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Bosch segue apostando em um leque de matrizes energéticas

Em entrevista, Gastón Diaz Perez, CEO e presidente da companhia, fala sobre descarbonização e reflete sobre a importância do setor de autopeças


Paulo Braga

No quesito matriz energética, ao menos, a Bosch não tem religião. De acordo com o CEO e presidente da companhia para a América Latina, Gastón Diaz Perez, a empresa é "agnóstica". Isso significa que segue apostando em um leque de matrizes energéticas. O executivo salientou, inclusive, que seguem os investimentos na melhoria dos motores a combustão.

Gastón Diaz Perez abordou tal tópico durante entrevista que concedeu à Automotive Business. Na conversa, o presidente da Robert Bosch América Latina reflete ainda sobre a importância do setor de autopeças para a economia brasileira, as ações tomadas pela companhia a fim de vencer a pandemia e, claro, os esforços para a descarbonização.

Qual a importância do setor de autopeças para a economia brasileira?

O setor da mobilidade, onde está inserido o segmento de autopeças, é bastante significativo para a economia brasileira e representa mais de 20% do PIB industrial no país. A cadeia do setor automotivo é longa e isso reflete na geração de empregos, no movimento das atividades da indústria de transformação e de outros setores de forma direta ou indiretamente.

Além das vendas para as montadoras e mercado de reposição, a exportação também é um fator importante para nossa economia. Os investimentos e modernização das autopeças contribuem para o desenvolvimento tecnológico do complexo automotivo e agregam valor à indústria brasileira.

A pandemia provocou falhas na estrutura do setor de autopeças? O sistema just in time foi colocado à prova?

A pandemia impactou globalmente o setor de autopeças, assim como tantos outros setores pelas restrições de insumos, fechamento de fábricas, falta de componentes, além de conflitos que presenciamos em outras regiões.

Isso trouxe à tona algumas reflexões, entre elas a necessidade da nacionalização de peças e componentes, que é algo que a Bosch sempre buscou dentro do conceito “local for local”, ou seja, focando nas tecnologias e soluções que já estão disponíveis e com capacidade para atender às demandas da região.

Na Bosch, mapeamos toda cadeia de fornecimento até os precursores das matérias-primas consideradas críticas em nível local ou global. Para os produtos que utilizavam esses materiais que estavam em escassez, procuramos elevar temporariamente os estoques e fizemos um acompanhamento de perto, com times de compras e logística trabalhando juntos em modelo de força-tarefa.

No caso de matérias-primas e componentes que são comuns a outros países em que a Bosch está presente, houve um trabalho global de alocação, coordenado de forma central, olhando o supply chain até a ponta do cliente final. Trabalhamos de forma coordenada, conseguindo evitar maiores impactos em nossa produção e, principalmente, em nossos clientes.

Os investimentos do setor são suficientes para atender o crescimento? Serão suficientes para atender o desenvolvimento da eletrificação no Brasil? Quanto a Bosch deve investir no País?

Em 2023, a empresa planeja investir cerca de R$ 940 milhões na América Latina em pesquisa e desenvolvimento, digitalização, inovação e nas nossas unidades fabris.

No que se refere a tecnologia de powertrain, a Bosch é agnóstica e está moldando ativamente a mobilidade do futuro com investimentos contínuos em todas as áreas, como na melhoria dos motores a combustão, motores de alta eficiência com injeção direta e turbo, motores híbridos, elétricos e a hidrogênio.

 O Brasil possui todo um leque de opções para atingir a descarbonização em curto prazo, seja com simples aumento de uso de biocombustíveis motivado por iniciativas públicas ou privadas ou por hibridização, eletrificação e, no futuro mais distante, pela produção e utilização de hidrogênio verde.

Temos a segunda matriz elétrica mais renovável do mundo, modernos centros de pesquisas e desenvolvimento, as melhores universidades da América Latina, profissionais capacitados, fábricas e engenharias das maiores montadoras e autopeças globais instaladas na nossa região. Além de todas essas opções, somos privilegiados com o etanol, uma tecnologia que já está presente em mais de 80% da nossa frota de veículos, possui cobertura para abastecimento em todo território nacional, já contribuindo com a redução de emissão de CO2.

O segmento de autopeças tem contribuído para a descarbonização ou isso é um passo relegado para o futuro? A Bosch continuará apostando nas tecnologias para combustão?

