Filtros em caminhões elétricos têm papel decisivo
Por Carla Legner
Edição Nº 137 - Novembro/Dezembro 2025 - Ano 24
A mobilidade elétrica deixou de ser tendência e já é realidade no setor automotivo. No Brasil, apesar de os carros de passeio dominarem as estatísticas, os veículos comerciais também começam a ganhar espaço, impulsionados principalmente pelas metas
A mobilidade elétrica deixou de ser tendência e já é realidade no setor automotivo. No Brasil, apesar de os carros de passeio dominarem as estatísticas, os veículos comerciais também começam a ganhar espaço, impulsionados principalmente pelas metas de descarbonização da logística e pelas pressões ambientais sobre o transporte de cargas.
Nesse contexto, os caminhões elétricos surgem como protagonistas de uma transformação silenciosa e limpa nas estradas e centros urbanos. Montadoras já lançam modelos voltados para operações urbanas, distribuição de última milha e até transporte de longa distância. Mas junto com essa nova tecnologia, surgem também dúvidas: como será a manutenção desses veículos? O que muda em relação ao tradicional caminhão a diesel?
Uma das respostas está em um componente discreto, mas essencial: os filtros. Se no motor a combustão eles tinham a missão de proteger o processo de admissão e combustão, no caminhão elétrico, assumem papéis diferentes, mas igualmente vitais.
Segundo Dennis A. Baião, gerente Sr de engenharia América do Sul da MANN+HUMMEL, em caminhões a diesel, os filtros têm foco em proteger o processo de combustão (ar, óleo, combustível). Já nos elétricos, a prioridade muda: o objetivo é preservar a integridade térmica e elétrica da bateria, da eletrônica de potência e do eixo elétrico (eAxle). Além disso, a eficiência energética ganha destaque, exigindo filtros de alta performance com mínima resistência ao fluxo.
A crescente eletrificação da frota de veículos comerciais, especialmente caminhões, tem levantado novas questões sobre a manutenção e os componentes necessários para garantir a longevidade e a eficiência desses veículos.
Embora a ausência de um motor a combustão interna elimine a necessidade de diversos filtros tradicionais, outros componentes de filtragem emergem como cruciais para o bom funcionamento e a segurança dos caminhões elétricos, ou seja, os filtros continuam indispensáveis para a operação segura e eficiente.
“A eletromobilidade está no centro das discussões atuais sobre o combate à poluição do ar causada pelos automóveis. Carros elétricos e outros veículos eletrificados desempenham um papel fundamental na mobilidade urbana sustentável. Sistemas de propulsão eletrificados reduzem as emissões de CO2 dos veículos e diminuem a poluição atmosférica por poluentes” – enfatiza Baião.
Mas, ainda segundo ele, o sistema de bateria precisa ser protegido de forma confiável, o que traz muitos desafios para os elementos e sistemas de filtração. O primeiro deles é o gerenciamento térmico adequado durante o carregamento e a operação da bateria é essencial para garantir vida útil e desempenho.
Outro ponto está nas grandes diferenças de pressão entre o ambiente e o interior da bateria devem ser evitadas para prevenir vazamentos ou até mesmo danos ao invólucro da bateria. Ademais temo as a contaminação no circuito de resfriamento pode causar perda de pressão e superaquecimento. “Filtros eficientes garantem sistemas de bateria de alta voltagem com desempenho consistente” – destaca Baião.
Quais filtros equipam um caminhão elétrico hoje?
Os caminhões elétricos mantêm alguns sistemas semelhantes aos dos convencionais, o que explica a presença de filtros já conhecidos do setor, mas ao contrário dos veículos a diesel, que dependem fortemente de filtros de ar do motor, óleo e combustível, os elétricos possuem um conjunto distinto de sistemas que requerem filtragem para garantir seu desempenho e durabilidade.
Embora grande parte seja herdada dos caminhões a combustão, os modelos elétricos trazem um destaque: os filtros ligados ao sistema de arrefecimento da bateria e dos inversores elétricos. Esses componentes, específicos da eletrificação, são fundamentais para a durabilidade e a segurança da operação.
Filtro de ar da cabine (ou do ar-condicionado): É responsável por garantir a qualidade do ar no interior do veículo, protegendo os ocupantes contra poeira, pólen, poluentes e outros alérgenos. Nos veículos elétricos, os filtros de cabine precisam combinar alta eficiência de retenção de partículas com baixa queda de pressão, já que qualquer consumo extra de energia impacta diretamente a autonomia.
Filtro da Bateria (VentPlus): Trata-se de um dos filtros mais importantes em um veículo elétrico. As baterias de alta voltagem geram calor e precisam operar dentro de uma faixa de temperatura ideal para garantir eficiência e vida útil. As unidades de ventilação M+H (VentPlus) controlam temperatura e pressão na caixa da bateria, mantendo a troca de ar e prevenindo entrada de água ou impurezas. Também atuam como dispositivo de segurança, liberando pressão de forma controlada em caso de superaquecimento.
Filtro do Sistema de Arrefecimento da Bateria (CoolantClean): Impede que contaminantes obstruam os canais de refrigeração, evitando superaquecimento e danos permanentes à bateria. Um filtro saturado pode elevar a temperatura em até 10 °C, acelerando a degradação das células.
Filtro de Transmissão: O eixo elétrico (eAxle) integra motor elétrico, eletrônica de potência e caixa de redução. Esse sistema utiliza óleo para lubrificação e resfriamento, e um filtro de óleo é essencial para remover partículas metálicas e contaminantes que podem causar desgaste prematuro.
Outros Filtros: Dependendo da configuração, podem ser necessários filtros adicionais em sistemas auxiliares, como direção hidráulica, GNV e freios a ar.
