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CNH Industrial revela características essenciais para que a liderança automotiva atravesse a instabilidade atual

Vilmar Fistarol afirma que mesmo no contexto de baixa previsibilidade, é essencial não perder o médio e o longo prazo de vista


Pé no chão, flexibilidade para se adaptar e capacidade de encarar os desafios imediatos sem tirar o foco no futuro. Segundo Vilmar Fistarol, presidente da CNH Industrial para a América Latina, essas são as características essenciais para que a liderança automotiva atravesse a instabilidade atual e construa soluções para o médio e longo prazo. 

O executivo participou de reunião de reunião exclusiva para presidentes de empresas automotivas dedicada a debater os resultados da terceira edição da pesquisa Liderança do Setor Automotivo, realizada com 1,8 mil tomadores de decisão do segmento.

O estudo realizado por Automotive Business em parceria com Mandalah MHD Consultoria, traçou o perfil dos executivos e executivas do segmento, mapeou os objetivos e principais desafios desse grupo.

A preocupação com o longo prazo é prevalente entre a alta liderança, algo que pode soar um tanto paradoxal, já que esse foco ganhou força justamente durante a pandemia, que trouxe uma avalanche de questões emergenciais. Nas edições anteriores, a pesquisa evidenciou preocupações muito mais imediatistas (veja aqui).

A seguir, confira os principais trechos da entrevista com Fistarol:

A pesquisa mostra a baixa diversidade da liderança das empresas automotivas, que é predominantemente branca e masculina. Há, ainda, um grupo de 23% dos profissionais respondentes que admitem não ter interesse no tema diversidade e inclusão. Qual é a sua análise sobre o tema?

Quando começamos a olhar o tema, descobrimos coisas que vão muito além dos números, questões muito mais humanas. Há três anos, estruturamos o nosso comitê de diversidade e inclusão e começamos a envolver todas as diretorias por essa ser uma discussão absolutamente relevante. No processo, entendemos o que temos por trás da organização, como é o nosso recrutamento, a atração e a retenção de pessoas. Começamos um trabalho muito forte de conscientização da liderança para a questão da diversidade, com treinamento sobre vieses inconscientes.

Vemos na pesquisa que 23% dos respondentes não dão importância ao tema e é algo que mexe na liderança e na organização inteira. Por isso, recomendo que esse trabalho de diversidade seja encarado de frente.

Traz um retorno fantástico porque as pessoas começam a se dar conta não apenas de possíveis erros que cometem, mas também do que deixam de fazer de forma inconsciente e acabam reforçando desigualdades.

E como trazer a questão para a agenda estratégica?

Ao olhar para a liderança, entendemos que é absolutamente necessário estabelecer objetivos e assim fizemos. Falando de mulheres, hoje temos 64 profissionais em posição de liderança, em vários níveis, e nós queremos chegar a 100 em 2024. É o suficiente? Não, mas precisamos começar de algum lugar. Acima de tudo, o engajamento diário da liderança e de todas as pessoas da organização é essencial. 

Curiosamente, a pesquisa mostra que há uma atitude positiva da liderança mesmo diante da pandemia, com sentimento de resiliência, apesar do período de forte pressão e esgotamento com o home office e o cenário de baixa previsibilidade. Qual é a postura certa para esse momento?

Inicialmente, com fábricas paradas e todos em home office, foi de muita atenção e medo. Em seguida, veio o período em que começamos a nos aproximar das pessoas, a gerar uma sensação de confiança e segurança. Depois, vivemos momento de transformação e aceleração.

Demos continuidade a projetos importantes. Por exemplo, na área de customer experience, conseguimos evoluir mesmo com todos trabalhando a distância, ganhamos velocidade, mapeamos a jornada do cliente.

Ao longo de todo esse período, fiz muitas reuniões com diferentes equipes de várias regiões e acho que, no fundo, nunca estivemos tão próximos das pessoas como agora.

O lado menos positivo que a pesquisa também mostra está nas longas jornadas, na necessidade de equilibrar melhor as coisas. Agora, o momento é de entender como será a nossa jornada daqui para frente, de pensar em como garantir um futuro seguro para as pessoas e manter a proximidade que criamos na pandemia.

Esta edição da pesquisa mostrou um foco muito maior da liderança no longo prazo, que é uma mudança importante em relação à edição de 2019 do estudo. Há uma preocupação maior em construir soluções para o futuro. Como você avalia esse desafio?

Quando nós tomamos o susto da pandemia em 2020, definimos três pilares prioritários: a segurança das pessoas, a continuidade e garantia do negócio, com atenção ao fluxo de caixa, e o terceiro pilar foi atuar de forma proativa pela sobrevivência de nossos concessionários e fornecedores. Assim que passou esse primeiro momento, voltamos a acelerar com investimentos estratégicos.

Precisamos manter o foco no longo prazo mesmo com a dificuldade de tomar decisões com baixa previsibilidade. Tenho 40 anos de história na indústria automotiva e já vi crises todas as espécies, mas essa aqui é sem precedentes, porque afeta democraticamente todos os segmentos e pessoas de uma maneira devastante.

Daqui para frente, será necessário ter muito pé no chão e flexibilidade para encarar os próximos desafios e próximos passos sem perder a visão de médio e longo prazo.

ESG tem sido uma pauta muito presente no mundo dos negócios, mas nem tanto no setor automotivo. Segundo a pesquisa, só 30% das lideranças têm uma agenda definida com objetivos estratégicos e metas. Qual é a importância do assunto?

Como uma empresa global cotada em bolsa, temos um direcionamento forte nessa frente, o compromisso com a governança e com a sustentabilidade é absoluto. A parte do social tem um peso especial aqui na América Latina, já que é uma região que tem uma série de dificuldades particulares. 

Quando pensamos no legado da pandemia, a liderança automotiva aponta que foi um período de grandes aprendizados. Qual é o legado para você?

Quero crer que o legado nessa crise é foco no essencial. Inclusive dentro das organizações, do ponto de vista da produtividade, de resultado para o cliente final e de performance financeira.

Enfim, para as pessoas também. Se essa conversa acontecesse há dois anos, estaríamos presentes fisicamente, com tudo super estruturado. Hoje estamos nas nossas casas, à vontade, com liberdade. Mesmo com a volta ao trabalho presencial em alguma medida, já entendemos melhor o que é ter foco no essencial. 

Volto aos conceitos base da liderança e acredito que ser líder é servir e estar próximo das pessoas e, sobretudo, utilizar a inteligência coletiva a serviço de gerar melhores condições para a nossa vida, para a empresa, e ter melhores resultados. Enfim, garantir uma melhor vida para a sociedade como um todo.

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