Entendo que a descarbonização é uma questão global e diferentes setores estão trabalhando para contribuir com a redução de emissões. A Bosch está amplamente comprometida com a descarbonização. No campo da mobilidade, a empresa tem atuado no desenvolvimento de tecnologias de vanguarda nas áreas de combustão, híbrido-flex e eletrificação visando uma mobilidade urbana cada vez mais limpa. Isso inclui diversos sistemas, sensores que evitam e reduzem a emissão de CO2.

Na América Latina, a Bosch seguirá atuando ativamente no aprimoramento das tecnologias de etanol a combustão, híbridos e elétricos, especialmente nos veículos comerciais pequenos de entrega como o e-Delivery. Entendemos que o mercado brasileiro, especialmente por causa de suas dimensões continentais e diferentes características de consumo populacional e infraestrutura, tem espaço para a convivência lado a lado de diferentes tecnologias de propulsão por muitos anos.

Entretanto, vale ressaltar que avaliamos que o Brasil poderá ser o primeiro país a atingir as metas de descarbonização no mundo com a priorização do abastecimento com etanol. Neste contexto, destaco a tecnologia flex fuel – desenvolvida pela Bosch em meados dos anos 1990 e que em 2023 completa 20 anos desde o lançamento do primeiro carro com o sistema no mercado. Essa inovação 100% brasileira é um marco da engenharia nacional, além de ser sinônimo de economia, liberdade de escolha, versatilidade e respeito ao meio ambiente.

Recentemente também desenvolvemos o CO2 Tracking – tecnologia de conectividade que monitora em tempo real as emissões do veículo e a opção do cliente pelo uso do etanol. O objetivo é estimar a quantidade de CO2 que deixou de ser emitida ao utilizar o etanol, quando comparado a outros combustíveis. Esta solução digital tem o objetivo de conscientizar e possibilitar o entendimento do consumidor sobre o impacto positivo ao escolher o etanol no que se refere à redução da pegada de carbono no uso do transporte individual ou em frotas.

Qual o faturamento da Bosch no País?

Na América Latina, a Bosch alcançou R$ 10,3 bilhões de vendas em 2022, um crescimento de 11,5% em comparação com 2021. No Brasil, o faturamento da Bosch foi de R$ 7,8 bilhões em 2022 e as operações do grupo no país foram responsáveis por 74% do volume de vendas na região.

Qual a importância do mercado de reposição para a Bosch? Quanto do faturamento ele representa para a Bosch?

O aftermarket da Bosch vem crescendo de forma consistente nos últimos anos tanto no Brasil como na América Latina. Avaliamos continuamente o mercado e as oportunidades, além de buscarmos identificar as tendências e as expectativas do segmento para definir as ações de médio e longo prazo, bem como investir nossos recursos apropriadamente na cadeia de distribuição.

Também buscamos fomentar a digitalização no setor de reposição automotiva no Brasil, envolvendo todos os elos da cadeia, e diferentes iniciativas têm sido realizadas ao logo dos últimos anos, como: presença em marketplaces com lojas oficiais, desenvolvimento de sistemas e processos digitais para oficinas, tecnologias conectadas para manutenção veicular, investimento em plataforma de compra e venda de peças automotivas e capacitações para o varejo.

Um exemplo de iniciativas neste sentido é o Peça Aí – uma plataforma de compra e venda de peças automotivas para o mercado B2B, na qual a Bosch adquiriu 20% na participação da empresa. Esta parceria tem a finalidade de buscar soluções efetivas para as oficinas mecânicas no que tange à busca e compra de autopeças por meio de uma plataforma multimarca que favorece a correta identificação dos itens, agilidade de entrega e condições diferenciadas de pagamento. Além de oferecer um canal digital adicional para distribuidores e varejistas captarem novas oportunidades de negócios.

Outro exemplo é o DriveB, uma solução inteligente da Bosch para gerenciamento de frotas de veículos de passeio e comercial que conecta gestores, condutores e oficinas credenciadas de forma simples e prática em uma plataforma totalmente digital. Com isso o frotista tem a possibilidade de acompanhar todas as informações do automóvel no processo de manutenção preventiva e corretiva, mantendo total controle dos gastos de sua frota.

O setor da mobilidade é responsável por mais de 60% do faturamento da Bosch na América Latina e o aftermarket tem uma participação significativa neste resultado. Assim como já registrado nos anos anteriores, é esperado um crescimento no segmento de reposição automotiva na ordem de 13% para o Brasil e 17% para América Latina.

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