Tecnologia híbrida flex seria a mais indicada para o desenvolvimento econômico do país
Automotive Business -
Levantamento inédito aponta que tecnologia híbrida flex seria a mais indicada para o desenvolvimento econômico do país, mas tudo pode mudar
"Um mundo ideal", música que faz parte da trilha sonora da versão animada de "Aladdin" (1992), é até hoje lembrada. Se partirmos de tal premissa, a mesma canção, com novos intérpretes, em uma releitura live-action da película original deveria ter o mesmo impacto. Certo?
Ledo engano. A insípida banda Melim dá voz a uma nova versão da música, tão medíocre quanto a produção da Disney de 2019, estrelada por Will Smith, Mena Massoud e Naomi Scott. Mas, a leitora e o leitor devem estar se perguntando, o que isso tem a ver com um estudo sobre o protagonismo do Brasil na transição energética?
Ao finalizar o preâmbulo, e terminar os dois primeiros parágrafos com interrogações, respondo: o que está no papel, nem sempre, se concretiza.
Embora um sucesso de público, o live-action de Aladdin nada mais é que um filme esquecível, longe de ser memorável quanto a animação de 1992. Algo similar pode ser dito acerca do inédito estudo Trajetórias Tecnológicas mais Eficientes para a Descarbonização da Mobilidade.
O levantamento, encomendado pelo Mobilidade de Baixo Carbono (MBCB), foi realizado pela LCA Consultores em parceria com a MTempo Capital. De acordo com a pesquisa, o cenário que prima pela tecnologia híbrida flex, com ênfase, claro, no etanol, "tende a apresentar efeitos positivos na economia: diferença acumulada de R$ 2,8 trilhões no PIB e de 1,6 milhão na geração de empregos, em relação ao cenário que privilegia os veículos 100% elétricos".
Isso porque, além de outros fatores, os veículos elétricos (VEs) "irão depender da importação de componentes estratégicos para as baterias (células à base de lítio e outros minerais), cuja produção está fortemente concentrada em poucos países, em plantas industriais de elevada escala produtiva e fortemente apoiadas pelos respectivos governos locais".
“Não há sinais claros de que o Brasil possa ser receptor de investimentos para a produção local de células de bateria, o ‘coração’ dos veículos elétricos e componente de maior valor adicionado. A falta de escala e ausência de incentivos, relativamente ao que existe em diversos países desenvolvidos, são fatores que afastam do país estes investimentos a curto e médio prazos”, diz Fernando Camargo, sócio-diretor da LCA Consultores. Ele aponta ainda para a "dificuldade em definir qual rota tecnológica se mostrará mais competitiva para as baterias".
No ciclo "do berço à roda", híbridos levam vantagem
Ainda de acordo com o estudo, os veículos híbridos levam vantagem ante os puramente elétricos no ciclo "do berço à roda". Principalmente, a pesquisa faz questão de frisar, se o etanol estiver na equação.
Além disso, o biocombustível se mostra como um player de destaque capaz de colocar o Brasil na “vanguarda da descarbonização mundial”. É o que afirma Evandro Gussi, CEO e Presidente da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia) - representante do setor sucroalcooleiro.
“O Brasil tem vocação para ocupar a vanguarda da descarbonização mundial, algo que já vem acontecendo desde a década de 1970 com a criação do Proálcool (Programa Nacional do Álcool). Para continuar nessa trilha, basta combinar esforços e investimentos em tecnologia, produção própria e capacitação de pessoas, garantindo empregos e gerando renda”, diz o executivo, que também é conselheiro do MBCB.
Por fim, segundo Luciano Coutinho, sócio da MTempo Capital e ex-presidente do BNDES, “os resultados do estudo indicam que o cenário com predominância de veículos híbridos, além de propiciar redução expressiva das emissões de gases de efeito estufa, tende a impulsionar a economia brasileira e promover a criação de empregos de forma mais dinâmica, pois se preservam os elos da cadeia produtiva e se acrescentam novas tecnologias”.
Rotas múltiplas rumo à descarbonização
No entanto, o economista faz uma ressalva: o estudo não quer indicar uma rota “vencedora”. Coutinho garante que o levantamento pretende respeitar as estratégias de eletrificação das empresas no país e os anseios dos consumidores.
Ele também faz questão de salientar que todas as projeções foram feitas com base nas tecnologias atuais. Ou seja, os cenários, que caminham até 2050, levam em consideração o que temos hoje tanto para os híbridos e, especialmente, para os veículos puramente elétricos.
Em resumo: nada do que está no papel pode se concretizar. Talvez, assim como o live-action de “Aladdin”, seja um sucesso, por ora, de público - especialmente entre os stakeholders interessados na tecnologia híbrida flex e, obviamente, no etanol. Talvez não.
O estudo, embora interessante, assume o risco de se tornar algo irrelevante no longo prazo. Tal qual “Aladdin” de 2019. Até mesmo porque o levantamento leva em consideração “um mundo ideal”.
Talvez, e isso ainda não dá para precisar, o veículo puramente elétrico seja o grande clássico, o “Aladdin” de 1992, no futuro. O híbrido flex, por sua vez, poderá ter seus minutos de fama como uma tecnologia de transição para agradar a gregos, troianos, sucroalcooleiros e palacianos.
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