Governo Federal mantém o acesso das pessoas físicas aos descontos do pacote de incentivo à compra de veículos
Automotive Business -
Frotistas calculam perdas de R$ 500 milhões ficando de fora do pacote de incentivos à compra de automóveis
O Governo Federal manteve o acesso das pessoas físicas aos descontos do pacote de incentivo à compra de veículos zero quilômetro. Segundo o texto da medida provisória que deu vida ao programa, passados quinze dias da sua vigência os clientes pessoa jurídica poderiam usufruir dos descontos na compra de automóveis. Por ora, eles aguardam.
Aguardam e contabilizam prejuízos. De acordo com Paulo Miguel Junior, diretor executivo da Abla, que é a associação que representa parte das locadoras de veículos com operação no país, ficar de fora do pacote de descontos por mais 15 dias vai gerar perdas de cerca de R$ 500 milhões ao grupo representado pela entidade. O valor é o mesmo do recurso que Brasília (DF) aplicou para financiar os descontos nos preços.
"Fomos surpreendidos pela decisão do governo. Estávamos esperando a liberação. Com a medida, as locadoras continuarão sem comprar e vender carros, causando uma forte desvalorização dos seus ativos. As perdas podem chegar a R$ 500 milhões", contou o representante da Abla na quarta-feira, 21.
Interlocutores do setor informaram que manter o acesso aos descontos para os clientes pessoa física não representa necessariamente um aumento da procura por veículos novos por este grupo no mercado. A manobra poderia, segundo estas fontes, configurar manobra de cunho político, como uma espécie de reforço da ideia de que o pacote de incentivos foi concebido para beneficiar o cliente comum.
Na prática, por outro lado, o que se espera da medida é que ela movimente os negócios entre os clientes PJ, ou seja, os frotistas. A própria Anfavea, que é a associação que representa as montadora no país, sinalizou nesse sentido na semana passada, durante evento realizado na capital federal.
"Não acredito que o governo vá prorrogar o prazo para as compras exclusivas para clientes pessoa física. Os frotistas chegam forte a partir da primeira quinzena. São eles que sustentam a nossa indústria há algum tempo", disse na oportunidade Marcio de Lima Leite, presidente da entidade. Nesta semana, no entanto, ocorreu justamente o oposto do que se esperava.
Representantes das concessionárias, e até a própria Anfavea, afirmam que o fluxo de clientes nas lojas aumentou a partir da vigência do pacote de descontos, mas seguem os relatos no mercado de que o ritmo das vendas de veículos novos está na mesma toada daquela vista em meses anteriores.
Ainda que o processamento de licenças de veículos novos leve tempo, os números do Renavam acessados pela reportagem mostram que o volume segue em queda. Entre 1 de junho e segunda-feira, 19, os emplacamentos estiveram 13% menores do que aqueles aferidos em igual período em maio.
Pelos lados dos veículos usados, cujas tabelas de preços flutuam segundo as praticadas no segmento zero quilômetro, a situação também é de normalidade, segundo Enilson Sales, presidente da Fenauto, a federação que representa as revendas de veículos usados. Normalidade, no caso, seria um quadro de manutenção dos níveis de procura do cliente visto em outros meses.
"Ainda não percebemos nenhum número que fugisse fora do padrão esperado para junho. A medida do governo é tão de curto-prazo que talvez não venha a afetar as vendas do segmento de usados de forma a aumentar ou diminuir os volumes de vendas", contou Santos.
Até a quarta-feira, os recursos concedidos pelo governo às montadoras somaram R$ 400 milhões, ou seja, 80% dos R$ 500 milhões contingenciados para financiar o programa de estímulo ao consumo.
Para as demais modalidades do programa – compra de ônibus e caminhões –, as operações com pessoas jurídicas estão liberadas a partir da quarta-feira.