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Montadoras miram clientes corporativos

Anfavea reconhece cenário adverso aos consumidores pessoa física e espera alcançar projeções de emplacamentos por meio das vendas diretas


Bruno de Oliveira, AB

Mais de 1,5 milhão de veículos separam as montadoras instaladas no país da sua meta de emplacamentos para o ano, estimada em 2,3 milhões de unidades. Para o presidente da Anfavea, Marcio de Lima Leite, é preciso um ritmo de vendas de 10 mil unidades/dia para que ela seja alcançada até o final do ano. Uma jornada factível, segundo o representante, mas que inspira a sobreposição de uma série de desafios.

Um deles diz respeito à produção veicular, que ainda sofre com a falta de componentes nas linhas. O tema é a prioridade número um das montadoras, disse Leite, e inclusive é tema de discussões recentes mantidas com integrantes do Governo Federal. Na lógica das fabricantes, uma vez garantida a produção sem interrupções, será possível atender uma demanda que a Anfavea alega ser crescente.

No entanto, da mesma forma como não existem atualmente garantias de que haverá entregas regulares de chips, pneus, resinas e outros insumos nas linhas de montagem, também não há como cravar uma resposta do mercado aos estímulos comerciais das concessionárias. A própria Anfavea reconhece que o cenário de créditos e juros está avesso à situação do consumidor médio brasileiro.

“O nosso setor está ligado diretamente à taxa de juros e à disponibilidade de crédito. O perfil do consumidor mudou. Aquele que depende de crédito… é difícil. 36% de juro bancário ao ano, e uma exigência maior dos bancos para conceder crédito, para esse consumidor, sem dúvida, gera um arrefecimento na busca por veículos novos”, contou o presidente da Anfavea na terça-feira, 7.

Qual é a demanda?

A grande demanda a qual se refere o representante está represada em estratos sociais mais altos, nos consumidores que podem pagar à vista, por exemplo, e também no grupo das pessoas jurídicas, que consegue realizar pedidos compostos por grandes volumes. O que resta saber, e esta é a grande incógnita dentro das montadoras, é se esta fatia do mercado conseguirá proporcionar o ritmo de vendas esperado para chegar aos 2,3 milhões de emplacamentos planejados.

“Um dos nossos desafios no momento é justamente medir o tamanho dessa demanda, se ela está crescente ou não. Precisamos avaliar uma série de indicadores para, de fato, chegar a um cenário mais próximo da realidade”, explicou Leite.

Os números da Fenabrave, a federação que representa as concessionárias no país, mostram que as vendas diretas às pessoas jurídicas representaram fatia de 42% do total de automóveis e comerciais leves emplacados até maio. As vendas via varejo representaram os 58% restantes. Apenas em maio, as vendas diretas corresponderam a uma fatia maior, 48% do total emplacado naquele mês.

Revisão das projeções

O quadro econômico brasileiro em termos de juros, renda e inflação, ainda não ligaram o sinal de alerta nas montadoras a ponto de se cogitar uma revisão das projeções para o ano. De acordo com Márcio de Lima Leite, o panorama poderá mudar uma vez que as empresas sentirem que o nível de produção não será o esperado ao longo dos próximos meses, afetando obviamente as entregas de veículos na ponta.

“Para este ano, a questão da mudança do cenário não deve produzir reflexos nas operações das montadoras a ponto de se fazer revisões nas projeções. Se nós não conseguirmos evoluir nos assuntos ligados à produção conforme esperamos, será necessário, sim, um ajuste”, disse Leite. “Mercado é a discussão mais sensível que temos, mas não neste ano. O nosso maior problema é a produção."

Neste ano, a inflação aferida pelo IBGE no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foi de 12,13% no acumulado de 12 meses até abril. É a maior inflação para o período de 1 ano desde outubro de 2003, quando o porcentual foi de 13,98%.

No caso da renda média do brasileiro, dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, a Pnad Contínua, mostram que o rendimento médio caiu quase 9% entre março de 2021 e março deste ano. A projeção para a Selic -- a taxa básica de juros -- no fim deste ano continuou em 13,25% no último boletim Focus divulgado pelo Banco Central.

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