Comparando com os caminhões a diesel
Nos veículos a combustão, os filtros são voltados principalmente à proteção do motor (óleo, combustível e ar de admissão). Já nos elétricos, os filtros têm outra função, a de proteger sistemas de refrigeração e pneumáticos. Ou seja, a lógica muda: não se trata mais de preservar o motor, mas sim garantir a eficiência energética e a segurança de sistemas auxiliares.
Nos caminhões a combustão, os três filtros mais conhecidos são o filtro de ar de admissão, impedindo a entrada de poeira e partículas no processo de combustão; o filtro de óleo, que remove impurezas para evitar desgaste nas peças móveis do motor; e o filtro de combustível, responsável por garantir que o diesel chegue limpo e livre de contaminantes aos injetores.
Esses elementos são tão importantes que a vida útil de um motor a diesel depende diretamente da sua correta substituição. Basta um filtro saturado ou danificado para comprometer a queima do combustível, reduzir a potência, aumentar o consumo e até causar falhas graves.
Já nos caminhões elétricos, a lógica é completamente diferente. Como não existe o motor a combustão, desaparece a necessidade dos filtros tradicionais de óleo e combustível. Em contrapartida, surgem novas demandas de filtração, voltadas a sistemas que são o coração do veículo elétrico.
“Enquanto no diesel os filtros trabalham para garantir a combustão limpa e eficiente, no elétrico o papel deles é proteger sistemas sensíveis, reduzir riscos de falhas eletrônicas e preservar a eficiência energética”, explica Baião. Resumindo, nos caminhões a combustão, os filtros estão a serviço do motor. Nos elétricos, estão a serviço da energia e da segurança dos sistemas auxiliares. A lógica muda, mas a relevância continua a mesma — talvez até maior, considerando o alto valor das baterias e dos componentes eletrônicos.
Cuidados, manutenção e troca
Sem óleo e diesel para filtrar, pode parecer que a manutenção preventiva perderia relevância. Mas ocorre o contrário. Os filtros continuam desempenhando papel estratégico, mantendo a confiabilidade de sistemas eletrônicos sensíveis e protegem o condutor. Negligenciá-los pode resultar em sobreaquecimento da bateria, falhas no sistema de freios pneumáticos ou até desconforto e riscos à saúde do motorista.
“A manutenção preventiva em caminhões elétricos continua sendo fundamental. A ausência do motor a combustão não elimina a necessidade de inspeções e trocas regulares. Os filtros protegem componentes que são, muitas vezes, mais sensíveis e caros que os de um veículo a diesel” – enfatiza o Gerente da MANN+HUMMEL.
Ainda segundo ele, filtros inadequados ou saturados podem levar à perda de eficiência energética e até falhas catastróficas, como danos irreversíveis à bateria. Um filtro de óleo do eAxle inadequado ou saturado, por exemplo, pode gerar desgaste acelerado das engrenagens e falha completa da transmissão elétrica, com alto custo de reparo. Já um filtro de refrigeração saturado pode comprometer o sistema de bateria, reduzindo significativamente sua vida útil e levando a custos elevados de substituição.
Ainda não existe um padrão universal para caminhões elétricos, já que a frota está em fase de expansão. No entanto, montadoras e fabricantes recomendam inspeções em intervalos semelhantes aos caminhões a diesel. Operação urbana leve: 20.000 a 30.000 km; Operação rodoviária: 30.000 a 40.000 km; Operação severa (mineração, canavial, áreas muito empoeiradas): inspeções a cada 10.000 a 15.000 km.
É importante destacar que as condições de uso influenciam diretamente. Questões ambientais afetam a durabilidade dos filtros, ou seja, ambientes com poeira saturam rapidamente os filtros de cabine e de resfriamento. Vale lembrar que temperaturas extremas aumentam a carga térmica, tornando a eficiência dos filtros ainda mais crítica.
Deixar de trocar um filtro pode gerar custos altos. Um exemplo: um filtro de refrigeração saturado pode comprometer a circulação do fluido, provocando superaquecimento da bateria. Isso reduz sua vida útil, compromete a autonomia e pode até causar falhas críticas no veículo — um risco muito maior do que o simples desconforto de um ar-condicionado com filtro saturado.
De maneira geral, o processo de substituição não exige mão de obra altamente especializada. Profissionais já habituados a caminhões a diesel conseguem realizar a troca com procedimentos semelhantes. Porém, em filtros ligados ao sistema de arrefecimento das baterias, a recomendação é de serviço em rede autorizada, devido à sensibilidade dos componentes elétricos e eletrônicos.
“A troca do filtro de cabine é simples, mas outros sistemas exigem mão de obra especializada. Substituir filtros do sistema de arrefecimento da bateria envolve manuseio de fluidos específicos e trabalho próximo a componentes de alta voltagem, o que requer treinamento e equipamentos adequados” - complemente Baião.
Algumas montadoras já estão investindo e oferecem sistemas de filtragem mais modernos, projetados para reduzir a necessidade de manutenção. Há, por exemplo, filtros de longa duração que suportam períodos de uso muito maiores do que os convencionais, e até modelos concebidos para funcionar durante toda a vida útil do veículo, dispensando substituições periódicas.
Essas soluções costumam empregar materiais de alta eficiência e estruturas autolimpantes, capazes de manter o desempenho mesmo sob condições severas de operação. Por isso, é fundamental seguir as recomendações do manual do fabricante — tanto em relação aos intervalos de inspeção quanto ao tipo específico de componente indicado.
O uso de filtros não homologados ou a substituição fora dos prazos recomendados pode comprometer o desempenho do sistema elétrico, reduzir a eficiência energética e até afetar a garantia do veículo.
Contato da empresa
MANN+HUMMEL: www.mann-hummel.com