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João Oliveira, presidente da Abeifa, faz estimativa de queda de 30% nas vendas de veículos importados

Presidente também falou dos rumos do setor


PEDRO KUTNEY, AB

Muito abalada pela expressiva alta do dólar e interrupção dos negócios causada pela pandemia de coronavírus, a Abeifa, associação que reúne 15 marcas de importadores de automóveis – quatro delas com operações de montagem no Brasil –, trabalha com estimativa de queda de 30% nas vendas de veículos importados este ano, o que reduziria o volume dos associados a apenas 24,5 mil unidades vendidas este ano, número ainda mais baixo do que os 35 mil de 2019, quando houve retração de 8% sobre 2018. A estimativa foi feita pelo presidente da entidade, João Oliveira, em entrevista da série Lives #ABX20 promovida por Automotive Business na quarta-feira, 27.

Oliveira avalia que o tombo calculado de 30% do setor de automóveis importados deverá acompanhar a mesma redução do mercado total de veículos leves no País em 2020. Isso porque todos os segmentos, em qualquer nível de renda, são afetados por igual pela falta de confiança trazida pela pandemia e inflada pela desarticulação do governo em combater a Covid-19. Mas o presidente da Abeifa reconhece que a retração poderá ser maior, a depender dos próximos passos dos entes públicos.

" Se existir dificuldade em demonstrar à população que a retomada das ativiades será segura, certamente a retração econômica será maior. As autoridades precisam alinhas suas ações em todos os níveis, para não confundir as pessoas se é seguro ou não voltar à vida normal. Isso será muito importante para definir o nível da retomada da atividade econômica", pondera João Oliveira.

O dirigente, que assumiu a presidência da Abeifa no meio de março, quando o furacão da pandemia tocou as terras brasileiras, afirma que até agora não tem notícia de nenhum associado que tenha decidido deixar o País ou fechar fábricas. Ele admite que alguns distribuidores que formam a rede de 450 concessionárias das marcas associadas já precisaram fazer demissões e que algumas lojas deverão ser fechadas em virtude da demanda reduzida nos próximos meses. Contudo, Oliveira avalia que o ânimo da maioria dos empresários do setor é tocar o negócio à frente, com expectativa que o mercado irá voltar a crescer.

Segundo Oliveira, a maioria dos importadores e concessionários evitou as demissões dos 7 mil empregados do setor, lançando mão de suspensão dos contratos de trabalho regradas pela Medida Provisória 936. “O problema é que a MP foi planejada para dois meses e está prestes a perder efeito. Como a suspensão de atividades ainda continua em vários estados e municípios, apoiamos que essa ação seja prorrogada. Ninguém gostaria de demitir agora, até porque vão precisar desses funcionários para a esperada retomada dos negócios”, diz.

PEDIDO DE REDUÇÃO DE IMPOSTOS

Em 17 de abril a Abeifa protocolou junto à Secretaria Geral da Presidência da República um ofício para solicitar medidas emergenciais para o setor, incluindo redução de alíquota de importação para automóveis de 35% para 20%, redução de IPI para incentivar as vendas, linha de crédito para capital de giro das empresas e diferimento de 120 dias no pagamento de impostos federais. Oliveira diz que agora foram atendidas as ações mais horizontais, que atingem todos os setores da economia, como o adiamento da cobrança de impostos, suspensão temporária de contratos de trabalho com pagamento de parte dos salários pelo governo, e algumas linhas de crédito para capital de giro de pequenas e médias empresas.

Faltam as medidas específicas, que segundo o dirigente encontraram “sensibilidade no governo, que reconhece a importância dos importadores de veículos” para introduzir novas tecnologias no País, atrair investimentos em futuras fábricas, aumentar a competição e regular preços. Oliveira conta que uma comissão foi criada no Ministério da Economia para analisar as demandas da Abeifa. “Estou otimista que o governo irá apoiar nosso setor.”

Entre as demandas em avaliação no governo, está o uso de créditos tributários acumulados pelos associados com operação de montagem no País (impostos federais e estaduais recolhidos que deveriam ser restituídos por concessão de incentivos ou exportações) para pagar os tributos de importação de carros, o que não é permitido. “São recursos que hoje os importadores precisam tirar do caixa para pagar impostos e nacionalizar os veículos, mas que poderiam ser pagos com esses créditos, sem perda de arrecadação para o governo. Por isso é uma medida que tem boa chance de progredir”, afirma Oliveira, que não sabe informar qual o montante desses créditos – segundo a Anfavea, a associação dos fabricantes, todas as empresas do setor têm R$ 25 bilhões a receber.

Sobre a redução do imposto de importação de 35% para 20%, Oliveira destaca que a medida é essencial para compensar parcialmente a alta do dólar, acima de 45% este ano. Essa redução, sozinha, não irá aquecer as vendas, mas pode evitar uma queda ainda maior que será causada pelo efeito cambial de gera inevitáveis aumentos de preços dos carros importados.

Para estimular o mercado, Oliveira defende que o governo deve lançar mão de redução do IPI, como foi feito em crises anteriores nem tão profundas quanto a atual. “O que pedimos é isonomia, que em caso de redução do IPI os veículos importados sejam igualmente beneficiados, ao contrário do que aconteceu no passado”, pontua.

DESEMPENHO MELHOR ANTES DE AUMENTOS DE PREÇOS

Oliveira afirma que, até agora, a pandemia afetou mais o desempenho dos importadores do que a galopante alta do dólar, porque muitas concessionárias foram fechadas e as vendas simplesmente não aconteceram ou foram reduzidas a patamares muito baixos. Em abril os associados da Abeifa venderam apenas 750 carros importados, em depressão de 64% sobre março. “A maioria das concessionárias trabalham com estoques para 45 a 60 dias. São veículos que vieram com o câmbio um pouco melhor”, informa.

Justamente por isso maio deverá apresentar resultado melhor. “Em abril nosso movimento foi de apenas 25% dos níveis normais de vendas, já este mês esse porcentual cresceu para 45% a 50%. Isso ocorre porque os preços ainda não foram reajustados pelo câmbio atual e alguns viram nisso uma oportunidade de comprar um importado antes dos aumentos”, conta Oliveira.

Segundo ele, a partir do mês que vem os reajustes serão inevitáveis, em porcentuais que partem de 6% e chegam a 16%, bem abaixo da variação cambial. Alguns importadores estudam, inclusive, aplicar os aumentos de forma escalonada. “Cada empresa vai usar estratégias diferentes para reduzir o impacto”, diz.

Mesmo para quem compra os automóveis acima dos R$ 300 mil vendidos pela maioria dos associados da Abeifa, Oliveira afirma que o cenário atual também retrai as vendas no segmento premium. “A crise chega mais tarde e com intensidade diferente para esse tipo de público, menos por problemas de falta de renda e mais por causa da falta de confiança que a situação atual provoca nas pessoas. Muitos desses clientes são empresários preocupados com o que está acontecendo com suas empresas, que neste momento preferem adiar qualquer tipo de decisão de compra”, avalia.

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