da Bosch; e Luzzi, da MWM: saída da crise parece mais rápida do que era esperado
Para executivos da Bosch e MWM, houve excesso de pessimismo diante de uma crise sem precedentes
REDAÇÃO AB
A maioria das empresas maximizou os efeitos nefastos da pandemia de coronavírus e precisou replanejar 2020 e os anos seguintes com certa dose exagerada de pessimismo, sem qualquer base concreta, de forma excessivamente conservadora. Mas a recuperação começou antes do esperado, está em curso e segue em ritmo mais acelerado do que foi projetado, obrigando muitos a refazer as contas com visão mais otimista. Assim dois dos maiores fornecedores da cadeia automotiva enxergam o atual cenário. José Eduardo Luzzi, presidente da MWM Motores, e Besaliel Botelho, presidente da Robert Bosch Latin America, externaram essa convicção em um ano bem melhor à frente durante participação em painel on-line no #ABPlanOn, evento realizado por Automotive Business na quinta-feira, 27.
Passados os meses de março e abril, quando tudo parou, em maio e junho a indústria como um todo – não só a automotiva – já registou aumentos de 9% na produção em maio e junho, número que, para Luzzi, mostra que a crise não foi tão negra quanto parecia em princípio.
Como exemplo, ele citou o consumo de energia elétrica como indicador, como principal insumo e que baliza bastante a atuação da indústria. De janeiro a maio o consumo caiu 14%, com a indústria automotiva anotando consumo 53% menor, seguida da têxtil com 43%.
“De fato, o impacto foi grande, mas a economia já está ativada novamente”, afirma José Eduardo Luzzi, da MWM.
No setor de veículos pesados, onde a MWM atua, a recuperação já vem mais acelerada do que se imaginava, inclusive com algumas linhas com planejamento previsto para setembro e outubro acima do que se estimava antes da pandemia. “Neste momento, a empresa está replanejando, pela segunda vez de março para cá, mas com visão mais otimista.”
Para Botelho, da Bosch, o período de março a maio foi difícil, mas o pior já passou. “E sem perda de vidas, o que é mais importante, seguindo rigorosamente todos os protocolos necessários.”
Para ele, a rapidez com que o governo federal agiu, editando a MP 936 – com instrumentos de flexibilização de contratos como redução de jornada e afastamento temporário com parte dos salários bancados pelo Fundo de Apio ao Trabalhador (FAT) –, fez toda a diferença no processo para evitar demissões.
No geral, Botelho diz estar em linha com Luzzi, mas ressalta que a forte queda no acumulado do ano fez com que se perdessem três meses de faturamento na região – onde se inclui a Argentina em severa crise econômica desde antes da pandemia. Por outro lado, a Bosch tem um mix bastante favorável entre no fornecimento a fabricantes de veículos e mercado de reposição, que tem ajudado bastante na recuperação.
APELO AOS CLIENTES
O presidente da Bosch aproveitou a oportunidade e fez um apelo aos clientes para colocarem seus pedidos locais, com maior grau de nacionalização de componentes, pois os fornecedores têm capacidade para isso.
“Agora é a hora de vocês prestigiarem as indústrias aqui instaladas por todos os motivos já ditos e que todos sabem e, especialmente pelo câmbio favorável [à nacionalização]”, sinalizou Besaliel Botelho.
Para o executivo da MWM a preocupação com a pandemia no Brasil começou em janeiro justamente por causa do fornecimento de componentes importados vindos de locais que já estavam afetados pelo novo coronavírus. Isso acabou reacendendo a discussão sobre ter conteúdo local. “Nós sempre privilegiamos o que é desenvolvido no Brasil. A vantagem de desenvolver aqui é ter fornecedores por perto e não ficar tão exposto em momentos como esse, por depender tanto da importação.”
Na opinião do presidente CEO da Bosch, o mundo mudará após a pandemia do ponto de vista de como as empresas estão olhando os negócios globais. “A ‘desglobalização’ está sendo discutida em todos os mercados e isso é caminho para a nacionalização. No Brasil temos uma capacidade enorme instalada e de mão de obra. Temos que olhar para nós e aproveitar a oportunidade dada pelo câmbio. Precisamos buscar isso”, reforçou.
Na outra ponta, a exportação, no caso da MWM, está em boa fase. A busca da empresa em comércio exterior é constante e com o real desvalorizado há potencial importantíssimo a ser explorado. “Nossos envios de geradores para diversos países da América Latina, cuja estratégia estava prevista para 2021, já foi antecipada.”
Comprar onde é mais barato, após a pandemia, talvez não seja tão simples daqui para frente, ponderou Botelho, explicando que as exportações da Bosch têm permanecido na casa de 30% dos negócios, índice considerado ideal para que a empresa se mantenha saudável.
EURO 6, P8 E ROTA 2030
Euro 6 é diferente do Proconve P8, alertou José Eduardo Luzzi. “Até o Euro 5 a certificação era do motor. Agora é do veículo. Então, a integração entre montadora e fornecedor deve ser muito maior do que na fase anterior”, com quantidade muito maior de testes, validações e homologações, lembrou. A verdade é que a MWM já tem motor Euro 6 porque são utilizados pelos ônibus Navistar no México. “O produto nós já temos, mas a questão não é tão simples e esse entrosamento necessário precisa ser largamente trabalhado e testado – e isso demora”, destacou.
No Brasil o programa para desenvolver caminhões e ônibus P8 ainda está em desenvolvimento e a pandemia provocou atrasos irrecuperáveis, segundo Luzzi, devido à paralisação de todos os envolvidos no processo. “O teste de inverno, por exemplo, não foi feito porque ninguém pode viajar. Agora só no ano que vem.” Botelho concordou com o cenário descrito pelo colega.
Para ambos, neste momento, o mais eficaz para reduzir emissões de gases poluentes seria adotar um programa de renovação da frota, acompanhado das diretrizes estabelecidas pelo Rota 2030. “A pandemia trouxe alguns questionamentos, mas sou pragmático e acho que não podemos voltar atrás por problemas de caixa. Teremos algumas postergações, mas devemos ter olho clínico para o meio ambiente e a segurança veicular”, alertou o presidente da Bosch.
Quanto às expectativas para 2021, na MWM a projeção é de queda na produção de motores da ordem de 18% em 2020 e de crescimento de 30% para o próximo ano. A análise por parte da Bosch é de retração de 20% na produção de veículos no ano que vem em comparação com o nível de 2019, incluindo Argentina.
Por motivo de agenda Carlos Delich, presidente da ZF América do Sul, não pode participar do painel, mas enviou sua mensagem, via vídeo, afirmando que a empresa acredita que haverá incremento nas vendas de produtos de uma maneira interessante: “Não teremos uma recuperação em V, tampouco em U, e dependerá de uma série de considerações e de como será para cada cliente e para cada atividade na qual a ZF está inserida”, elencando a indústria automotiva mas também o agronegócio, construção civil e mercado de reposição.