Adriana Akiko Yamaute, 47 anos, tinha apenas uma colega mulher quando começou a trabalhar na fábrica da Toyota em Indaiatuba (SP), em 2002. Atualmente no cargo de encarregada do controle de qualidade da unidade, ela tem vivenciado nas últimas duas décadas a transformação da diversidade na indústria automotiva – um ambiente historicamente masculino, mas que agora conta com cada vez mais profissionais mulheres. 

“Percebo bastante mudança nos últimos anos. Antes as mulheres não trabalhavam na produção e agora vemos elas atuando bastante na área da montagem, da pintura”, conta Adriana. “Não existe um rótulo mais. Elas estão provando que podem trabalhar na produção e isso me deixa esperançosa.” 

Nos últimos três anos, a participação feminina só na área produtiva na Toyota cresceu 1.000%. Inclusive, dos 450 funcionários contratados para a abertura do terceiro turno em Sorocaba, em 2021, 37% eram mulheres.

Diversidade dentro da filosofia japonesa

A fabricante japonesa é uma das montadoras que busca acelerar a transformação em todos os pilares da diversidade: gênero, raça e etnia, comunidade LGBTQI+, Pessoas Com Deficiência (PcD) e gerações.

“Diversidade e Inclusão apoiam a nossa estratégia ESG (Governança ambiental, social e corporativa) e ajudam a construir uma organização inovadora para o mercado, que reflete mais da sociedade e faz com que as pessoas se sintam parte da Toyota”, afirma a gerente geral de Recursos Humanos da fabricante, Juliana Fochi.

A Toyota tem planos e programas bastante contundentes neste sentido. Um dos objetivos é aumentar a participação feminina de 13,5% para 16% até 2030 em toda a filial brasileira.

Signatária dos WEPs (Princípios de Empoderamento das Mulheres) da ONU Mulheres, a Toyota desenvolveu um roadmap até 2025 para acelerar ações para atração e inclusão de talentos diversos, principalmente as mulheres. 

Diversidade na indústria: Toyota foca em workshop e conscientização

As ações de diversidade são endereçadas para toda a empresa através dos cinco grupos de afinidade, que apresentam workshops, desenvolvem campanhas de orientação e indicam melhores práticas para tornar o ambiente de trabalho mais inclusivo. 

“Nos workshops são abordados os vieses inconscientes e dilemas do dia a dia do trabalho como, por exemplo, tirar a mulher da posição de fala durante uma reunião ou atribuir a ela a função de fazer a ata de uma reunião ‘porque mulher é melhor fazendo isso’”, explicou a gerente de RH. 

Segundo Juliana, o objetivo é ajudar cada colaborador a fomentar e disseminar a autoconsciência de uma forma leve. “Trabalhar temas de diversidade e inclusão é delicado porque ninguém tem a intenção de não ser inclusivo. Então, trabalhamos com uma abordagem de amor , de empatia e de aprendizagem, que é um caminho em que todo mundo se encontra.” 

Em prol da inclusão das mulheres, são desenvolvidas ações de orientação para promover a saúde e bem-estar, como cartilha educacional, ações para combater a violência contra a mulher e campanhas de saúde, como o Outubro Rosa. 

Bem-estar pessoal

A empresa também adota políticas para equilíbrio da vida pessoal e profissional das famílias, como flexibilização de trabalho, auxílio-creche para todos os colaboradores, licença-maternidade estendida.

“Mais do que a conscientização lembramos as mulheres que elas têm apoio para cuidar da própria saúde, por isso realizamos campanhas de conscientização e incentivamos o autocuidado. A Toyota apoia, respeita e recomenda que as pessoas se cuidem mesmo no horário de trabalho, que façam as consultas e cuidem de sua saúde”, diz a gerente de RH.

Os resultados dessa transformação cultural são percebidos no dia-a-dia. “É uma transformação que acho que aconteceu de forma natural, não tem muita resistência. Estamos no caminho, mas infelizmente ainda vivemos em uma sociedade machista”, afirma a inspetora de qualidade Adriana.

As práticas da Toyota também foram reconhecidas pelo governo de São Paulo. Em março, a empresa foi certificada com o Selo Paulista da Diversidade, projeto para estimular a diversidade e inclusão em organizações públicas e privadas.

Diversidade: indústria tem desafios no chão de fábrica

No entanto, a jornada de diversidade é desafiadora. A inclusão de mulheres nas fábricas automotivas é um desafio comum ao setor. Para garantir a atração e retenção de talentos femininos, a marca japonesa diz que acompanha o tema de perto. 

Segundo a empresa, alguns líderes receberam um acompanhamento especial quando receberam mais mulheres para a produção. Além disso, os líderes monitoram constantemente a atração de talentos femininos. “Na Toyota mostramos que a diversidade é um ganha-ganha e que a liderança precisa estar engajada”, ressalta Juliana.

Outro desafio característico da rotina nas fábricas é incluir as colaboradoras, como a Adriana, em ações institucionais, sejam workshops, lives ou campanhas de orientação. Por isso, a Toyota tem feito ações diferenciadas com líderes e mulheres na operação.

“Tenho um pouco mais de acesso às lives, mas é difícil sair da correria da produção”, conta Adriana. “Recentemente fizemos um encontro com todas as mulheres do primeiro turno de Sorocaba e um encarregado passou o material para nós. Agora precisamos pensar em uma forma de abranger mais pessoas.” 

Para ela, as transformações dos últimos anos são apenas o começo da jornada de diversidade na indústria automotiva. “As pessoas estão mais engajadas e temos que continuar cada vez mais. O meu maior sonho é ver mais mulheres na liderança da produção.”